terça-feira, 31 de julho de 2012

flecheira.libertária.259


da continuidade do extermínio 
Aconteceu novamente. Desta vez sem suicídio. O perdedor radical invade o cinema e mata. Com “armas legais”, compradas na internet e com vasto conhecimento em explosivos para continuidade do ato, ele não é o terrorista islâmico, tampouco o personagem de videogame. Se diz o vilão dos quadrinhos e da telona. Jovem, altamente investido de  capital humano, doutorando em neurociência, exercita, violentamente, sua frustração dando forma à vontade de extermínio dele e dos seus que, querendo vencer, se convencem da derrota. Desta vez sobrou espaço para o espetáculo dos tribunais e o Estado cumprirá sua missão de morte contra um já diagnosticado transtornado e sua imagem moderninha. Cumprirá? Ou os diagnósticos neurais darão outro fim à trama? Mais uma vez, a escolarização estendida mata e não há religião, pobreza ou bullying que explique. Seguem as notas do extermínio macabro.
polícia é polícia 
Circulou em destaque que a polícia militar do estado de São Paulo cometeu mais dois assassinatos. Rotina de assassinos. Um era pobre, o outro classe média. Parentes de um e outro alegaram inocência das “vítimas” e “abusos” nos procedimentos policiais. Governador e autoridades anunciaram inquéritos, apurações e punição dos responsáveis. “Se fosse um  bandido, mas não era...”, declarou uma das moradoras do morro de Santos sobre um dos assassinados. Onde há uso, há abuso. Polícia é feita para matar e mesmo diante de uma tragédia irreversível, parentes, amigos e moradores dos morros não vêem outra resposta além de mais polícia, justiça e punição. Apenas desejam um polícia a seu serviço. Que polícia não mata?
segurança e polícia 
Os "cidadãos de bem" querem a segurança de seus carros, casa, empregos, e, desta forma, não abrem mão da polícia para proteger sua propriedade e a moral de sua família. Não há policial despreparado assim como não há segurança sem polícia. O papel da polícia é assegurar que o Estado e a propriedade não sejam abalados por qualquer suspeita de ameaça. Quem quer segurança quer polícia. O limite da ação policial é o assassinato. Assustou? 
colômbia mais humana... 
Bogotá projeta-se como um dos mais importantes destinos de negócios do mundo. Nos últimos anos destaca-se pela eficiência de seus programas por conta da segurança. Neste ano, o novo plano de desenvolvimento urbano e combate à insegurança leva o slogan “o ser humano como referência central da política pública”. O projeto Bogotá Humana foi aprovado pelo Instituto Distrital de Participação e Ação Comunitária que busca “promover e gerenciar espaços e processos sustentáveis de participação dos cidadãos”. Quer pra você?
... e mais segura 
Pelas ruas de pedra da Cidade Muralhada em Cartagena das Índias perambulam muitos turistas. A construção de 8 km de muro foi feita na época da colonização para espantar os inimigos que chegavam pelo mar. Palco do Tribunal da Inquisição que prendeu, matou e torturou homens, mulheres e crianças, a cidade também é sede do complexo defensivo Castelo  de São Felipe que serviu de fortaleza durante sangrentas guerras entre corsários espanhóis, franceses e ingleses. O que se espalha agora, por ali, são inúmeras câmeras de vigilância, já que o perigo pode estar dentro ou fora dos muros e a população clama por segurança. Em resposta ao monitoramento a maioria dos visitantes diz: melhor assim, a Colômbia agora já é um lugar seguro para passear e  fazer compras com tranquilidade. Diante destas vidas blindadas, as muralhas do castelo são adorno da história.
brooklin-bronx 
No trem que liga o Brooklyn ao Bronx, durante a madrugada, um grupo de jovens de calças jeans rasgadas, camisas e óculos coloridos se diverte. Parecem estar voltando de Woodstock. Em certa estação, o trem demora mais do que o normal para sair. Um policial entra no vagão. Interroga alguém em tom ameaçador. O policial veste luvas e faz com que uma pessoa se levante do chão e saia do trem. Não é um dos jovens de longos cabelos loiros. Um rapaz preto, cabelo curto, que não parece conseguir responder ao policial de onde vem e para onde vai – perguntas que o defensor da ordem, também preto, não para de fazer, em tom cada vez mais alto – é recebido na plataforma por mais três policiais. As portas se fecham, no alto falante se ouve um pedido de desculpas pelo atraso. O trem parte e os jovens neo-hippies continuam a festejar, sem se importar com o que acabara de acontecer precisamente ao seu lado. Ninguém viu nada, ninguém disse nada. Todos sabem também que a cidade que nunca dorme não pode parar, e que o trem deve seguir a linha. 
paradise now 
Sing, dance, love, peace, graze, trip. Do your own thing. Free yourself. No East Village, bairro boêmio e underground de Nova York, a porta do Living Theatre, grupo de teatro anarquista com mais de cinquenta anos de existência libertária, está sempre aberta,  com a frase acima gravada com tinta vermelha. Paraíso agora, sem mediações, sem porteiro, recepcionista, interfone...  Num sábado à noite de verão, depois da apresentação de uma peça em um festival de teatro independente, público e atores se juntam para transformar o palco em pista de dança. Alguém  propõe um desafio de dança, e logo a pista é tomada por bailarinos e outras pessoas dançando das maneiras mais livres possíveis.  Free yourself. Do your own thing. É sempre possível encontrar uma mordida deliciosamente livre na big apple.

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