terça-feira, 5 de março de 2013

flecheira.libertária.284


o que já se chamou de populismo 
As Ciências Sociais no Brasil, em outros tempos, definia o populismo na América Latina como estratégia de conciliação de classes pelo Estado. Com isso, se via obrigada a elogiar a ditadura de Vargas como um projeto, embora autoritário, de fundação de um Estado moderno. Hoje, não é incomum ler intelectuais que elogiam o pastiche tupiniquim de Mussolini: a estratégia é outra. Em nome do compartilhamento das atividades de governo, as elites se juntam para fomentar os programas de governo e da sociedade civil organizada. Na prefeitura de São Paulo, o Conselho dos VIPs (como é chamado pela imprensa) é a explicitação dessa tecnologia de governo na racionalidade neoliberal. 
o governo dos vips
Seguindo estratégia já adotada por seu padrinho político no primeiro ano que ocupou a cadeira do governo federal, o novo prefeito de São Paulo criou um conselho municipal que funcionará como fórum para debater os programas de governo. Esse Conselho dos VIPs dá forma, mais ou menos institucional (e transparente), às tecnologias de governo compartilhado, há algum tempo operacionalizadas pelas parcerias público-privadas e pelos programas de care em todo planeta. A novidade do conselho é que ele organiza as demandas das elites superiores e inferiores. O governo municipal convoca todos a participar das melhorias na cidade, contando com a liderança e a responsabilidade das elites da sociedade civil organizada. aviso aos alternativos e apartidários jovens radicais 
Há alguns anos se comemoram as mobilizações de protesto e as pressões políticas, articuladas via internet, comandadas por grupos e associações que se dizem apartidárias, usando como principal estratégia a ocupação de praças. A composição de um Conselho de VIPs no governo municipal expõe alguns dos efeitos dessa mobilização de alternativos: sentam-se no mesmo conselho, o biônico reitor da USP, indicado pelo governador do estado, e um radical diretor de teatro. O próprio prefeito, quando professor na mesma instituição, também se opôs, em petit comité, à nomeação do reitor. Mas, se hoje ele é prefeito, os estudantes que ocuparam a reitoria na época são processados na justiça criminal... 
novas institucionalizações 
Assiste-se, hoje, à mobilizações planetárias de protestos e à criação de conselhos de elites. Adicione a isso o crescimento e a fusão de ONGs e Institutos; os últimos acontecimentos nas eleições italianas e a formação de partidos supostamente radicais, como o Partido Pirata, na Alemanha, e a Rede Sustentabilidade, no Brasil. Como já alertado nesse sítio eletrônico (ver hypomnemata 126), por ocasião das eleições presidenciais no Brasil, os alternativos participam ativamente do governo político, promovem hibridismo antes inimagináveis e, assim, colocam para funcionar um governo de sociedade. Este administra as desigualdades sociais e econômicas, monitora as inseguranças e busca a sustentabilidade econômica e ambiental. O discurso voltado para as “sólidas instituições democráticas” desloca-se do papel de formação de quadros burocráticos do Estado como tarefa dos partidos, na mesma medida em que se explicita que o governo não é atividade exclusiva do Estado. Ninguém se espanta com as incoerências. Contornam-se os escândalos para não obstruir o diálogo democrático.
metadoxil e o trânsito da lei seca 
Circulou por redes sociais e sites de notícia uma solução, isto é, uma droga, para burlar a atual Lei Seca. A droga chama-se Metadoxil, usada para recuperar a funcionalidade das células hepáticas e reduzir o tempo de exposição dos tecidos à ação lesiva do álcool. Não demorou para que o laboratório responsável por sua fabricação publicasse que seu uso não é capaz de enganar o teste aplicado pela polícia nas blitze. Motoristas espertos seguem em seu trajeto pelo trânsito, dispostos a tudo para driblar multas e apreensões de propriedade, mas sem a coragem para enfrentar a polícia, o proibicionismo, a chamada Lei Seca e os efeitos da sua universalização sobre certos hábitos. O Metadoxil, portanto, faz parte do funcionamento da lei e da polícia. É preciso afirmar outras práticas, liberadas, para abolir as blitze e sua política.

Nenhum comentário:

Postar um comentário