terça-feira, 25 de dezembro de 2012

flecheira.libertária.277


felizes e em cana
Compondo os mais variados nomes, programas de  pacificação se alastram no Brasil. O mais conhecido “caso de sucesso”, as UPPs do Rio de Janeiro viraram referência de “novas estratégias de segurança” implementadas em outros estados. Já em vigor no Rio Grande do Norte, Bahia e Paraná esses programas, pela via da  cultura de paz, se atrelam aos variados projetos sociais e assistenciais (públicos ou privados) que administram a chamada administração da miséria das populações. Incluídos na classificação de cidadãos, homens e mulheres dos bairros pacificados clamam cada vez por mais polícia e pela sobrevivência da  comunidade pacificada. Celebram sorridentes como um lugar feliz a prisão a qual estão reservados pelas 
políticas de segurança do Estado. Enquanto isso um  destacado integrante das comunidades cariocas declara que a pacificação tornou possível um tráfico menos violento!  
mera coincidência?
O comandante-geral da polícia militar de São Paulo  informou na última semana que não há como abandonar a maior favela da zona sul da cidade, agora e cada vez mais designada também pelos paulistanos como  comunidade, após o fim da Operação Saturação ocorrida ao longo do mês de novembro. A polícia afirma ter uma “nova estratégia” de segurança com “nova proposta” para eliminar a influência do PCC nessa região: dividir o território em quadrantes para facilitar as patrulhas e continuar ocupando 24 horas por dia a favela por tempo indeterminado. A semelhança com programas de  pacificação aplicados em outros lugares não é mera coincidência, é somente a explicitação das modulações de controle. 
minorias fardadas 
Pela primeira vez, uma mulher foi nomeada oficial general das forças armadas pela marinha brasileira. Certas mulheres, feministas e minorias endireitadas comemoram a “conquista”. Eles já haviam, na metade deste ano, comemorado a nota oficial do exército que declarou não haver, dentro da instituição, qualquer discriminação quanto à “orientação sexual” de seus soldados. No fluxo incessante de reivindicação por novos direitos de minorias reclama-se também o direito de um soldado gay poder tornar-se um general. Reivindicam o direito de pertencer às Forças Armadas e entregam suas vidas à arregimentação. Em detrimento da conquista de mais direitos do macho hétero, escamoteia que as violências legais dos exércitos, dentre suas infindáveis atrocidades, sempre se aplicaram com brutal covardia sobre os corpos não só de mulheres, meninas e gays, mas também sob os direitos do macho hétero. 
sob suspeita
Em Portland, nos Estado Unidos, a polícia iniciou, a partir de julho de 2012, a invasão das casas de certos jovens com um mandato que previa a busca de roupas pretas e “literatura ou material antigoverno ou anarquista”. O pretexto? Suspeitas de envolvimento destas pessoas em manifestação de 1º de maio, em Seattle. Sabe-se, no entanto, que certos jovens vinham sendo monitorados há algum tempo. Não se trata do que fizeram, mas do que podem fazer. Diante do Estado, um anarquista é sempre um criminoso em potencial. Sua existência ingovernável mete medo em quem tem o Estado dentro de si. 
no tribunal, o silêncio
Depois de encontrar o que procurava, a polícia encaminhou três jovens ao grande júri – expediente jurídico estadunidense que tem como função julgar o mérito de uma ação judicial, isto é, especular sobre a viabilidade de tornar alguém oficialmente réu – esperando esclarecimentos a respeito de suas relações. Já que este procedimento antecede a acusação oficial, as pessoas submetidas ao grande júri não podem se valer do famoso “direito de permanecer calado” ou “não produzir provas contra si mesmo”. Os três jovens, anarquistas, recusaram-se a falar diante do júri e entregar a si ou a seus amigos. Foram presos em seguida por desrespeitar o tribunal com seu silêncio. Dois destes três jovens permanecem presos. Diante do tribunal, seu silêncio não é mera ausência de som: a recusa a falar é afirmação da vida anarquista.

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