terça-feira, 25 de junho de 2013

flecheira.libertária.300

pingos nos ‘is’ 
Anarquistas não são democratas convencionais. A democracia acolhe em seu “seio” o pluralismo que dá voz aos fascistas. A direita fascista manifesta-se com sua lei e ordem e o faz em nome da lei e da ordem do Estado. Ela subjuga, humilha, prende, tortura, mata. Nomeia as bruxas, criminosos, baderneiros da vez para sanar a sede sanguinária da população ordeira e covarde. Não me engano: a ação radical de esquerda nada tem a ver com a de direita. Da mesma maneira, um movimento auto-intitulado pacífico pode produzir desdobramentos muito mais sombrios e violentos sobre a vida de cada um. O fogo que alimenta liberdades não é o mesmo que apaga os rastros.
o alvo da polícia 
A sede da Federação Anarquista Gaúcha (FAG) foi invadida pela polícia. Após o arrombamento da porta, recolheram jornais e panfletos sob a acusação de que a FAG mantém contato com anarquistas de outros países para trazer táticas de guerrilha para o Brasil. Repetiu-se a invasão de 2009 [http://www.nusol.org/agora/agendanota.php?idAgenda=310]. Em seguida, os policiais dirigiram-se para a casa de uma integrante da FAG para prendê-la, mas não a encontraram. Aquém e além das acusações, os anarquistas seguem como alvo do Estado, seja ele de exceção, seja ele de direitos. 
anarquizar 
Se antes o desejo da massa se cristalizava na figura de um condutor, hoje a própria dinâmica das convocações e a variedade das inserções eletrônicas dispensa, ao menos por enquanto, a figura do líder. Todos lideram todos, e encontram vazão rápida para os desejos fascistas. Basta olhar a variedade de lamúrias e reivindicações para constatar que aquilo que se busca é uma estratégia, algo que faça tudo convergir para o interesse de todos. O Estado é quem deve alinhavar esses interesses, pois segue como ponto final das variadas táticas dessa estratégia. Entretanto, a anarquia é a ruína do exercício da autoridade centralizada. A ausência de líderes é irrelevante diante da emergência dos mediadores. 
sobre liderança e convocações 
Confunde-se anarquia com baderna pelo simples fato das pessoas não conseguirem viver sem uma autoridade central constituída. No entanto, em dias que se fala de movimentos sem lideranças como um traço libertário é preciso diferenciar. Na sociedade de controle a horizontalidade das relações, que dinamiza a convocação democrática, não prescinde de um quadro moral e jurídico que faz e refaz as relações de mando e obediência, retroalimentando a cultura do castigo. A alegada horizontalidade renova o exercício da autoridade centralizada em torno de uma moralidade que unifica o que deve ser comum. Desse modo, todos 
trabalham para o Um. Será o feicibuque o novo líder? 
desafinado 
Após ampla divulgação na mídia e dos efeitos da ação policial, os protestos que irromperam com as reivindicações pela redução da tarifa foram sufocados pelo hino brasileiro. Do embate direto com as Tropas 
de Choque país afora, o fogo das manifestações abrandou-se rapidamente, efeito da voz do rebanho que repetia pelas avenidas ter orgulho de “ser brasileiro”. Quem decide sair às ruas para defender a pátria consente e deseja a polícia. Sempre há uma gente disposta a experimentar a desafinar no coro, seja ele qual for, e experimentar, no presente, uma vida livre. Em meio à marcha verde-e-amarela, um bando ecoou: “nacionalismo é o caralho, esse país é racista e sanguinário”. 
uma diferença vital 
A maioria dos manifestantes que tomaram as ruas do país nas últimas semanas se identificaram com o apartidarismo. Muitos, embrulhados em bandeiras do Brasil, passaram a queimar e a rasgar bandeiras partidárias. Não tiveram problema algum em se aliar a skinheads para bater em quem as carregava. Distante da extrema-direita, mas, também aproveitando a onda apartidária, crescem na internet reivindicações pela “democratização da democracia” e pela “reforma política”. Conectados e muito atentos à insatisfação geral, certos líderes políticos do bem aproveitam para ampliar sua rede rumo à obtenção do registro legal de novo partido. Surpreendente? De modo algum! A maioria desolada apartidária da ocasião não vai além; não questiona e não experimenta práticas que dispensam Estados, polícias e bandeiras. A diferença entre apartidarismo e antipartidarismo não se reduz à semântica. 
kit manifestação 
Nos últimos anos, a máscara de V passou a ser utilizada pela legião Anonymous enquanto forma de  manter-se anônimo em uma manifestação e de seguir os preceitos do personagem. A máscara popularizou-se em ataques hackers pela liberdade de informação e como acessório durante os protestos do Occupy Wall Street. O Anonymous não é um grupo, mas busca sua legitimidade ancorado em certa reivindicação reformista baseada no “combate à corrupção e garantia da liberdade de informação”, articulando ciberativismo com manifestações de ruas, sem líderes. Nos recentes atos pelas ruas de São Paulo, a famosa máscara da legião, somada à bandeira do Brasil, foi vendida como item de kit manifestação. Nada mais que o esperado para militantes timoratos e jovens frequentadores de micareta. Todavia, como já havia afirmado certo filósofo pré-socrático, debaixo do rosto da mascara existe a máscara do rosto. E é sempre bom lembrar que a máscara difundida amplamente pelos militantes estampa o rosto de um soldado. 

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