sábado, 22 de setembro de 2012

EM TEMPOS DE ELEIÇÕES


Devo dizer que praticamente não tenho visto a propaganda eleitoral... sofro de uma grave compulsão por resmungo, meu coração fica taquicárdico, minha racionalidade vira mingau, minha poesia vira estrume seco (que só serve pra adubar)... então prefiro não ver, mas isso não me deixa imune aos resmungos dos outros, seja nas redes sociais, seja de colegas de trabalho ou de amigos... assimassim, alguma coisa sempre fico sabendo... e pra não dizer que não falei das eleições (porque não encontrei  as flores, para delas falar), vou resmungar alguma coisa...
Não queremos mais saber desses candidatos que não têm sequer a mais básica noção sobre quais sejam as funções inerentes ao cargo que pleiteiam.
Não queremos mais saber desses candidatos que se põem a prometer coisas-e-coisas, mundos-e-fundos, mundos-sem-fundos, como se essas promessas avalizassem seus pensares e seus fazeres.
Não queremos mais saber desses candidatos que em suas discursarias vazias, enunciam aquilo que pretendem fazer caso eleitos, sem considerarem que o que sustenta uma intenção, seja aquilo que já se produziu em sua vida e que, por sua vez, prenuncia o porvir-devir.
Não queremos mais saber desses candidatos que acreditam que a função do vereador seja a mesma de um cargo do Executivo (obras, serviços, etc.) e prometem coisas-e-coisas suja responsabilidade seja absoluta e unicamente do EXECUTIVO.
Não queremos mais saber desses candidatos que desconhecem que o papel do vereador seja de ser “um membro da Câmara Municipal que exerce seu cargo em favor de um município, o mandato dura 4 anos e o cargo enquadra-se no poder legislativo. Sua função é fiscalizar o trabalho do prefeito e os gastos ligados ao orçamento anual, sendo assim, é o representante do povo”. E que ignoram “As principais funções do vereador: 
• Analisar e aprovar leis ligadas à prefeitura e ao poder executivo./ • Fiscalizar vários órgãos da prefeitura, além de requerer prestação de conta por parte do prefeito./ • Votar projetos de lei./ • Receber os eleitores e ouvir sugestões, críticas, reivindicações./ • Promover a ligação entre eleitores da região que representa e o governo./ • Elaborar e redigir projetos./ • Criar leis com intuito de formar uma sociedade mais justa”  (cf. Eduardo de Freitas - Graduado em Geografia - Equipe Brasil Escola).
Não queremos mais saber desses candidatos que pretendem fazer de seus mandatos –caso eleitos-, um tempo estanque de quatro anos, desconsiderando que a vida das gentes e a operação da coisa pública não tenha descontinuação –apesar de ser feita de descontinuidades-... esquecem, eles, que a entrada de um novo governo nos espaços formais de poder, não apaga os rastros do governo que lhe antecedeu e nem imprime, automaticamente, um novo modo no pensar e no fazer da coisa pública, pois isso tudo é feito, no fim das contas, pelos trabalhadores públicos e pela comunidade, em micro-movimentos, em micro-acontecimentos, em micro-agenciamentos.
Não queremos mais saber desses candidatos que saem a enunciar mudanças, movimentos, acontecimentos, cozeduras, coseduras, desenhos, imaginações saídas de seus UTÓPICOS PLANOS DE GOVERNO, sem considerar as heterotopias dos desejos das gentes da comunidade.
Não queremos mais saber desses candidatos que se metem a alardear planos miles, sem considerar que somos conhecedores dos limites e das limitações impostas pelo ORÇAMENTO do Município... portanto, não adianta ficar prometendo mil e quinhentas coisas se o orçamento está em seu limite e não tem como ampliá-lo.
Não queremos mais saber desses candidatos que se põem a tentar seduzir os trabalhadores públicos municipais com a gostosa promessa de qualificar nossos salários, sem considerar que nós trabalhadores públicos também somos conhecedores do ORÇAMENTO e da LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL, assim como, somos conhecedores do fato de que, com a ampliação da demanda e oferta de serviços públicos, cresce também a necessidade de nomeação/contratação de um número maior de trabalhadores, o que estoura com o limite de gasto previsto na LRF.
Não queremos mais saber desses candidatos que priorizam algumas áreas em seus PLANOS DE GOVERNO e simplesmente esquecem de outras.
Não queremos mais saber desses candidatos que falam muito em respeito aos trabalhadores públicos municipais, mas que simplesmente esquecem que esses trabalhadores são os principais responsáveis pelos pensares e fazeres das ações e serviços públicos.
Não queremos mais saber desses candidatos que alardeiam querer tratar/administrar a coisa pública a partir de modelos de gestão privada... francamente, isso é falta de noção sobre gestão pública.
Não queremos mais saber desses candidatos que propagam discursos raivosos, que alimentam pendengas pessoalizadas, que jogam o trabalho todo que fazemos todos os dias, feito merda fedorenta pra se espalhar no ventilador dos outros.
Não queremos mais saber desses candidatos que querem fazer crer que haja campos dicotômicos com relação aos espaços e cargos que pretendem ocupar... não há um antes e um depois deles... há, sim, o campo público que move-se em permanente devir, agenciado ora por uns, ora por outros, mas sempre espraiado entre acontecimentos e (dês)acontecimentos.
