domingo, 28 de setembro de 2014

flecheira.libertária.354

kaapor
No Maranhão, desde agosto, índios Kaapor travam um combate direto com os madeireiros. Após serem comunicados de que o IBAMA e a FUNAI, mesmo com determinação da justiça promulgada em 2008, não se responsabilizavam pela fiscalização da extração da madeira na região, os Kaapor afirmaram: "estamos emguerra porque ninguém quer nos ajudar". O combate dos Kaapor escancara que a omissão do Estado nada mais é do que o apoio explícito aos avanços dos proprietários na floresta. Não existe omissão do Estado, quando muito um silêncio estratégico. Diante desta situação, o arco dos Kaapor defende não somente a própria terra. O arco teso dos índios mira a aliança escusa, banhada com sangue, do Estado e proprietários. 
contra a dissimulação 
Os proprietários avançam sobre a terra dos índios com apoios variados. Durante a última semana, um jornal de circulação nacional estampou uma manchete declarando que os índios haviam criado um "exército" para atacar os madeireiros. É sabida a mediocridade e o oportunismo de certas mídias. A força dos Kaapor é oposta àquela que visa constituir um exército. Quem possui exército, demarca os territórios, ataca os Kaapor e usa a violência, é o Estado. Quem dissimula diante disso é conivente com o extermínio. 
contra a polícia 
O assassinato do jovem negro em Ferguson explicitou o racismo incrustado na sociedade estadunidense. Se de um lado vários protestos espalhados pelo país reivindicaram “outra polícia”, mais próxima de lideranças comunitárias, de outro lado os anarquistas colocaram em xeque a sobrevivência da polícia e sua articulação indissociável com a violência. Na última semana, em Phoenix, após o assassinato de uma jovem por um oficial de farda, centenas de pessoas, entre elas militantes de grupos libertários, saíram às ruas no que foi chamado de protesto “antipolícia”. Este protesto escrachou viaturas, interrompeu a transmissão de um telejornal e recusou a participação de lideranças políticas. A manifestação “antipolícia” destoou do coro reformista e chamou a atenção para o racismo e a violência como propriedades do Estado.
cultura do castigo
De acordo com a UNICEF, o Brasil é o 6º país do mundo em número de homicídios de crianças e “adolescentes”até os 19 anos. Seus dados mostram que uma em cada 10 meninas em todo o planeta já sofreu algum tipo de “ato sexual forçado”; que 6 em cada 10 crianças são agredidas regularmente por seus pais, sendo que um terço destes acredita que o castigo físico é necessário para educar seus filhos. Independente de dados econômicos e estatísticos, a violência que atinge prioritariamente crianças e jovens é intrínseca à sociabilidade autoritária que começa dentro de casa. Nesse sentido, ao relatar as causas para a violência, a UNICEF e outras organizações de direitos humanos, em nome do chamado desenvolvimento humano, fazem funcionar a permanência de sua existência a partir de uma série de conceitos, indicadores e medidas que justificam ad infinitum a cultura do castigo. 
sondagens eleitorais 
Sondagens eleitorais da semana mostram como o eleitor — cidadão adulto que é obrigado a votar, ou jovem e idoso a quem o voto é facultativo —, reitera a moderação e o conservadorismo das condutas. A novidade é que esse eleitorado prefere o voto facultativo. Deve pensar: curtir o feriado é melhor. Entediado da política dos partidos e dos políticos, ele deseja que alguém zele pelos seus bens, sua segurança, sua vidinha. Para ele, involuntariamente, a política partidária, de variados matrizes ideológicos, é mesmice. Ao seu modo constata haver uma programação governamental inabalada, retóricas, novidades efêmeras, e, por fim, desiste. Fica à espera de qualquer condutor. Os pequenos fascismos do cotidiano se alimentam disso; o fascismo como governo do Estado começa assim.

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