quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

flecheira.libertária.327

paródia
O governo Putin ficou extasiado com a olimpíada de inverno e com a maciça segurança que produziu para evitar terrorismos. Sucesso para ele! Enquanto isso, em Kiev, seu aliado político sucumbia aos levantes populares e ao confronto violento. Por aqui, a mídia saúda a retomada da revolução laranja. Ali, nada é comparável com o vandalismo. Trata-se somente de reposição e circulação das mesmas elites no governo da ordem. Para eles, em Kiev não há vândalos, há defesa da democracia. Enfim, a democracia é a certificação do momento, desde que seja similar ao que o ocidente determina. O governo da Ucrânia, também autoproclamado democrático, não era tão democrático como se desejava, apesar de saber encenar o ritual. Há uma enorme marca subjetiva nisso, assim como o governo deposto e o transitório nada mais são que um ritual de adoração ao Estado. A violência se justifica para repor o monopólio da força pelo Estado; qualquer atitude que borre esta sagrada escritura é vandalismo.
estado de sítio
No final da tarde de sábado a polícia militar do estado de São Paulo fez uma demonstração de poder. Para garantir um megaevento, montou uma mega operação. O recado foi mais ou menos esse: “para assegurar a paz contra o novo inimigo, os black blocs, mobilizaremos toda a tropa e estratégias de dissuasão com violência sistemática”. Resultado: centenas de manifestantes e não-manifestantes foram presos e muita gente, inclusive jornalistas, saiu machucada. Para quem duvida que vivemos numa cidade sitiada, dê uma olhada nas fotos, em diversos sites, da manifestação de 22 de fevereiro de 2014.
o que acontecerá?
Noticiou-se não haver abuso ou excesso da tropa, seguiu-se o protocolo para manutenção da ordem: essa é  a estratégia. No entanto, como o black bloc é uma tática de uso livre, sem dono, chefe ou liderança, as “estratégias de dissuasão do governo” apenas atiçam a continuar nas ruas os que se recusam se calar. E outros virão, já estão aí... Como não se trata de organização, não há com quem negociar os termos de paz. É luta, nãoé guerra ou disputa.
a nova democracia?
As democracias modernas, desde a experiência estadunidense, legitimaram-se sobre um simulacro chamado
soberania popular sustentado pela representação. Hoje, em diversas partes do planeta, eventos deixam evidente que a solicitude sustenta os assustados cidadãos que clamam pela mesmice: as armas do Estado como garantia de paz e ordem. Porém, quando o encanto é quebrado, as forças mostram contornos mais definidos: paralisante e apodrecida, essa democracia rumará para a violência e o autoritarismo desabrido ou os que apreciam a liberdade afirmarão outra forma de vida? 
cinquenta anos
Perto de completar cinquenta anos do golpe de Estado civil-militar de 1964, o Estado militarizado segue nas ruas impedindo a livre manifestação de cidadãos pelo uso da violência de sua polícia. A não ser que você esteja na rua balançando a bundinha no balancê do novo carnaval de rua de São Paulo, garantido pelo prefeito meio intelectual, meio de esquerda e seu secretário de coletinho meio hippie, meio ecologista, você vai dançar é na delegacia... ou no hospital.
diz aí! qual é? se entrega!
Na semana que passou, o maior site de “mídia social” do mundo comprou o mais utilizado aplicativo de mensagem instantânea por celular. Mais uma fusão milionária de empresas de tecnologia, em tempos nos quais as multinacionais de outrora cederam lugar aos grandes conglomerados da economia eletrônica. O anúncio causou euforia nas bolsas de valores e... pane. O tal aplicativo ficou fora do ar um d ia inteiro. Hacker? Atualização? Captação de dados? Enfim, voltou. E os bancos de dados e a grana aplicada estão okay. Tudo em cima para as pessoas continuarem amando a autoexposição. O que tá rolando? What’s up? Vai lá! Se entrega! 
tudo online! tudo na linha!
As fusões de empresas de tecnologia produzem negócios articulados que atingem inúmeros aspectos da vida modulada em atividades sem fim: o site de relacionamento informa hábitos de consumo ao site de venda de eletrônicos que informa o site de e-mails que informa o site de filmes online que informa seu cartão de crédito que informa o site de viagens. Então, ao ler um e-mail ou postar uma foto, aparecem dicas de férias, uma promoção de restaurante, uma sugestão de livro ou um novo plano de crediário. Tudo modulado para o cliente. Aquele mesmo cliente que voluntária ou involuntariamente registrou seus gostos, suas preferências pessoais e de consumo. Os usuários buscam a confiança, a segurança dos dados, a praticidade, a utopia de privacidades na velocidade dos fluxos. Depois, vem o susto com os monitoramentos de governos e de empresas. Depois, estampa-se a indignação das fotos e vídeos íntimos expostos. Depois, chega o clamor por mais segurança, mais confiança, mais monitoramento.
desalinhos
Aplicaivos e provedores como esses em que a galera se expõe são também meios onde gente inquieta se encontra, planeja subversões, inventa outras práticas dissociadas do consumismo e dos conservadorismos repaginados. Há pessoas nos fluxos interessadas em bolar manifestações, em invadir sites públicos e privados, em trocar dados, palavras e imagens fora dos programas da mídia global. A conversação das resistências entre os ambientes eletrônicos e a dureza das ruas, barricadas e coquetéis molotov pode instaurar novos e insuspeitos combates aos controles. Isso é algo do qual ainda pouco se sabe. Isso é algo que já está sob o severo combate de governos, associações de Estados, empresas. Mas há potência e revolta atravessando as resignações conectadas. Onde estão? Aqui, acolá. Será? Partiu! 

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