Não queremos mais saber desses candidatos que arrastam os bordões da privatização das coisas que tanto lutamos para (re)tornar públicas... um desses campos é o SUS!
E, em se tratando da política de saúde (que é o campo em que atuo mais diretamente), fico estupefata pela forma como muitos candidatos e eleitores falam de algumas políticas e serviços públicos, demonstrando, por exemplo, absoluto desconhecimento com relação à produção do Sistema Único de Saúde/SUS, ao tomarem como referência para tecer críticas, somente aquilo que ainda está muito precário... simplesmente esquecem de tudo o que já vem sendo produzido e consolidado... esquecem que os serviços de saúde são feitos por gente e para gente, e que, para qualificar esse campo, há muito por ser andado, conversado e produzido, para além do que já tem sido feito.
Citando a amiga e psiquiatra Fernanda Penkala, digo, com suas palavras, que: "eu gostaria, e muito, ver os candidatos, ao se referirem à Saúde Pública em seus projetos de governo, perderem a mania de se referirem somente aos médicos, ou quando muito aos enfermeiros... Olha só, Saúde Pública é multidisciplinar... já faz muito tempo que temos muitas outras áreas profissionais que fazem parte do trabalho em saúde, e por ele são igualmente responsáveis... INFORMAÇÃO TAMBÉM É EDUCAÇÃO!!!!... se quisermos eleitores, cidadãos e cidadãs conscientes, devemos fugir do senso comum e das frases e conceitos prontos (mesmo que isso parece o mais fácil, convincente e confortável...)!!!!!"... é de uma protuberante ignorância ou MÁ FÉ, sair a galope na ultrapassada cultura da doença, da medicalização da vida e reforçar no imaginário das gentes, a ideia de que os trabalhadores do campo médico serão a solução dos problemas e dificuldades existentes no campo da política de saúde... os colegas médicos formam só um dos muitos campos absolutamente importantes para a produção e os fazeres do SUS... pois SAÚDE se faz com a proteção, promoção e recuperação dessa coisa que é a vida humana!
Nomais, nomais, não podemos esquecer que somos, de uma forma geral, reféns históricos de uma concepção e prática em saúde pública voltada para a cronificação da cultura da doença, para a “medicina curativa”, para a medicalização, a medicamentalização e para o assujeitamento dos usuários a um sistema centralizador e verticalizado da política de saúde.
Consideramos que os movimentos produzidos a partir da Constituição Cidadã, de 1988, no campo da política de saúde pública com a regulamentação e implantação do SUS, vem, aos poucos, evidenciando os novos desenhos com que se produz a atenção à saúde e com que se pensa e faz não somente a ação do cuidado em saúde coletiva, mas saúde de forma geral. Afora os movimentos de humanização no campo da saúde, é de se considerar o dimensionamento das ações de saúde, portanto, nossos processos de trabalho devem ser atravessados cada vez mais pelas seguintes condições:
. atualização cotidiana e problematização de nossas práticas e processos de trabalho;
. clínica ampliada (inseparabilidade entre clínica e política);
. ruptura com o instituído pelo modelo social, político e econômico dominante, produzindo novos instituintes, sem sedimentá-los na banalidade;
. transformar o pacto pela saúde num dispositivo cotidiano de trabalho;
. consolidação da gestão ampliada e colegiada;
. definição de prioridades e erradicação do desperdício;
. promoção e produção da transversalidade, da interdisciplinaridade (trabalho em equipe), da integralidade da atenção, da intersetorialidade, da humanização da atenção e da resolutividade;
. educação permanente em saúde e intersetorial (gestores, trabalhadores e usuários);
. atenção territorial (na comunidade, trabalho com os saberes populares, produção coletiva de conhecimento);
. garantia de acesso e acolhimento;
. fortalecimento e consolidação da atenção básica;
. Problematização e ruptura com a lógica hospitalocêntrica, pensando sobre o lugar do hospital na Rede de Atenção em Saúde, assim como, a relação da Atenção Hospitalar com a Atenção Básica e Especializada;
. produção de uma outra possibilidade de mundo;
. integrar formação, atenção, gestão e participação social, para: valorização das características locais, valorização das capacidades instaladas e desenvolvimento das potencialidades existentes;
. fomento à capacidade criativa e inventiva de todos;
. olhar o usuário, o trabalhador e o gestor como produto plantados pelo ideário dominante, e que podem romper com isso produzindo singularidades, produzindo fazeres e saberes singulares;
. produção da noção de saúde como promoção de vida, de vitalidade, de potência, de autonomia, de protagonismo, de qualidade de vida;
. Semear e cultivar a idéia da Política Nacional de Humanização como um desafio e uma provocação ética-estética-política que se faz com a produção de modos de subjetivação de usuários, trabalhadores e gestores, na relação com a noção e vivência da saúde.
Afora tudo isso, ainda queria ter resmungado um pouco sobre o pouco/ou nada que temos ouvido sobre as perspectivas dos candidatos para o campo das políticas de saúde mental e sobre álcool e outras drogas... mas isso deixo para um outro resmungo!!!!

