"Como Fazer Gente - Num canto qualquer de um quarto vazio amontoam-se livros, cestos, tapeçarias diversas, tudo em tons suaves e nas mais diferentes formas e tramas. Juntos compõem uma biblioteca. Nas prateleiras livros antigos misturam-se a novos. Um rapaz auxilia na busca do informe, do indefinido. Uma coleção de livros com capa dura branca desataca-se dos demais. São livros que ensinam como fazer algo. Não são manuais nem receituários. São saberes. Apanho um livro que diz “como fazer cereal”. Na capa tem um quadrado composto por grãos de arroz e pedaços de macarrão tipo espaguete. São cereais industrializados que representam o produto adquirido a partir dos ensinamentos do livro. Mas me interessa um único livro. O livro que possa falar sobre “como fazer gente”. No entanto, o livro está faltando. Foi emprestado a outra pessoa. Desanimo. Era o livro que eu queria. Bastava abri-lo e então teria acesso àquilo que ninguém sabia. Dou às costas à biblioteca e no mesmo instante mergulho num lodo. O barro sobe agarrando-se as minhas pernas. Sob a água suja pedras soltas, falsas, instáveis. Basta que eu pise numa pedra “errada” para sufocar em meio ao barro pesado. Observo imobilizada. Olho meus pés calçados com sapatos de madeira e ando dentro do barro por trás de um ônibus que está dando ré. Dou volta e entro num trailer. É uma sala de aula, um lugar mágico e envolvente, cheio de gente. Todas as almas centram suas atenções em um homem. Um homem negro, sorridente e falante que conta suas experiências para um público envolvido e embriagado pelas histórias. Ele vai contando suas aventuras como se estivesse retirando-as com as mãos de lugar algum. Conta com as mãos. Seu corpo todo sincronizado no que diz e, assim, até o que não é dizível é possível ser visto no seu corpo/sorriso. Seu filho, sentado entre os ouvintes, confirma sorrindo as ilusões do pai". - 26.07.99 - Autor Conhecido
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