terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Ciscos de Poesia

Ciscos de Poesia

Penso que a taquara interpreta o som do vento e quando já não verdejam mais em suas touceiras, ribomba o som cristalino de sua alma seca. Pendurei-as no costado aqui de casa e sempre que o vento as procura, fazem os acordes de sua melodia.

Sempre achei que para alcançarmos algum estado de decência humana teríamos que conseguir a capacidade de transformar a realidade em literatura. Em ficção da existência. A realidade é uma loucura que nos atravessa as entranhas e estrebucha o viver.

Não sou escritora. Sou apenas uma escrevinhadeira, tradutora de existências. Meus primeiros escritos foram feitos em papéis de embrulho... Gosto de escrever de um lado só da folha/ na sua frente/ o verso fica em branco para poder dar lugar à prosa: ao que nunca é dito! Mas como escrever somente na frente da folha do blog? Talvez o seu verso esteja em cada um que lê!

Eu sei dizer muito pouco das coisas do mundo e do mundo! Escrevo com lápis de carpinteiro, porque risco na madeira dura o talhe de minhas palavras! Mas sei dizer muito da existência, porque nessa viajo há quase quarenta anos! Ela é dura comigo... e eu, dura com ela!

Na primavera, saio no meio da noite, com as luzes apagadas, para espreitar o cheiro da laranjeira-em-flor; flagro-a no exato momento em que exala de si o cheiro que lhe convém... queria ter essa sua destreza!

Talvez a vida seja isso: uma taquara que dá sentido ao vento. A realidade que nos cruz a mansidão. Uma folha sem verso. Um grafite que desenha nossas idéias. Uma flor/ um cheiro ciscado no sentimento de cada um.

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