domingo, 1 de março de 2015

flecheira.libertária.372

quem é o dono? 
Na América Latina um grupo de e-mails coordenado por El Libertario, da Venezuela, existe há mais de 15 anos como fórum pelo qual circulam informações de diferentes grupos, associações, publicações, editoras e jornais do continente. Por ele passam a diversidade das lutas, produções e experiências dos anarquistas latino-americanos. Na última semana esse fórum foi excluído da rede A-Infos, com sede na Espanha, sob a alegação de não corresponder aos “princípios” da dita rede, que alega ser classista e popular. Num momento em que os amigos da Venezuela enfrentam extremas dificuldades financeiras e uma repressão cada vez mais brutal do governo bolivariano, a conduta do A-Infos, expressa um exclusivismo nada libertário. Serão os militantes da A-Infos os donos do verdadeiro anarquismo ou apenas crentes em sua forma correta e exclusiva de praticá-lo e divulgá-lo? Como para o governo da Venezuela, o pastorado deve seguir o ideário do pastor. 
anarquia em kobane 
Kobane, norte da Síria, região de Rojava. A defesa intransigente curda contra as forças da ordem vai muito além da ação do peshmerga — que é liderado pelo presidente do Curdistão iraquiano—, responsável pela captura de Saddam Hussein e do líder da Al-Qaeda Hassan Ghul, informante principal para a Operation Nepturne Spear que matou Osama Bin Laden. Seus militantes também são combatentes governamentais contra o ISIS (Estado Islâmico —EI) e recebem apoio dos EUA. Entretanto, há dois anos uma revolução aconteceu em Rojava. Os anarquistas da Ação Revolucionária Anarquista — Devrimci Anar ist Faaliyet, ou ş DAF — introduziram relações horizontais, fomentam a proximidade entre etnias, combatem o islamismofundamentalista e compõe uma muralha humana contra o avanço do ISIS que provocou sua primeira grande derrota. Trata-se de uma resistência à flor da pele contra o Estado turco, a dissimulação do governo da Síria quanto ao EI, os interesses capitalistas, a contínua repressão aos curdos e ao ISIS. Mas acima de tudo, a invenção de uma nova forma de vida que pode reverter o nostálgico e embolorado sonho nacionalista curdo. 
10 anos... e as mortes continuam 
Há dez anos a missionária Dorothy Stang foi assassinada por pistoleiros a mando de latifundiários no Pará. A placa em sua memória colocada em 2009, encontra-se hoje crivada de balas para lembrar quem e como se manda ali. Dorothy lutava pelos assentamentos Esperança e Virola-Jatobá, reconhecidos pela União após sua morte. Mas as mortes não cessam na região. O Pará é o estado que concentra o maior número de mortes motivadas por disputas de terra, além dos desmatamentos promovidos pelo agronegócio. Pouco importa o resultado jurídico do processo sobre sua morte. Dez anos depois, lembrar a execução é não esquecer que as commodities, orgulho da balança comercial brasileira, são papéis que chegam às bolsas de valores do planeta lavados em sangue. 
baderneiros? 
No Paraná uma mobilização de professores, estudantes e funcionários públicos barrou o pacote de ajustes que seria votado essa semana na câmara estadual dos deputados. Os manifestantes questionavam as prioridades do ajuste, que cortava direitos trabalhistas de professores, como o terço de férias, mas não tocava nos aumentos e benefícios de deputados, secretários e cargos comissionados. A única reposta do governo do Paraná foi chamar os manifestantes de baderneiros e colocar a Tropa de Choque contra eles na entrada do edifício da Assembleia Legislativa. Para o governo, a ordem das coisas deve ser mantida. 
olha o ditador aí, gente!!! 
Não é de hoje que sambas-enredo são vendidos e comprados no carnaval carioca. Esse ano, no entanto, uma novidade. Uma famosa e vencedora escola de samba, que nos anos 1970 fez enredos enaltecendo a ditadura civil-militar brasileira, recebeu uma encomenda: cantar as maravilhas da Guiné Equatorial. A pequena ex-colônia espanhola na África é rica em petróleo e tem um dos povos mais miseráveis submetido a um dos ditadores mais ricos do planeta e que é freguês de empreiteiras brasileiras agenciadas por ex-presidente. Negócios à parte, esse ditador é fã do carnaval do Rio. Daí, a ideia de comprar um enredo por alguns milhões de reais. Uma pechincha para alimentar seu ego revestido de cultura africana. Na transmissão da TV, entre efeitos especiais, coreografias e mulheres siliconadas, a ditadura de lá, ecoando autoritarismos daqui, acabou normalizada entre comentaristas simpáticos e reportagens espertas. Tudo isso coroado por um samba-enredo que exaltou o negro guerreiro africano e a sua liberdade embalados pelo exotismo colonizado e politicamente correto. Eis o negro africano vendido como o guerreiro por natureza e vítima genérica adocicada pelo multiculturalismo. E, assim, o ditador virou, simplesmente, mais um patrocinador, enquanto os passistas ricamente ornamentados declaravam seu orgulho à TV e ejaculavam na passarela seu amor à obediência. Chora cavaco! 

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