quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O Silêncio, enfim, deu seu grito!

20.10.2010. Ponto. Hoje foi um dia intenso. Quero falar pouco. Começou antes das 7 da manhã, como em todos os outros dias. No meio da manhã, o veículo em que eu estava, encontrou com outro e, o que poderia ter sido um gravíssimo encontro/desencontro, resultou somente numa lateral do carro arrebentada e outros sustos mais. Segui em frente com outro veículo. Depois de alguns meses acompanhando o processo de tratamento de uma de minhas irmãs, para um câncer de mama, fui visitá-la, após a cirurgia que aconteceu no dia 18, segunda.
Cito isso, porque estou um pouco sensibilizada em ver minha irmã muito bem – apesar da cirurgia invasiva – e em ver os filhos lindos que ela produziu. Ela é uma pessoa que passou por sofrimentos muito duros e, ainda assim, não se tornou refém disso. Além do mais, foi ela própria que, no auto-exame de mamas, percebeu que havia algo estranho. Buscou auxílio especializado e, tendo o diagnóstico precoce, fez tratamento químico, seguido de bem-sucedida cirurgia.
O que vem agora, como tratamento, é algo que, para todos nós das classes populares, constitui-se em algo surreal. Somente um dos procedimentos do tratamento pós-cirúrgico, comporta a aplicação de 18 ampolas de um medicamento injetável. Quanto custa cada ampola? Quase doze mil reais! O total? Ultrapassa os duzentos mil reais! Só esta etapa do processo de tratamento pelo qual ela vem passando! Quem paga isso? O SUS! O SUS que cobre os gastos com todos os caríssimos tratamentos de todas as gentes (pobres e ricas... para usar termos bem vulgares!), e que os planos de saúde privados não cobrem! Quem produziu isso? Todos nós, através de nosso protagonismo e de uma coisa que ainda não cabe em nossas cabeças: uma coisa chamada democracia e participação popular!
Rasgo meu baixeiro desse jeito, para dizer que uma das coisas mais bonitas que acho, é a de ver a vida acontecer!
Durante muitos anos eu me calei, como muitos outros se calaram. Eu também elegi um governo de esquerda e esse governo me decepcionou em muitos aspectos, mas eu me calei, numa atitude hipócrita e covarde, pensando que o governo e a esquerda deveriam por si só serem retos e íntegros como se esperava que fossem. Eu também esqueci que todos os governos, além de serem feitos de discursos e de relações de forças, são basicamente feitos de gentes. De gentes feitas dos mais diversos naipes, algumas implicadas na luta das maiorias (não reproduzo a idéia de que a mais ampla e absoluta parcela de gentes constitua-se em minoria... somos maiorias!) e outras implicadas no individualismo traiçoeiro dos que pensam somente em si e em poucos! Apesar de entender que devemos ser todos protagonistas da vida que produzimos para o coletivo, eu me calei, como muitos outros se calaram!
A coisa bonita deste segundo turno das eleições presidenciais é isso: ver a vida voltar a acontecer! A vida, não tem segundo turno! Não há o deixar a vida pra depois! Nós que calamos durante tanto tempo, nos cagamos para nós e para o outro! Isso, agora, cobra o seu preço. Além de nos dar a ver o risco de que muitas pessoas acreditem que o Serra seja menos pior do que a Dilma e que, assim, nos joguem na cara o horror de nosso silêncio, elegendo-o, corremos o grande risco de não podermos rever nosso próprio protagonismo, ou, a falta dele!
Os intelectuais, os seres de esquerda, os ativistas, os seres participativos, entre muitas outras categorias, fomos, todos, somente binários acreditando que eleito o governo de esquerda, o serviço estivesse feito... esquecemos que o serviço estava somente começando... esquecemos que deveríamos ter sido absolutamente incisivos, críticos, atuantes, sérios, polivocais, atuantes,etcetcetc... agora, não é Dilma, não é o PT, não são os espaços institucionalizados que estão tendo uma segunda chance, com o segundo turno; ao contrário, somos nós que estamos tendo a segunda chance: todos os que se calaram e todos aqueles que, por nosso, silêncio, seguiram a tênue miragem de que Serra seja o menos pior! No fim dos cálculos, todos nós fomos os piores, tanto os que se calaram, quanto os que não viram... eleger Dilma, não é só evitar aquilo que não queremos, mas é, principalmente, nos permitirmos fazer o que sempre deveríamos ter feito!
Um grande abraço, num grito, do silêncio hipócrita e covarde que eu própria defendi!

6 comentários:

  1. Diello! Diello! Diello! Diello! Diello! Enfim, deu seu grito! O nosso grito! Não mais nos calemos!

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  2. Maria, a vida é coisa dessa ordem e dessa desordem. Andemos, porque como tu mesmo diz, a luta nunca tá ganha. É bom ouvir teu grito, assim a gente ve que não tá sozinho querendo gritar.

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  3. "grita forte, grita alto"... não que a vida vá melhorar, mas que ela deva acontecer. que ela, a vida, está aí... em nós conosotros... coloca as carnes para tremer... para que outros silêncios não sejam tão doloridos, como a ausência de gente, até porque "gente é outra alegria diferente das estrelas"

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  4. "E sabeis o que é para mim ‘o mundo’? Devo mostrá-lo a vós em meu espelho? Este mundo: uma monstruosidade de força, sem início, sem fim, uma firme, brônzea grandeza de força, que não se torna maior, nem menor, que não se consome, mas apenas se transmuda... quereis um nome para esse mundo? Uma solução para todos os seus enigmas? Uma luz também para vós, vós, os mais escondidos, os mais fortes, os mais intrépidos, os mais da meia-noite? – Esse mundo é a vontade de potência, e nada além disso! E também vós próprios sois essa vontade de potência – e nada além disso!" (Nietzsche)

    Bravo Maria!

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  5. olá, cláudia, lu, meu intempestivo pampeano e sabrina, estou habituada a ver as manifestações das pessoas por email... muitas vezes entabulamos longas conversas que,por cuidado, acabam ficando mais restritas... vendo os comentários bonitos por aqui, devo dizer que vi infinitamente mais comentários feios e desaforados por email... coisas muito precárias que nem gostaria de ver aqui, mesmo... pessoas com entendimento absolutamente limitado, preconceituoso e agressivo... mas acabo assumindo que foi muito bom ver tudo isso acontecendo, porque serviu para mostrar as coisas que eu não gostaria mais de ver no mundo em que vivemos! eu não gostaria de ter que retomar enfrentamentos que já superamos... só quem já vivenciou situações de preconceito e discriminação tem a mais exata noção disso... no mais, só tenho a dizer que a "potência de vida", a vitalidade, a vida acontecendo seja algo que nunca devemos cessar... é só por isso que estamos nesse mundo! no mais, seríamos ratos, não fôssemos gente... e sabemos o que fazem os ratos!

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