terça-feira, 26 de julho de 2016

sem titulamentos

fico vendo essas vidas e e esses pensamentos dizentes dos jeito que se deve ou deveria ser e penso sobre como é bonito ser do jeito que você quiser ser e não do jeito que dizem que "se deveria ser"... e poder fazer isso sem culpar ou responsabilizar ninguém por qualquer tino ou desatino advindo disso.
como é bonito você se desamarrar das coisas que não lhe fazem bem e simplesmente ir viver!
olho para minhas andanças e gosto da maior parte das coisas que vivi e que vivo... às vezes faço escolhas das quais posso dar conta e outras, que tenho que me esforçar para dar conta.
sou bolicheira de nascença, parida no quarto ao lado do bolicho, entre as pernas fortes e andantes duma bolicheira.
sou moinheira de nascença.
sou cachaceira de nascença (de avô, dum lado alambiqueiro e doutro, sorvedor).
sou inventadeira de nascença (dos dois lados da vida biológica me vem esse sangue feito de inventar vida e inventar histórias).
sou pescadora de nascença (não tanto pelos peixes que se pesca... mais pelo furdunço da pescaria e pelas histórias que se pode inventar).
sou mulher do barranco (não que eu barranqueie alguma coisa)... daquelas que puxa o fumo e a palha, vai enrolando o palheiro e fica lendo, através da fumaça, o mundo que passa na estrada poeirenta.
sou mulher da vida... até aguento um tempo no tranco da não-vida, mas isso dura pouco... sou mulher da vida feita poesia, da vida feita alegria, da vida risonha, da vida leve, da vida solta.
sou escrevinhadeira... pois gosto de, como Manoel - o poeta, de Barros-, lamber e fornicar com as palavras... gosto de emprenhá-las e ver parir afetos e pensamentos.
sou empoetada... inventei isso pra vida, em lugar de ser sobrevivente.
sou mulher do facão, que é pra ter com que cortar ideia feita de absurdidade e pensamento engomado.
sou mulher de não ter cargo... até aceito o apelido poético de mãe, mas só porque isso equivale à condição de mulher que ajuda as gentes a inventarem gentidade em suas vidas... então sou mãe de filho pra isso e se não for pra isso, não tem porque ser mãe de filhos.
sou mulher de viver, dormir, acordar, morar, amar a mesma mulher todos os dias, desde que ela também queira isso e outras coisas boas.
sou gente de pouco tino.
sou gente, sou mulher que não abre mão duma coisa pra ser outra... entendo a vida como feita de escolhas, porque se tiver "abrir mão" duma coisa para ser outra, então é imposição e não escolha... se a luta tiver que ser dura e árdua, assim lutarei, mas sem deixar de torná-la leve, serena e bonita.
por essas e outras, também sou psicóloga por formação acadêmica e (de)formação existencial... trabalho com as letras, porque elas juntam em versos os existires... trabalho com a redução de danos, porque acredito que nunca seria possível extinguir e liquidar o dano por completo... trabalho com os usos e abusos de álcool e de muitas outras drogas (afetos desmedidos, doces, cocaína, salgados, crack, comidas em geral, bebidas em geral, trabalho exacerbado, medicamentos, maconha, tabaco, consumo, café, capitalismo, fascismo, preconceito, discriminação, intolerância, ignorância de estimação, leitura ruim, pouca leitura -não propriamente leitura das letras escritas no papel, mas mais a leitura das letras escritas na vida-, soberba, atrevimentos, falta de noção das coisas e da vida, exploração do outro, arrogância, vagabundagem mascarada de grandeza, mania de grandeza)... enfim, trabalho com esses e muitos outros tipos de drogas, porque acredito que seja isso que corroa as vidas e os viveres das gentes... e ainda, o que gosto mais, é de trabalhar com gente que quer viver... até porque, para se manter atolado, não precisa buscar ajuda... cada um se atola sozinho, porque morrer é fácil... viver é que é difícil!

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