sábado, 14 de março de 2015

flecheira.libertária.375

mulheres 
Há variadas versões para a “origem” do Dia Internacional da Mulher. Desde o incêndio em indústria têxtil de Nova York, que culminou na morte de centenas de operárias, no início do século XIX, até protestos de mulheres na Rússia no momento da eclosão da I Guerra Mundial. Nos anos 1960, militantes atualizaram a data visando animar o fogo de combates liberadores. Na década seguinte, a ONU formalizou a data como celebração das “conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres”. Antes e depois da origem e da data cívica, mulheres extraordinárias combateram o macho, a polícia, o Estado, e a política reivindicatória de direitos. Há quase um século, Emma Goldman, anarquista fichada pelo governo dos Estados Unidos como a “mulher mais perigosa da américa”, afirmou: “é certo que o movimento pelos direitos da mulher quebrou muitas cadeias, mas também forjou novas. A efetiva emancipação não surgirá das urnas de voto nem dos tribunais”. 
frequentando os direitos 
A publicidade, descolada ou caretona, voltada às mulheres independentes e às mulherzinhas, aposta na solenidade. À imperdível oportunidade de lucro, agora se soma a valorização de uma conduta socialmente responsável. A mulher está incluída no mercado como consumidora, produto, trabalhadora e/ou empreendedora. A mídia celebra as de mulheres de sucesso e expõe corpos e vidas violentados das demais como exemplos dramáticos de histórias tristes. As militantes marchadoras entoam palavras mofadas em seus protestos caquéticos. Cumprem agendas para serem visualizadas como minoria pluralista, obediente e tolerante. As oportunistas condutas machistas continuam a calar, violentar, exterminar e governar. E, de repente, aparecem repaginadas como masculinismo!!! Para coroar, mais uma conduta é criminalizada como crime hediondo. Isso é que dá querer frequentar. 
comida 
Uma rede internacional de parques de diversão inaugurou neste verão uma sede em um shopping da cidade de São Paulo. Criado no México, nos anos 1990, o Kidzania imita uma grande cidade, estimulando crianças de 4 a 14 anos a escolher sua futura profissão e a consumir fielmente determinadas marcas ali espalhadas. Em recente entrevista, o criador do empreendimento (presente em 10 países e com mais de 10 milhões de visitas) declarou: “o parque em formato de cidade é uma potente plataforma para se criar lealdade às marcas nessa sociedade de consumo”. Seguindo a premissa time is money, o Kidzania possibilita aos pais gastarem pelo shopping enquanto seus filhos aprendem, ludicamente, como administrar créditos. Pais e filhos, crentes no capitalismo e na força da grana, desfilam carnudos, rosados e ocos. Despertam a fome dos miseráveis. 
cereja no bolo 
Todos os domingos milhares de pessoas se locomovem madrugada a dentro para visitar seus parentes ou amores sequestrados pelo sistema penitenciário. Em São Paulo, a imensa rede carcerária, que se espalha também pelo interior, suga gente do Brasil inteiro. A grande maioria é composta mulheres, pretos ou quase pretos e pobres. Carregados de sacolas de comida em vasilhames transparentes ou sacos plásticos, procuram estar de acordo com as regras, estabelecidas pela polícia do Estado ou pelo PCC e similares. Desejam evitar maiores incômodos, constrangimentos e penalidades. Prontos para entrar, passam pela humilhante revista íntima, proibida pela legislação. Dizem que as visitas são necessárias para o processo de ressocialização. Com ou sem legislação a família é parte constitutiva da prisão desde o século XIX.

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