quinta-feira, 5 de abril de 2012

o futuro é hoje e somos nós que o fazemos!

hoje está sendo um dia histórico, em meio a um processo e a um movimento também históricos. sempre bastante racional em minhas reações emocionais e afetivas, até mesmo nos momentos e nos acontecimentos mais poéticos, hoje eu engasguei e chorei. chorei de emoção e de alegria. chorei de poesia. chorei de movimento. chorei de acontecimento. chorei de estar ali em meio aos meus colegas de trabalho que também estavam lá presentemente e por completo. nunca vi tamanha força entre nós. nunca senti tamanha força nas andanças dos trabalhadores públicos municipais de cruz alta!
hoje o dia amanheceu conformado à previsão do tempo: fechado, nublado e chuvoso! mas mesmo assim os trabalhadores aos poucos foram tomando a praça e, na vinda do temporal, ocupamos o território da câmara de vereadores, onde também aconteceria a sessão extraordinária que votaria o projeto de reposição salarial, sendo que os vereadores se comprometeram em votar conforme ao que seria decidido pelos trabalhadores e assim o fizeram, unanimemente!
sempre é tão difícil produzir acontecimentos disparadores de movimento entre nós trabalhadores públicos e a paralisação anunciada há alguns dias parecia que não teria muito gás pra sair de si... mas ela foi tomando forma, foi tomando corpo, foi tomando ideia e se tornou um potenciamento, se tornou potência... vitalizados, todos os trabalhadores que estavam participando do movimento de paralisação estavam concentrados na praça pública em frente à prefeitura, também acompanhando os desdobramentos das negociações e produzindo as decisões que deveriam ser tomadas. a decisão final tomada foi fruto de todo esse processo!
ponderamos, avaliamos, propusemos negociação, apresentamos alternativas, mas infelizmente não restou outra alternativa a não ser recusar a proposta que nos foi apresentada!
colocamos na pauta de conversação e negociação, os seguintes pontos:
- foi proposto reposição de 6,5%, parcelada em duas vezes (abril e agosto) e auxílio alimentação totalizado em 181,00... propusemos reposição de no mínimo a inflação histórica, ou seja, 7,08% (IPCA) em abril + auxílio alimentação totalizado em 200,00;
- nomeação de uma comissão paritária (governo+trabalhadores) para analisar o orçamento e o quadro de pessoal, para propor cortes de despesas e de pessoal;
- efetiva implantação do Plano de Carreira, Cargos e Salários do Magistério Público Municipal;
- agregação dos educadores de escolas infantis ao Plano de Carreira, Cargos e Salários do Magistério Público Municipal;
- imediata contratação de empresa para assessorar a produção do Plano de Carreira, Cargos e Salários dos trabalhadores da Política de Saúde.
sobre a reposição, reconhecemos que o orçamento público municipal encontra-se no limite máximo de gastos com pessoal, portanto, de nada adiantaria fazer cortes de despesas em outros campos da estrutura pública, assim, restaria colocarmos na pauta de negociações a forma possível para ampliar a margem desse limite para assim ampliar a reposição. assim o fizemos e fomos solenemente chutados em nossa proposição. fomos chutados porque a única alternativa que vimos, seria o corte de CCs, de CCs disfarçados de Contratos Emergenciais, de Estagiários, de Convocações desnecessárias e a não concessão de reposição ao primeiro escalão. sobre isso nos foi dito que cruz alta nem tem tantos CCs quanto outras comunidades (sendo que nem estávamos discutindo a reposição dos trabalhadores públicos de outras comunidades) e que a maioria dos CCs recebe a remuneração mínima prevista! quem aventou isso, sequer considerou a não necessidade ou capacidade de grande parte das pessoas que ocupam esses cargos.
no mais, quando o presidente do sindicato colocou na mesa a exclusão do primeiro escalão da reposição, tivemos que ouvir a pergunta sobre se dormiríamos tranquilos, sabendo que todos os trabalhadores receberam "aumento", enquanto o prefeito e os demais que passaram dias e dias queimando pestana pra encontrar um índice viável de reposição, acabariam sem receber... bueno, nesse instante, com um argumento assim, não resta mais o que conversar e sim, só resta o que diversar... oraora! o que choca nisso? pessoas cuja totalização da reposição resultaria em valores situados entre 400 e 700 reais, estão bem à frente da grande maioria dos trabalhadores cuja totalização resultaria em pouco mais de 30 pilas! ou seja a totalização da reposição desses que não poderiam ficar sem ela, equivale ao valor total da remuneração da maior parte da patuléia! isso dói!
é claro que reconhecemos todos os avanços que tivemos ao longo das duas últimas administrações... o auxílio alimentação praticamente dobrou de valor... vínhamos recebendo pelo menos a reposição da inflação... o Piso Salarial do Magistério Municipal vem sendo gradativamente implantado... nosso salário nunca atrasou... recebemos o auxílio alimentação na metade do mês... mas também tivemos muitas perdas!