Um comentário:

  1. Todos os candidatos que estão neste pleito mostram se incapazes de pensar em saúde pública. Todos, mas todos mesmo que se ariscam, no que pensam ser alguma proposta de melhoria, seguem o modelo médico. Aumentar o número de médicos é o plano. ESFs nunca ouviram falar ou os entendem, apenas, como um novo nome dado aos postos de saúde. Não vi e não tive noticias de nem um outro profissional sendo pensado para estes ESFs (quanto a estratégias, então, nem ousam falar).
    No desenvolvimento social a lógica arcaica ainda é de clubes de mães, os CRAS, CREAS, e outras não são de conhecimento dos candidatos. Nesta área as poucas referências dizem respeito ao Bolsa Família(preocupados em ressaltar sua continuidade).
    Os funcionários públicos não são considerados como parte pensante dos governos. Este pensar, planejar, viabilizar a melhoria dos trabalhos é reservado aos CCs (tem um candidato que defende a permanecias de 130 CCs para que estes exerçam os cargos de chefia).
    Em meio a isto tudo dizem que o povo não sabe votar, que não esta politizado, ora; como escolher entre discursos tão iguais, e vazios? Como não desacreditar desta política partidária?
    Apenas alguns exemplos se for detalhar os absurdos e problematizar o desconnhecimento dos candidatos isso ocuparia paginas e paginas, seria, no entanto desnecessário.

    ResponderExcluir