sábado, 6 de setembro de 2014

flecheira.libertária.338

boko haram e o colonialismo 
Pouco se sabe sobre a África. Pouco mesmo. Depois de semanas é que ganhou manchetes na mídia o caso do sequestro de quase 300 garotas no nordeste da Nigéria pelo Boko Haram. Os articulistas de jornais remontam ao colonialismo inglês e aos efeitos da edificação do Estado-nação que empastela etnias a partir daquelas feitas mais poderosas pelo próprio colonialismo. Mas não é ou foi só a criação do Estado que armou esta sinuca às etnias. O colonialismo avançou e enriqueceu os Estados e proprietários de mãos dadas com as religiões. Se Estado não pacifica nada, apenas afirma a força vencedora e a exigência de obediência, as religiões constroem guerras, na disputa pelo domínio cultural e político. Assim, o ecumenismo se transforma em carta na manga para situações tipicamente ocidentais, ou seja, de Europa, Américas e parte da Ásia. 
boko haram e o multiculturalismo 
Estados e religiões sempre consideraram as mulheres como subalternas. Até mesmo os civilizados Estados ocidentais quando reconhecem direitos às mulheres o fazem pela equiparação aos diretos masculinos, do Homem. Então, apenas de vez em quando sequestrar mulheres para o uso e abuso sexuais de autoridades superiores masculinas se transforma em notícia. Cada garota vale $12 para ser usada privada ou coletivamente por machos. Os civilizados ficam horrorizados. Os cidadãos se apaixonam pelo tema em telenovela, no cinema e às vezes na literatura. Os governantes externam sua indignação. No limite consolidam a retórica do multiculturalismo. 
boko haram e a liberdade das mulheres 
Onde estão as garotas sequestradas? O governo dos EUA comunicam que enviarão especialistas em negociação, com o assentimento do presidente da Nigéria, propondo solucionar o “caso”. Por certo, muitos outros casos aconteceram e acontecerão sem o tardio noticiário na imprensa ocidental. Não se trata de um caso. Grupos como o Boko Haram, mais ou menos reativos, continuarão agindo. A disputa religiosa e política não tem fim. Pode haver certa pacificação da obediência exigida pelas ações humanitárias, mas serão sempre episódicas. O assunto é principalmente de mulheres, quando deixarem de reivindicar posição semelhante aos homens e se descolonizarem. Esta é uma luta urgente. Não é humanitária, mas uma luta pela existência apartada do domínio do macho. Só assim os homens, também, poderão experimentar uma liberdade fora da lei que eles, os colonizadores civilizados, criaram para governar o domínio e disseminar o assujeitamento. O resto é retórica acadêmica, política e cultural para a vitória de governos. 
boko haram, mercado e política 
Depois do sequestro e da comoção nos Estados poderosos, o Boko Haram faz a contrapartida manjada. Agora as quase 300 garotas são apresentadas em vídeo convertidas ou reiterando o islamismo, enquanto se exige libertação de presos políticos da organização. Mesmo convertidas elas serão vendidas caso a atual reivindicação política não se cumpra. A vala é a mesma, tentar configurar como legítimo o ato terrorista como política totalitária. As garotas são mercadorias na troca de mercado e lote de carne humana na negociação política. Islâmicas ou não, são mulheres que servem aos dois lados da mesma moeda. 
época mais podre 
Há algum tempo, os noticiários têm mostrado linchamentos de jovens, geralmente pequenos ladrões ou acusados de alguma outra ilegalidade. As discussões controversas na mídia alertavam tanto para o perigo da justiça com as próprias mãos, como também saudavam a população descontente com a falta de segurança. Na última semana, o linchamento de uma dona de casa que se suspeitava realizar rituais de magia negra com crianças pretendeu dar outro rumo ao assunto. Não demorou para se descobrir que a linchada não tinha nada a ver com a história e que, portanto, fora agredida e morta injustamente. Rapidamente houve uma inversão de sinais: agora os linchadores são bandidos e a linchada, a vítima. A população fascista continua pensando que bandido bom é bandido morto. 
época mais podre 2 
Diante de corpos amarrados a postes, lançados sobre formigueiros, atacados com paus, tijolos, socos e pontapés, determinados sociólogos e especialistas em segurança pública defendem seus respectivos empregos, seu quinhão miserável, argumentando que os linchamentos se fortalecem defronte a uma sensação de ineficácia da Justiça. O que ninguém diz ou comenta é que tal prática asquerosa é a própria continuidade da violência da polícia, do tribunal, dos castigos, incrustada em cada cidadão covarde que decide atacar em grupo para acabar com a vida de alguém. Os linchamentos seguem se espalhando por todo território, sustentados por silêncios sorridentes. E tamanha covardia é a própria expressão da violência do Estado. 
buscado em: http://www.nu-sol.org/flecheira/pdf/flecheira338.pdf
boko haram
As garotas sequestradas permanecem encarceradas, sendo doutrinadas pelo Boko Haram (BH)... Terão sido vendidas a 12 dólares? Satisfazem aos machos revolucionários ou a um reacionário que as comprou? Não há notícias dos divulgados esforços ocidentais em conjunto com o Estado nigeriano. Noticia-se, entretanto, atentados urbanos a bombas em sequência contra civis. Neste caso, a mirrada intelligentsia não associa o BH com anarquia. Pudera, o BH quer um Estado islâmico a seu modo. Quer Estado! Trata-se de um terrorismo habilmente qualificado como político, derivado do colonialismo e do seu fim para garantir a chamada autonomia de um povo. Onde estão as garotas sequestradas? Isso passou a ser secundário diante dos ataques a bombas? Parece que sim. Afinal, elas são mulheres...
buscado em: http://www.nu-sol.org/flecheira/pdf/flecheira340.pdf

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