tivemos perdas que não são sanadas com reposição salarial e nem com aumento real dos salários! tivemos perdas em nossa dignidade! grande parte dos trabalhadores perdeu o apreço por si e vive na vala comum do esquecimento!
quando a administração se depara com a falta de qualificação de muitos trabalhadores concursados, em vez de viabilizar processos de formação e educação permanente no trabalho, investe na contratação de serviços privados!
a administração tem investido muito em formação para CCs e Contratos Emergenciais, enquanto os trabalhadores nomeados tem que ralar por conta própria!
vemos espaços de trabalho atravancados por pessoas que não tem ou não sabem o que fazer, ou que estão ali só pelo emprego (CCs e outros quetais), enquanto em muitos outros espaços falta trabalhadores para atuar!
vivenciamos um momento histórico em que estamos mostrando para o governo e para a comunidade toda que não é só o dinheiro que nos interessa (do qual muito necessitamos pra viver no sistema capitalístico), mas que queremos principalmente respeito e que, acima de tudo, estamos resgatando nossa voz, nossa luta e nossa dignidade!
é importante que todos os trabalhadores públicos municipais de cruz alta tenham presente, em suas caminhadas, que os movimentos sejam fundamentais para a produção de autonomia, de protagonismo e de práticas de liberdade... historicamente sempre recuamos em nossos passos, pois não nos acreditávamos capazes de produzir andanças... porque sempre nos convenceram de que os "funcionários públicos" sejam vagabundos (como foi largamente enunciado por alguns integrantes do Governo durante os dias de paralisação... os mesmos que sempre dependem de um cargo político pra terem renda... sim, renda, porque raramente trabalham).
sabemos que sempre teremos que lidar com as questões de poder e de governo ao longo de nossa atuação em espaços públicos... sabemos que, se estamos atuando numa instituição pública, temos que lidar com os afoitos por poder e empafiosos incorrigíveis... mas não queremos mais ter que lidar com arrogantes que se acham donos da prefeitura e que saem a dizer que continuarão ocupando o paço na próxima gestão, não tendo que se preocupar com as nossas reivindicações, pois "funcionário não faz ganhar eleição" e que quem o faz seja "o povão" (esse distinto senhor que disse essa estultice, se diz de esquerda!!!!!)... que saiba, então, esse senhor que propalou esse discurso, que se trabalhador público não faz ganhar eleição, pode fazer perder... pode, também, fazer anular uma eleição e isso é o mais provável que aconteça, pois estamos sem alternativas de candidaturas à prefeito, pois se não temos mais esquerda em que poderíamos votar, também jamais votaríamos na direita (pelo menos a maioria de nós não votaria!)!
assimassim, muitos colegas que escolheram não participar do movimento de paralisação, ao saberem da rejeição à proposta do governo, saíram a reclamar que queriam o dito "aumento"... ficaram pra trás, pois a luta não se faz de alienação... a luta não se faz com a bunda na cadeira... a luta não se faz de passividade... a luta não se faz de acomodação... a luta não se faz de silêncio... a luta é uma peleia que nunca cessa de acontecer e, no atual momento e nas atuais condições, aceitar a proposta de reposição feita pelo governo, seria dar o orçamento do custo de nossa dignidade! sabem agora, que nossa dignidade não tem preço e não está à venda!
agora estamos tecendo a pauta do movimento permanente dos trabalhadores públicos municipais e isso se faz fundamentalmente importante neste ano eleitoral, pois servirá para mostrar ao próximo gestor que não somos mais os acuados de antanho, que dependiam de "representantes" pra falar! temos nossa própria voz! temos nossas próprias pernas! temos nossas próprias ideias e ideais!
os trabalhadores que ainda não estão nessa toada, podem ir se agregando... porque viver e escolher os caminhos que queremos trilhar, é o que temos de mais bonito... porque a força que circulou entre nós nos últimos dias, é uma força que temos dentro de nós, em nossos pensamentos e nossos movimentos!
enfim, hoje eu vivi um dos momentos mais belos de todo o tempo em que venho trabalhando na prefeitura municipal de cruz alta... vendo a praça e a câmara de vereadores tomada pelos trabalhadores... sendo atravessada pela intensidade da energia que produzimos juntos, com nossa coragem, com nossa alegria e com nossa força... vendo a expressão de incredulidade estampada na cara daqueles que estavam habituados a nos verem como mendigos e que não acreditavam que estávamos recusando o "aumento"-migalha, o "aumento"-esmola que nos ofereciam... enfim, acabei por ficar feliz em ser vista como vagabunda... trabalhadora-pública-vagabunda-sem-direito-de-reinvindicar-meus-direitos... trabalhadora-pública-vagabunda-que-não-se-encaixa-nas-molduras-dos-loucos-por-poder... se ter dignidade é ser vagabundo, então eu sou uma vagabunda... aliás, sempre fui uma vagabunda nômade que consegue escapar ao riscado desenhado pelos arquitetos da opressão e da dominação! o futuro é hoje e somos nós que o fazemos!

