Boletim eletrônico mensal
do Nu-Sol - Núcleo de Sociabilidade Libertária
do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP
no. 132, abril de 2011
breves notícias aos piedosos do tempo e aos encarniçados do espaçoGuantánamo permanece repleta de suspeitos sem uma acusação convincente à military commision; a jaula da democracia estadunidense permanece apreciada pelos insensatos.
Levantes na Fundação CASA-SP são abafados, negociados ou pouco noticiados; desconsideram-se estes embolorados jovens em uma superestimada reforma.
A qualquer momento, jovens poderão sair às ruas para protestar sobre uma condição restrita, pela defesa de um local, árvore ou bichos, até mesmo para surpreender com uma inovação libertária; muitos estarão amparados por autorizações policiais; outros, por desconhecerem as leis e normas, polícia e prudência, transtornarão com o escândalo de suas existências.
Aumentam os empreendedores de si, e quanto mais jovens melhor. Vislumbram empregos e carreiras rentáveis, por meio de condutas que auxiliem o crescimento da economia, a expansão da segurança e a proteção da propriedade privada.
Qualidade de vida — melhorar as condições onde se habita: o meio ambiente, a casa, o bairro, a favela-comunidade, a escola, a prisão, a empresa...; gestão sustentável — o possível obrigatório a ser realizado para não reduzir lucros, baratear custos, incluir, higienizar a miséria, convocar para parcerias e se apropriar da autogestão como prática anarquista...; conectar seguranças — disseminar a prática diplomática sobrepondo-a a estratégias militares e policiais: a cara feliz da cultura da paz.
Na África, grande parte da população morre de AIDS; na China, milhões de trabalhadores são reféns das empresas que conectaram capitalismo, prisão e ditadura do proletariado; na Europa, o racismo de Estado se volta contra os refugiados e os chamados “imigrantes ilegais”, com a anuência dos cidadãos reconhecidamente europeus; na América do Sul tudo parece estar sob o colaboracionismo da “esquerda”; na América do Norte o muro separa estadunidenses de mexicanos alterando o relevo, continuando a prática governamental de anexação e separação análoga ao do muro de Berlin, com a presença dos “coiotes”; a América Central soçobra entre terremotos, ditaduras, oligarquias perenes, traficantes, Guantánamo e paraísos turísticos; o Afeganistão permanece indigesto; o Iraque, um estorvo; a Líbia, uma disputa; a energia nuclear contamina a partir de Fukushima... e faz-se crer em um certo controle do terrorismo, incluindo a morte de Osama bin Laden em operação do exército estadunidense.
Fala-se em descriminalização da maconha; quem fala: autoridades de ex-presidentes e usuários de classe média com pendor universitário organizados em “marcha”, renovando a moral pela ciência e pelo aporte da conveniência médica; o que não falam: de liberação, do lucro dos bancos, de indústria armamentista, polícias, dispositivos eletrônicos, da necessidade capitalista de continuar com tráfico e prisões; que legalizar a maconha não abala em nada o tráfico e suas lucratividades, tampouco a moral proibicionista; que o tráfico é prática fundadora do capitalismo.
O combate ao terrorismo mudou de estratégia: não se intervém mais, porém fomentam-se pequenas mobilizações democráticas em fluxos com o auxílio de programação eletrônica; a Internet e suas conexões sociais deixaram de ser efeitos da criação militar para se metamorfosearem em propulsores da democracia e da diplomacia, pretendendo um “ecossistema eletrônico”. Guantánamo, lentamente, já pode ser esquecida.
Os jovens e as crianças começam a amar a nova escola com suas pedagogias, inclusões na “comunidade” e participação em decisões; capturados pelas enciclopédias eletrônicas, programações, games e redes, conformam-se em uma grandiloquente algaravia de ventríloquos exaltando a cultura popular globalizada e, simultaneamente, periférica.
Ruas e avenidas monitoradas garantem o fluxo de veículos e passeatas pelas metrópoles; a Internet habilita protestos a quaisquer políticas; os indigentes zonzos vagam dia e noite e se lhes oferecem albergues, ongs, tetos, colaborando para a limpeza da cidade em constantes restaurações e revitalizações de “zonas degradadas”.
Certa vez, um filósofo alertou aos jovens de hoje que eles terão de descobrir ao que servem, como seus antepassados sentiram a dor de descobrir a finalidade das disciplinas.
Fala-se de uma nova política criminal, mas não se fala de abolição de cárceres para jovens: estar dentro ou fora da prisão é quase indistinguível.
Qualidade de vida, gestão sustentável, conexão entre seguranças, cultura da paz com tolerância redimensionando a felicidade capitalista, compõem uma cartografia propícia às resistências ao controle; onde estão os encarniçados habitantes do espaço? Os espaços são disputados pelos piedosos seculares!
A palavra de ordem da diplomacia é reformar com moderação, para provocar a participação contínua e reduzir a potência de resistência de cada um à impotência diante do inacabado.
A guerra tornou-se ação coletiva dos Estados em nome da “ordem internacional” capitalista, democrática e globalizada: intervenções pontuais e “saneadoras” contra ditadores ou regimes outrora úteis, agora anacrônicos ou obsoletos.
Um dia, se cuidará da saúde dos africanos aidéticos, os bilhões de trabalhadores melhorarão de vida, os refugiados indesejáveis serão remetidos aos Estados remetentes, os guetos e favelas se assustarão com sua condição de incluídos, outros muros cairão, os governos indigestos serão palatáveis, não haverá mais “Estados falidos”, o terrorismo desaparecerá, um ou outro assassino dizimará pequenas massas e, cansados da vida, todos terminarão medicalizados no paraíso. Eis o sono tranquilo dos piedosos do tempo que embala o sonho dos utópicos de todas as bandeiras! Eis o real pragmático dos encarniçados que disputam os espaços!
Diante disso, como se atualizarão a Comuna de Paris, o 1º de maio, a eclosão das revoltas, explicitando como não serviremos às finalidades do controle?
capturado em: http://www.nu-sol.org/hypomnemata/boletim.php?idhypom=159
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