sábado, 25 de maio de 2013

flecheira.libertária.295


um dia qualquer
Um sinal estridente toca de algum canto das altas paredes do edifício. As portas de ferro se abrem e muitos descem a rampa que dá para o refeitório coletivo, ou para o espaço aberto tomar um banho de sol, ambos cercados por grades. Nos portões que dão acesso à administração alguém controla a entrada e saída do pessoal autorizado. Aqueles que cometem algum ato de indisciplina são levados para uma sala onde levarão um sermão e deverão assinar alguma ocorrência. Na reunião da sala ao lado, na escola de uma periferia da cidade de São Paulo, algum professor comenta: “Depois esses aí [os indisciplinados] acabam todos na prisão”. 
esc(ape)
Em qualquer escola, mas em especial nas escolas estatais, os jovens ditos perigosos viram alvo de vigilâncias, controles e castigos exemplares. Desde muito cedo, estes jovens sentem na pele a prática policial contra si ou contra outros. Aprendem a amar a polícia e não conseguem viver sem ela. 
na laje
Neste mês, em apenas 30 minutos, as favelas Cerro-Corá, Guararapes e Vila Cândido, no Cosme Velho, Rio de Janeiro foram ocupadas pela Polícia Militar. Certa moradora de uma das favelas recém ocupadas, alegre com a bem sucedida operação, emprestou a laje de sua casa para que as bandeiras do estado do Rio e do Brasil fossem hasteadas. Após o Choque de Paz, o passo seguinte é a implantação da UPP, que ocorrerá nos próximos dias. Será a 33ª UPP e com ela, segundo a Secretaria de Segurança, o plano de pacificação na Zona Sul do Rio de Janeiro estará completo. Um morador reitera sua submissão ao governo e brada: “Tomara que seja para a vida toda”.
e na geral
A UPP é considerada um grande sucesso não só entre os moradores, mas também no âmbito das políticas de segurança. Alguns estados já aderiram a estratégia ou algo bem próximo ao Programa de Pacificação carioca. A Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado discutiu o projeto, que caminha ao Senado, para institucionalizar a ampliação das UPPs para todo o país. O projeto sugere que a política de pacificação seja compartilhada entre as diversas secretarias estaduais de segurança, cultura, saúde, educação e áreas correlatas. O relator na Comissão de Segurança declara que a experiência das UPPs passa fundamentalmente pela construção de uma outra polícia. O relator defende a sobrevivência da polícia, isto é, barganha vorazmente pela continuidade de seu emprego tacanho. 
ácido desoxirribonucleico
Foi aprovada a criação do Banco Nacional de Perfis Genéticos, que visa a identificação de autores de delitos entre pessoas que já praticaram os chamados crimes hediondos ou de natureza grave. A lei obriga certos condenados e indivíduos sob investigação a submeterem-se ao exame de DNA, permitindo a comparação e o compartilhamento de perfis genéticos numa central de banco de dados. O Órgão deve auxiliar o poder judiciário a perseguir provas criminais por meio da coleta de sangue, saliva, unhas, fios de cabelo ou sêmen. A gestão da criminalidade supera o exame disciplinar anatomopolítico e investe no registro informatizado do código genético daqueles a quem o direito penal toma por alvo.
pra que opinião?
Neurociências e marketing querem acabar com as pesquisas de opinião. Partem do principio de que a compra não resulta de decisões racionais pois os consumidores não sabem o que querem e mentem. Então, para que fazer entrevistas de opinião? O neuromarketing estadunidense retirou dos hospitais os aparelhos de ressonância magnética e os introduziu nos institutos de pesquisa para, a partir de gráficos da atividade cerebral, decidir sobre a melhor campanha publicitária para os produtos. Embora incitem para que todos tenham opiniões, nem mais os controles contínuos se interessam por elas. Eles só querem um cérebro mudo. Consumidores com suas opiniões não dizem nada.

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