Para Depor o Podre Poder!
Hoje, mesmo sem tempo físico sobrando, não posso deixar passar a ventania e colocar os moinhos de vento pra funcionar!
Eu havia decidido que, neste pleito, não esboçaria qualquer imprecisão ideológica e política sobre as eleições, mas há uma entidade que me habita e que é mais forte do que eu própria. Havia decidido isso, simplesmente porque estou num tempo de revisão... de revisão da vida, da existência, das crenças (ideológicas, políticas, sociais, humanas, poéticas, profissionais, enfim, crenças de toda ordem)... de revisão, ainda, das coisas que passam por minhas vontades e por minha cabeça, das leituras que faço e desfaço. Assumo a convicção de que o trabalho das esquerdas deve ser um trabalho de formiguinha, cavando minúsculos túneis subterrâneos nas coisas que parecem brotar do chão e crescer com ares de naturalidade... e é esse o meu trabalho cotidiano, por onde ando e por onde passo... problematizando o que está posto e provocando mobilizações para a produção de outras formas de vida e de existenciar a vida!
Meu voto seria usado, neste ano, só com pretensões anarquistas. Meu olhar serviria somente para colher elementos para pensar e repensar o mundo e as coisas do mundo... mas aí a semana me premiou com umas tempestades devastadoras que arrancaram meus telhados e os de muita gente... começa com a vinda do segundo turno nas eleições presidenciais, passa pelas estranhas indecisas-decisões da Marina Silva, cruza com a manifestação da Maria Rita Kehl (e sua “demissão” pelo Estadão) e por muitas outras manifestações. Então pensei: enquanto as formiguinhas cavam os subterrâneos de todas as coisas e convicções, sem dúvida, o Estado deve estar mais forte!
Isso tudo me fez lembrar o espetáculo de rua “O Amargo Santo da Purificação – Uma Visão Alegórica e Barroca da Vida, Paixão e Morte do Revolucionário Carlos Marighella”, sobre a vida do revolucionário brasileiro Carlos Marighella (1911-1969) – sobre o qual fiz uma postagem anterior a esta... assisti essa apresentação no primeiro dia do Fórum Social Mundial deste ano, em Porto Alegre (nos próximos dias poderei postar uma série de fotografias feitas na ocasião) e ficou martelando em minhas idéias o Estandarte “DEPOR PODRE PODER”... os eventos desta semana estão me fazendo lembrar que a luta nunca está ganha... que a gorda-mídia-dominante é voraz e devoradora e come, todos os dias, nossos pensamentos, nossas idéias, nossos sonhos, nossas existências, nossa dignidade e a luta que lutamos dia-após-dia pra ganhar, sem contar, que banaliza a vida, quando faz dos efeitos do sistema que defende, o espetáculo que alimenta suas audiências, suas vendagens, suas publicidades... faz da miséria, da fome, da pobreza, da exploração, da usurpação daqueles que gosta de chamar de “excluídos”, para dizer que mora aí o perigo do qual todos devem ser defendidos... maquia o capitalismo devorador e diz que os pobres geram as mazelas sociais!
É essa gorda-mídia-dominante que reivindica uma tal liberdade de expressão que não é a mesma que vem de nossas tripas...galopa atrás do imperialismo de idéias e pensamentos que diz o que podemos-devemos pensar ou dizer... mas não queremos mais isso... portanto, Maria Rita Kehl, você não imagina com que estupor e concomitante alegria ouvi a notícia de sua demissão do Estadão, pois entre muitas outras coisas, esses pequenos atos nos fazem acordar e perceber que basta um cochilão e a ditadura volta com outras roupagens... Willian Bonner e Fátima Bernardes transformam-se em formosos bonequinhos, diante a vastidão do cenário que costeia seus topetes programados para modular os jornais nacionais... e que não me apareça o Eduardo Suplicy com ares tragicômicos, pedindo “com licença, Estadão, resgate a Maria Rita, pois ela é assimassim”... ninguém é idiota em pensar que haja ingenuidade no ato do Estadinho!
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E a Marina Morena!
Respeito tudo o que vem das florestas. A força, a vitalidade e a potência que vem dos ares da florestania, são o contraponto aos simulacros produzidos pela devastação capitalística... ou alguém há de achar bonito um imenso descampado tomado por monoculturas que servem pra tudo, menos para as pessoas comerem e sobreviverem? Alguém se levanta em defender a vitalidade dos imensos conglomerados urbanos, tecidos em aço e cimento? Alguém sente prazer em entupir suas narinas de fuligem?
A floresta tem essa coisa mágica da genuidade dos seres que a habitam... a água que brota num pedaço de qualquer lugar... os bichos que vivem suas existências naturais... as gentes que ali produzem somente para viver e não para depredar ou explorar... o ar que só percebemos quando nos falta... enfim, quando vejo Marina, tenho a sensação de que ela acabou de emergir da floresta... com certeza tem o direito de expressar sua dor e sua discordância com relação ao cenário político que ela própria ajudou a construir, mas ela representa muito mais do que isso... não representa apenas a sobrevivência na miséria social e econômica, nem a superação do analfabetismo, nem tantas outras coisas... Marina é um ser da floresta que carrega em si a vitalidade de que tanto necessitamos para vencer os dias e as noites!
Marina tem o direito de dizer que saiu com muita dor do PT... muitos outros também saíram com muita dor e isso serve para nos mostrar que a força, que o poder está nas gentes e nas relações que se tece, e não necessariamente nas instituições!
Digo essas coisas, pensando não naqueles que usurpam das coisas públicas em benefício próprio e de poucos, nem nos grandes exploradores, usurpadores e acumuladores capitalísticos, nem nos que se dizem de esquerda simplesmente para poderem alcançar as mesmas coisas que os bonecos capitalísitcos usufruem... digo essas coisas, pensando em tudo o que já se produziu para garantir pelo menos um pouco de dignidade para a maioria das gentes... e isso, com certeza, não é uma força, um vitalismo, uma intenção produzida pela direita ou pelo capitalismo, mas por cada um de nós e, se passa pelo Estado, absolutamente não é por um Estado governado pela direita!
Para Depor o Podre Poder das direitas vampiras e dos capitalismos devoradores é necessário um vitalismo produtor de resistência e de movimentos, e não de resignação ou passividade... podemos facilitar nossos caminhos, em vez de dificultar... marinas da floresta, marias rita demitidas pela gorda-mídia-dominante, execrados do sistema, explorados no que há de mais básico para a existência humana (a vida), desrespeitados no básico direito de expressar o que pensam, aviltados em sua dignidade, todos, sabemos por onde não ir!
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