sábado, 13 de abril de 2013

flecheira.libertária.289


21 anos depois...
O massacre policial comandado pelo governo do estado de S. Paulo, em 12 de outubro de 1992, volta a ser notícia. Em 2013 começa o julgamento dos policiais executores dos 111 presos mortos, segundo a estatística oficial, em rebelião no Carandiru. O tempo passou e pouca gente esqueceu. Entretanto, atualmente outras opiniões circulam e, dentre elas, a constatação de que os policiais serão condenados, mas não cumprirão penas nas prisões. Alguns alertam sobre a morosidade da justiça e que isso amplia na população o sentimento de impunidade da justiça. Outros apenas consideram, agora, que a ação policial do governo foi correta. Todos creem em punições e polícias; que os presos são um fardo e devem cumprir sua pena, tornarem-se cordatos e silenciosos. Eles devem exercitar seu exame de consciência e voltarem humildes para o convívio social sabedores que pagaram por seu crime. 
depois de muitos mais que 111 mortos.
A prisão não é mais a mesma. Está governada pelos negócios. O Carandiru virou Parque da Juventude, a polícia se modernizou e fez cursos de direitos humanos para permanecer polícia, os prisioneiros são os mesmos miseráveis, os estudos sobre as prisões atualizam sua imprescindível existência, todos reformadores continuam dizendo que ela é uma escola do crime. A prisão passou também a ser uma empresa lucrativa, espaço de investimentos empresariais, está esparramada por vários municípios como resultante de política de descentralização e de incrementos econômicos inclusivos. A prisão permanece sendo a imagem do medo da punição que habita cada cidadão pobre e miserável, espaço contínuo e ampliado de investimentos variados em penalizações e de negociação do cumprimento da pena pelos programas econômicos de inclusão do preso. A prisão é o espaço de inovações em legalidades, programas de assistência, empreendedorismos e ilegalidades.
sobre o traço estatístico e irrelevante sociologicamente
O censo da população de rua indica haver 15 mil habitantes na cidade de São Paulo. O censo das prisões para jovens no Brasil mostra não haver mais de 8 mil jovens encarcerados. Estes números transformados em estatística representam traço, e seriam irrelevantes sociologicamente. Mas não são. Os programas da chamada política pública atestam isso. Estes programas não se destinam exclusivamente a maiorias ou minorias da sociedade civil organizada, ajustadas aos processos de negociações. A população de rua, destinada a morrer, deve ser acompanhada pela caridade religiosa, programa de albergues e se ajustarem ao 
higienismo social. Aos jovens destinados ao provável viver, uma variedade de programas, serviços específicos, secretarias especiais e supervisões federais. 
sobre o traço estatístico relevante sociologicamente
Hoje em dia, a população de rua passou a ser alvo de investimentos com o programa que combina saúde e segurança destinado à internação involuntária de usuários de crack. Técnicos, oportunistas políticos e moralistas sanitaristas investem nisso como produção de empregos, justificativa política e sobriedade moral: zelam pela população de rua. Todavia, com mais ou muito mais programas destinados a estas populações, as autoridades governamentais e intelectuais beneficiadas pelas políticas públicas evitam saber o que quer alguém que vive nas ruas, e muito menos o que os jovens encarcerados pensam dos programas que são aplicados sobre eles. São populações que servem como alvo de investimento em conduta moralmente aceita. Elas não têm quereres: devem se subordinar aos pastores da razão e das almas que olham por elas. 
1 qualquer
Para estes miseráveis nas ruas e nas celas, mais um ou outro programa é irrelevante. Sobre eles aumenta o efetivo policial e eles também o desejam. Não há nem haverá mais surpresas sobre notícias de carnificinas, calcinações, chacinas, valas comuns em cemitérios ou lugares ermos, levantes, homicídios sorrateiros. Tampouco o cidadão se surpreenderá com o marasmo da justiça. Acostumaram-se ao efeito macabro: a população insiste em mais punições, implora por políticas públicas, ajoelha-se diante dos políticos dedicando-lhes seu voto de tempos em tempos, aceita as migalhas da caridade, e fartas de serem esquecidas, por vezes se voltam para a sua comunidade para valorizarem sua cultura local e seu estilo de vida. Isso é o que delas se espera. Elas devem aguardar por uma novidade, razoavelmente satisfeitas, em seu campo de concentração a céu aberto. Um dia, talvez, algum empreendedorismo dará destaque a um qualquer dessa vida monótona, restrita, conformista e conformada das periferias das cidades, e o transformará em membro do efêmero cast dos excluídos. Enquanto isso, eles esperam a morte chegar!

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