4 comentários:

  1. A dignidade não tem preço mesmo, os carguistas é que tem preço!

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  2. HOJE NÃO TÁ UM DIA MUITO BOM E APROVEITEI PRA FAZER UMA VISITA PRA UM AMIGO DE CONVERSA BOA.LÁ PELAS TANTAS ME CHEGA UM CONHECIDO DELE QUE É CC NA PREFEITURA. COMO A GENTE TAVA FALANDO DA GREVE, O CARA SE LARGOU A FAZER DISCURSO SEM NEM SABER DIREITO O QUE EU PENSO.DISSE CATEGORICAMENTE QUE OS SERVIDORES ERAM TUDO UNS INGÊNUOS E QUE SE DEIXARAM ENGANAR PELO SINDICATO QUE SERIA MANOBRADO PELO PMDB.EU JURO QUE EU QUIS ESGUELAR AQUELE BABACA QUE SE ACHA O ENTENDIDO EM "MOVIMENTO SOCIAL".ELE É O TIPO DE ENTENDIDO QUE ACHA QUE PODE CATEQUIZAR OS "INGÊNUOS" PRA QUE FALEM O "DEVEM FALAR".
    ISSO FOI A COISA MAIS TRISTE QUE OUVI NOS ÚLTIMOS TEMPOS.QUANDO OS SERVIDORES CONSEGUEM FAZER UMA RESISTÊNCIA SÃO CHAMADOS DE INGÊNUOS E OS EXPERTS EM POLITICA JA PENSAM QUE TINHA UM PARTIDO POR TRAS DA GENTE.SERÁ QUE A GENTE É MESMO ESSE BANDO DE INCAPAZ QUE OS EXPERTS ACHAM QUE A GENTE SEJA?SERÁ QUE A GENTE TEM QUE APRENDER A SER SEM VERGONHA QUE NEM ELES?SERÁ QUE É SÓ ESSAS MERDA DE PARTIDÁRIO QUE TEM O DIREITO DE PENSAR?SERÁ QUE NÃO É LEGÍTIMO O QUE SENTIMOS E QUE REIVINDICAMOS?
    DESCULPA MARIA PELO DESABAFO MAS É QUE CHEGUEI E ENCONTREI OS TEUS POSTS AQUI E ME ALIVIEI UM POUCO.
    BOA LUTA PRA NÓS!

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  3. São essa gente que tá na administração que faz as cagada e quando o cidadão critica isso é tachado de tudo que é coisa, daí eles tem que dá um jeito de desmoralisar quem critica pra ficar parecendo que eles são os certo.
    Criaram duas secretaria pro PSB, a do turismo e a do esporte e lazer. Uma pro Dellabosta, a da cultura. Uma pro PTB a da habitação. As coordenação de meio ambiente pro PCdoB. A de direitos humanos pra uma família intera. Tão empregando tudo quanto é filiado mesmo que não saiba coisa nenhuma. E ainda querem que a gente olhe essas barbaridade e fique quieto. Bando de safado!

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  4. Maria Luiza apoio todas as tuas palavras, acho que tão importante quanto nossos salários realmente é o respeito, respeito as nossas condições de trabalho, ao que fizemos diariamente tentando dar o nosso melhor em tudo. Somos guerreiros e por muito tempo calados, sofridos. É uma pena que tenhamos que parar tudo para sermos vistos. E tomara que a sociedade reconheça os nossos valores e não somente nos critique por esta atitude a que fomos obrigados a tomar.

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