domingo, 21 de fevereiro de 2010

Palavras vindas nas patas de um gato-preto

Estou em crise. Acho que tem um gato preto morando aqui em casa. Um gato-preto.



Durante muitos anos da minha vida morei em apartamento e desde o ano passado, moro numa casa. Meu sonho-bobo era de ter uma casa com fundos, porão e sótão. Por ora, consegui só uma casinha com fundos e um arremedo de porão, mas já dá pra fantasiar!


Não gosto de ter bichos presos ou domesticados em casa... acho que os bichos têm a vida deles e não devem ficar aprisionados às nossas necessidades.


Gosto das surpresas que os bichos me provocam todos os dias. Nos “fundos” (acho essa designação muito poética) aqui de casa há muito verde. Há um limoeiro. Uma laranjeira. Duas ramas de parreira. Um pessegueiro. Duas imensas roseiras. Uma touceira de uma planta bonita e que nunca lembro o nome. Afora todas as outras plantas de menor porte que fui plantando aos poucos.


É um território ocupado pelos pássaros e pelas borboletas... pombas, sabiás, joão-de-barro, corruíras, bem-te-vi, canários, pardais e outros mais, sem contar os beija-flores, sobre os quais falarei noutro escrito. Dia desses uma corruíra teve filhotes e num momento de descuido um gato da vizinhança os comeu! As pombas conseguem se virar melhor com os gatos, sem serem degustadas por eles!


Como a terra aqui é úmida e fornida pelos detritos orgânicos que lhe ofereço, é um território também de minhocas, onde os pássaros catam o alimento.


Na noite passada ouvi barulhos dentro de casa. Pensei que fosse um rato. Ao iniciar o dia, percebi que algum bicho havia entrado por uma janela que mantenho sempre aberta. Tentou subir na geladeira, mas despencou com tudo o que encontrou pelo caminho. Remexeu a lixeira. Pensei: fui invadida por um gato! Ao dar meia volta na cozinha, dei de cara com ele, olhando-me com uma fixidez quase humana, seguro, impositivo, quase dono do território. Assustei-lhe para que fosse pra fora. Foi, mas voltou em disparada, se aninhou em algum canto da casa e dali saiu bem mais tarde, quando, por algum outro susto, saiu em disparada. Pensei que tivesse tomado seu rumo. Mais tarde, mexendo nas plantas, deparei-me com o dito dormindo recostado atrás da touceira da planta de que não lembro o nome e desde aquele momento estou inquieta... que fazer se o gato escolheu o mesmo território que eu pra viver? Mas com o passar do tempo a coisa vai piorando, porque já comecei ter devaneios de que possa ser uma gata que tenha se aninhado ali pra ter filhotes e no meu imaginário os filhotes já tomam conta do território também.


O único pensamento que me acalma é o fato de ser um gato-preto. Respeito tudo o que é tratado como rejeite pelas convenções e pelas crenças. Respeito número 13. Respeito os que são jogados à margem da existência. Respeito os restos. Respeito o lixo. Respeito muitos outros rejeites. E respeito gato-preto também, mas agora que há um morando aqui em casa, não sei o que fazer com isso. Penso em consultar os horóscopos, pois deve ser prenúncio de alguma coisa. Vai saber?!

Nenhum comentário:

Postar um comentário