domingo, 2 de setembro de 2012


Caminhos para a Política Cidadã no século 21

Em meio a críticas e esperanças, pensadores e ativistas debatem como superar crise da representação e reinventar democracia

Outras Palavras passa a publicar semanalmente, a partir de hoje, um conjunto de entrevistas sobre um tema crucial: a crise da democracia e as caminhos para reinventá-la. Os diálogos integram a pesquisa qualitativa Política Cidadã – Reflexões e Caminhos, realizada no final de 2011 pelo instituto de pesquisa Ideafix, por solicitação do IDS – Instituto Democracia e Sustentabilidade. São conversas com pensadores e ativistas nos campos da economia, antropologia, filosofia, educação, saúde mental e arte, além de líderes religiosos e comunitários. Envolvem personagens conhecidos: entre outros, Drica Guzzi, Fernando Meirelles, Francisco Whitaker, Frei Betto, José Antonio Moroni, Ladislau Dowbor, Lia Diskin, Rachel Trajber, Ricardo Abramovay, Tião Rocha, Viveiros de Castro e Washignton Novaes. Os temas tratados por eles vêm sendo discutidos pelo IDS no eixo Política Cidadã da sua Plataforma Brasil Democrático e Sustentável.
Contrapostas, aproximadas, agrupadas, as vozes desses ativistas e acadêmicos constroem, em grandes pinceladas, um retrato do Brasil: traçam cenários, apontam tendências, revelam consensos e confrontos. O que nos move, o que nos afasta? Que valores sustentam as formas de ativismo político que vemos nascer, no Brasil e no mundo? Que desejos, esperanças, utopia? As respostas são muitas e as contradições, também.
São claros a rejeição ao atual sistema de representação política e o descrédito causado pela participação popular insuficiente e corrupção. O país carrega a herança de um estilo autoritário de fazer política. A noção de liberdade está ligada à de justiça social: há os mais livres e os menos livres, conforme o acesso que tenham, ou não, a bens materiais e imateriais. A desigualdade assusta também pela violência que pode gerar. É imperioso aprofundar – e, em diversos sentidos, reinventar – a democracia. A boa notícia é que já assistimos a ações e manifestações que apontam nessa direção.
Os jovens são percebidos como os principais agentes de mudança, embora transitem entre o desconhecimento do passado e a incerteza do porvir. Resistindo à falta de esperança, enfrentam o desafio de recriar as possibilidades de futuro. Para muitos deles, a saída é a tela do computador. E justamente aí – nas possibilidades de participação que se alimentam das redes sociais – reside grande parte das esperanças de mudança.
Outros caminhos são vislumbrados. É consenso a urgência de uma educação universal de qualidade. O fortalecimento do poder local – exercido na escola, no posto de saúde, na subprefeitura, no território indígena. É preciso ocupar os espaços de participação criados pela Constituição de 88. Remunerar os serviços ambientais. Aprender as lições que os povos nativos têm a ensinar, aprofundar a consciência de nossa interdependência planetária. Cooperação é um valor, e nós humanos somos muito mais cooperativos do que supõe a nossa vã economia.
O conflito fundamental reside justo aí, na economia. Para alguns entrevistados, o capitalismo impossibilita as transformações que a crise civilizatória impõe nos modos de produção e consumo, para a preservação da vida. Para outros, as mudanças geradas pela economia do conhecimento podem descortinar cenários inesperados. Certo é que a sobrevivência da espécie humana está a exigir a substituição da noção de liberdade individual pela de bem comum – e a questão do consumo é o ponto nevrálgico desse debate. Uma pergunta que não quer calar: seremos capazes de construir estruturas de governança político-institucional global que possam evitar o agravamento dos processos planetários?

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