sábado, 25 de maio de 2013

flecheira.libertária.294


o pretexto político do recomeço 
Foi lançado no estado de São Paulo, na última semana, o Cartão Recomeço. Ele é vinculado ao que vem sendo chamado de Bolsa Crack e destina-se ao repasse mensal de R$1.350,00 às famílias dos denominados dependentes de crack. Os usuários são deslocados de espaços de internação em instituições estatais, dentre elas o conhecido Pinel, enviados inicialmente pelo CRATOD (Centro de Referência em Álcool Tabaco e outras Drogas), para a internação prolongada em instituições particulares. Cresce o negócio da internação e das capturas voluntárias. E o negócio político do crack sob o rodízio capitalista de outras drogas indissociável da existência do Estado e do proibicionismo? Segue incólume sob o respaldo dos programas de segurança, articulados também, pelos começos ordinários do que vem sendo denominado de estratégias de saúde. 
o negócio da internação
A triagem para inserção no programa é realizada pelo SUS (Sistema Único de Saúde) por intermédio dos CAPS das prefeituras. A versão similar do cartão, sob a denominação Aliança pela Vida, já se encontrava em funcionamento no estado de Minas Gerais com repasse de R$ 900,00. Entre as disputas políticas no interior do programa está em jogo fazer funcionar a ampliação das internações e viabilizar “novos começos” de “alianças promissoras”, financiadas com dinheiro público, entre o Estado, clínicas particulares, ONGs, Institutos e Universidades. Os CAPS não são somente o manicômio redimensionado em hospital-dia. São a porta de entrada com rotina manicomial semanal para o encarceramento psiquiátrico de gente a perder de vista. Lá e em outros espaços. E não é fortuito que os CAPS na última década tenham ganhado a dimensão política de “dispositivo territorial estratégico”. 
o negócio da internação e outras drogas
A orquestração do programa se realiza por meio de especialistas de referência na área de combate às drogas, representantes de pesquisas de ponta em Universidades Estatais a partir de Institutos específicos e indústria farmacológica. Eles são os mesmos que respaldaram a criação, no final da década de 1990, no estado de São Paulo, das Organizações de Saúde. As denominadas OSs serviram de balão de ensaio para a proliferação de clínicas particulares de internação e gerem por via indireta em âmbito nacional tanto a terceirização dos serviços de atendimento aos postos do SUS de medicamentos de alto custo, via sua presença na direção do conselho da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina, assim como os CAPS, as Comunidades Terapêuticas e as clínicas particulares. O negócio da internação indissociável do 
negócio das drogas lícitas e ilícitas corre solto... E agora com mais um estímulo de governo diário a partir da entrega voluntária de cada um: o da ração mensal para as famílias acostumadas já em outros espaços às respostas para a vida via internação e aprisionamentos. 
logo após o ventre
Há pouco, o Senado brasileiro aprovou um projeto de lei de autoria da senadora do PT-RR, que obriga o SUS a realizar avaliação psíquica em todas as crianças nos seus primeiros 18 meses de vida. O projeto visa a aplicação do Protocolo de Indicadores de Risco para o Desenvolvimento Infantil e é endossado pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa. O objetivo é detectar possíveis transtornos em recém-nascidos e efetuar a instituição imediata de intervenções terapêuticas nos bebês. O investimento neuropsiquiátrico busca, de maneira protocolar, conformar o nivelamento seletivo destes recém-nascidos, minimizando riscos por meio de uma psicopediatria voltada para o desenvolvimento resiliente. 
estranho no ninho
Um novo projeto de cidadania e segurança comunitária começa a ser implementado no bairro do Morumbi. Moradores e funcionários de condomínios de luxo da região organizaram uma rede de monitoramentos pelo uso de smartphones, tablets e computadores. O grupo lança mão de um aplicativo recém lançado no mercado que, por meio do acionamento de seu usuário, alerta quando este se encontra em situações de perigo, identifica a proximidade de suspeitos, e viabiliza a localização de mendigos ou pedintes. O software atua via GPS e possibilita o envio de pedidos de socorro pelas opções: sinal de alerta ou pânico silencioso. Inclui ainda a possibilidade de se anexar detalhes textuais ou fotos de assaltos, acidentes ou suspeitos. Da rede, a notícia se espalha pela vizinhança. A intenção de seus usuários é incluir, além de moradores e porteiros, Conselhos Comunitários de Segurança e a PM. O gélido reduto paulistano de donzelas e lordaços pulveriza monitoramentos por meio do fluxo compartilhado de informações e rastreamentos, e da disposição à conduta policial de identificação de suspeitos e criminalização da miséria. 

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