quinta-feira, 8 de setembro de 2016

flecheira.libertária.448

barricadas 
Desde quarta-feira, 31 de agosto, manifestações tomam conta de várias cidades do país. Entre as reivindicações, há desde a saída do delegado presidente passando por novas eleições, e seguindo a recomendação da ONU pela desmilitarização da polícia. No meio do trajeto conhecido irromperam os black blocs, confrontando a polícia, liberando a passeata e evitando mais repressão. Escancararam, mais uma vez, o quão violentas são as tropas do Estado. Em São Paulo, com o rosto coberto, um jovem vestindo negro, ao ouvir de um militante organizado, “aqui tem que ser pacífico”, respondeu: “aqui tem que ter barricada”. 
o papel de polícia 
Nenhum jornal de grande circulação estampou as dezenas de corpos feridos pelo Estado. Restringiram-se a dois ou três casos. Um dos maiores veículos da imprensa nacional condenou a ação dos black blocs, identificando-os como “soldados da arruaça”, “delinquentes”. O editorial do periódico, em conformidade com a ordem de pai para filhos, explicitou que se preocupa com a defesa da propriedade e esporadicamente com a vida dos milhares que saem às ruas. Expôs como exercita a figura de policial. De tão democrático ele garante que o dissabor de um colunista seja publicado. E o colunista, em seu espaço reservado, saboreia sua insatisfação e garante seu emprego sem perder a linha. Confortavelmente reiterou o editorial com o argumento senhorial de que o black bloc é coisa de moleque. Enquanto isso, em Caxias do Sul, um advogado preto que intercedeu a favor de manifestantes abordados violentamente pela polícia, foi espancado e seu filho, que saiu instintivamente em sua defesa, indiciado por tentativa de homicídio. 
de olhos bem abertos 
Na mesma semana em que os protestos voltaram a tomar as ruas, um dos fotógrafos que perdeu a visão depois de receber um tiro da polícia durante as jornadas de junho de 2013, teve a ação judicial que movia contra o Estado negada pela justiça. Na última quarta-feira, uma jovem de 19 anos também ficou cega ao ser alvejada por um estilhaço de bomba propriedade do Estado. Seja pela violência, ou política, é impossível não ver: o Estado mata, o Estado cega e o Estado é o justo! 
troca-troca da pacificação 
Após o julgamento que levou ao impeachment da presidente, movimentos de esquerda organizaram uma série de manifestações contra o delegado e agora presidente. Em algumas delas, adeptos da tática black bloc radicalizaram a monótona e ordeira marcha pacífica, quebrando bancos e atacando a polícia. Como se não bastasse os tiros e as bombas da polícia, enfrentaram a repressão no interior da própria manifestação. Líderes de organizações com vínculos partidários disseram não haver espaço “nas nossas manifestações para práticas dessa natureza” e que os black blocs deveriam ser “convidados a se retirar”. Além disso, orgulham-se em dizer que seus liderados colaboraram com a PM denunciando a presença dos mascarados. No final do ato deste último domingo, mais uma vez os que se arriscaram a se mascarar eram prontamente reprimidos pelos manifestantes pacíficos. A tática black bloc escancarou, mais uma vez, o amor dessas organizações e seus filiados pela polícia. Enquanto isso, alegremente, a direita – na companhia de skin heads –, comemorou a vitória passivamente e sem ser incomodada, deglutindo bolo com champanhe na porta da Fiesp.

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