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Hoje estou pensando nessas coisas, pois venho me deparando, em meu trabalho clínico, com incontáveis situações relacionadas à questão da maternagem e da paternagem, e, também, da filhação. Há os que dirão que talvez quase tudo que nos chega à Clínica seja vindo dessa teia. Talvez. Talvez.
E é pelas heranças que nos vêm feito ritornelo, ecoando em nossa existência, que se faz aquilo que fizeram de nós e aquilo que somos; portanto, a maternagem, a paternagem e a filiação, se fazem cruzar por essas heranças humanas... as heranças que recebemos e que escolhemos.
Quando a tradição clássica já não guia ortodoxamente nossos passos, podemos escolher muito mais, mas também corremos o risco de não termos ou não sabermos o que escolher. E parece-me que é isso que tem ocorrido com grande número das formações familiares. Cada vez aparecem-nos mais sujeitos, na Clínica, que chamo de vítimas do desenvolvimento guiado pelo exercício precário e miserável das condições de maternagem e paternagem, e que mal conseguem deambular na existência, muito menos, ensaiar passos firmes. São filhos de pais e mães cujas heranças também são precárias e miseráveis.
São muitos desses filhos extraviados humanamente e que se tornaram pais e mães, que nos vêm à Clínica procurar atendimento psicológico para os seus rebentos porque os mesmos estão brigando muito em casa, não obedecem, não querem estudar, não gostam da escola, buscaram nas drogas um alento para (des)existir, entre muitas outras coisas que resultam da precariedade humana com que são feitos os rumos de suas vidas. Essas coisas não se constroem na Clínica e sim, na existência, na vida, em meio àquilo que nos é dado herdar e escolher herdar humanamente. Como se faz isso? Talvez se trate de pensar e desenhar novos modos de vida guiados por valores outros que não os que uma tradição falida nos outorgou.
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