terça-feira, 30 de outubro de 2012

flecheira.libertária.272


balancinho eleitoral: uma dúzia
As abstenções finalmente invadiram as pautas dos analistas político-eleitorais. Por que tanta abstenção? Porque: 1) esse povo não aguenta mais a mesmice; 2) está cagando e andando para o voto obrigatório e responde pagando a taxa estatal em cartório para não se ver prejudicado como trabalhador; 3) tem mais o que fazer do que perder o tempo em filas para digitar números de candidatos repaginados, anular ou deixar em branco; 4) sabe que votar é manter as coisas como estão quando quer mudanças; 5) sabe que votar nulo não é mais maneira de contestar a obrigatoriedade do voto na falaciosa democracia brasileira; 6) não quer ser governado; 7) quer ser governado e pouco importa o governante: 8) compõe um conjunto heterogêneo e de difícil mapeamento; 9) o assunto vai virar dissertaçãoe tese de alpinistas acadêmicos; 10) domingo fez sol; 11) todas e nenhuma das anteriores; 12) diga qual foi a sua. 
resistência guarani-kaiowá
Diante  do despacho da Justiça Federal para que certos índios abandonassem suas próprias terras, retomadas de proprietários, os  guarani-kaiowá do  tekoha denominado  Pyelito Kue/ Mbarakai, publicaram  uma carta, na qual, anunciam ao governo como decretarão  sua “morte coletiva”. Disseminada por blogs e redes sociais, a carta gerou protestos e publicações pelo planeta. Frente à preocupação crescente com o possível suicídio dos guarani-kaiowá, um líder do Pyelito Kue/ Mbarakai, Apykaa, afirmou que a “morte coletiva”, exposta no texto, não significa dar cabo da própria existência. Se for para a gente se entregar, nós não nos entregaremos fácil. É por causa da terra que estamos aqui, nós estamos unidos com o mesmo sentimento e com a mesma palavra para morrermos na nossa terra. Esta terra é nossa mesmo! (...) Nós morreremos se os fazendeiros atacarem. Ao contrário do suicídio, a “morte coletiva”, frente ao acossamento pelo Estado, proprietários e jagunços, afirmou a perspectiva de uma resistência vital.
para além do direito
Sob o efeito da publicação da carta, representantes da Justiça do Mato Grosso do Sul pronunciaram-se em nota explicando que a liminar expedida era referente à “manutenção de posse” e não de reintegração, isto é, a liminar servia  somente para reiterar  e lembrar os  guarani-kaiowá de que os proprietários daquele solo, segundo o Estado,são os fazendeiros.  Todavia, a  ardilosa distinção técnica, que escancarou ainda mais a escusa articulação entre proprietários e a Justiça, não alterou o ímpeto de resistência guarani-kaiowá. Mesmo sob alvo da violência amparada pela aliança entre os canalhas de toga e proprietários com seus jagunços armados até os dentes, um antigo guaranikaiowá, sentado sob o tronco de uma árvore,  bradou:  esta terra não é dos brancos, é nossa e de nossos antepassados.
para além do território
A nota emitida pela Justiça somente atestou a continuidade das violências contra os índios. Pouco se comentou, mas precisamente na mesma semana da sua publicação pela Justiça do Mato Grosso do Sul, uma jovem do Pyelito Kue/ Mbarakai, foi estuprada numa propriedade próxima, quando voltava do centro de Iguatemi em direção ao tekoha. Não é de hoje que certas mulheres  guarani-kaiowá são estupradas por proprietários e seus seguranças. Não é de hoje que índios são expulsos de suas terras e covardemente assassinados. Não é de hoje. A violência abominável contra os índios cresceu, precisamente e ao mesmo  tempo, com a criação do território chamado Brasil.  
elas não vão parar
Após apuração de recurso, uma das integrantes presas do  Pussy Riot, teve sua sentença revogada. Yekaterina Samutsevich foi posta em  liberdade condicional  no último dia 10 por, não ter participado,  formalmente, da manifestação política] na Catedral, pela qual ela e a mais duas pussy riots foram condenadas a dois anos de prisão. No mesmo dia em que saiu da prisão, deu entrevista a um renomado jornal estadunidense. Em meio a uma série de perguntas tolas, foi questionada: “você diz que vai continuar com seu protesto. Mas veja, você esteve na prisão por tantos meses e há cada vez mais leis e outras coisas que dificultam protestos na Rússia. Você não está com medo?”. A jovem russa respondeu que em momento algum, nem mesmo agora, teve medo e que, além das questões políticas que elas combatem continuarem em jogo, suas amigas seguem presas e isto é insuportável. Com um sorriso, acrescentou que apenas será “mais esperta” para não ser pega de novo. E a luta das pussy riots não cessa.
nós também não
Na semana passada, as outras duas  pussy riots presas foram enviadas pelo governo russo  a dois “campos de trabalho” no interior do país – os campos de Mordovia e Perm que, entre muitos outros, serviram para extrair força de trabalho, sangue e vísceras de milhares de pessoas durante o período da Ditadura do Proletariado. A justiça russa ainda não se pronunciou oficialmente sobre o caso e  a imprensa internacional não dá  notícia. Talvez porque a continuidade dos  gulags  sirva bem à produção capitalista; porque as pessoas não se incomodam com castigos e prisões; porque as torturas e mortes que  a partir  deles, impreterivelmente, seguem, e perpetuam ditaduras e democracias. Nadezhda Tolokonnikova e Maria Alyokhina estão encarceradas! Na Rússia e em cada canto do planeta milhões de pessoas estão presas! Como é possível que apenas para tão poucos isso seja insuportável? Será que só a filha de Nadezhda, uma criança de quatro anos, desenha rotas de fuga com escavadeiras para derrubar os muros da prisão e soltar a sua mãe?

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