segunda-feira, 12 de agosto de 2013

flecheira.libertária.302

esfinge que eu gosto!
Quando Hosni Mubarak foi derrubado com um golpe militar, após meses de protestos populares, o Ocidente comemorou a chegada da democracia ao Egito. O que veio, no entanto, foi um governo militar que tutelou a condução de uma nova constituição e a realização de uma eleição. Ela foi ganha pela Irmandade Muçulmana que é antiocidental. Então, depois de meses de governo e novos protestos, os militares voltaram tirando quem havia subido e prometendo tudo de novo: constituição e eleições. Governos, mídia e intelectuais ocidentais continuam querendo achar “primaveras” que comprovem a tese da universalidade da democracia liberal.
limpando a barra
Especialistas já dizem que, como o clamor popular era grande, a ação dos militares não foi um golpe de Estado. E assim, “limpam” a barra dos milicos diante da requentada moral democrática planetária, do mesmo modo como defenderam e sustentaram, em passado recente, as ditaduras latinoamericanas em nome da intervenção necessária para fortalecimento futuro da democracia. Enquanto isso, a elite política e econômica do Egito, com grande participação do exército, segue dando as cartas, afinada com os interesses geopolíticos e petroleiros ocidentais.
el condor não passa!
Na semana passada, enquanto tentava voltar da Rússia para seu país, o presidente da Bolívia Evo Morales teve a requisição negada para sobrevoar Itália, França, Espanha e Portugal. Os Estados Unidos ordenaram, e os cupinchas europeus obedeceram, pois Obama suspeitava que os bolivianos traziam na bagagem o ex-técnico de computação da CIA Edward Snowden. Depois da saia justa, o avião de Morales passou pela Espanha e Portugal e voltou à América do Sul. Os colegas bolivarianos protestaram e reiteraram promessas de asilo político a Snowden. Tudo no jogo da diplomacia.
laissez o quê?
O episódio da interdição do espaço aéreo para Morales explicita que o céu, o espaço sideral, as ondas de rádio e TV, os espectros eletromagnéticos, as águas, o subsolo, as fossas marinhas têm dono. Quer sejam pelas chamadas “grandes potências” ou pelo conjunto de Estados que se espremem querendo vaga no camarote global do capitalismo, o planeta é esquadrinhado, governado, monitorado, retalhado, cindido em nome da segurança do Estado, da “normalidade”, gestão e continuidade das relações e dos fluxos comerciais, militares e diplomáticos. Todos no jogo da diplomacia, da paz e do governo sobre tudo e todos.
gestão do crime 
Nas últimas semanas, o governo holandês enfrentou protestos ao anunciar que fechará 19 presídios no país, como forma de economizar 271 milhões de euros. A medida seria possibilitada pela utilização de tornozeleiras eletrônicas para o monitoramento de condenados via satélite. A oposição se mostrou preocupada, ao afirmar que o equipamento “não é uma alternativa à prisão” e que a desativação dos estabelecimentos penais retiraria o emprego de 2.000 pessoas. Obedecendo à racionalidade econômica e ao cálculo de custos e riscos, a gestão da criminalidade combina a necessidade da prisão-prédio e o seu redimensionamento além-muros. O castigo, no entanto, permanece como sustentáculo do Estado e de sua moral, por meio de complexos penitenciários superlotados e pelo uso de coleiras eletrônicas que fazem das ruas uma prisão sem celas ou paredes.
idas e vindas
Há algo de novo, ou requentado nas "ondas" das contestações. Os analistas apressados recorrem a maio de 68. Naquele acontecimento, o repentino gerou imprevistos que mudaram as coisas no inexato momento. 68 foi redimensionado pela guinada conduzida pela reação neoliberal. Agora, estamos diante de efeitos da mesma racionalidade neoliberal e das suas correlatas práticas institucionais democráticas "em construção". Portanto, estamos em um fluxo de aperfeiçoamentos e melhorias que deve, sempre e em breve tempo, mostrar sua capacidade de conter revoltas e resistências, com eficácia e eficiência. Estão em jogo democracia e "mais Estado", novas institucionalizações, reformas na representação, sedimentação de inclusões, sociedade civil organizada, culturas e cooperações... E porque sim, a ameaça da reafirmação constante dos pequenos e grandes fascismos.
vindas e idas
Seja pela democracia jurídica (com ou sem vínculos expressamente religiosos), por empregos, novas securitizações, judicializações, fiscalizações etc e tal, as "ondas", como tal, compõem uma designação relativa ao movimento contínuo das marés (cheia e vazante), e portanto de naturalização das desigualdades repaginadas sob os invólucros móveis do pluralismo. Mais uma vez, a natureza, segundo as leis humanas, é chamada para significar a metáfora.

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