para não esquecer
Na última semana, a imprensa divulgou a “descoberta” dos livros que registravam a entrada e saída de pessoas nas dependências do Dops entre 1971 e 1979. Os documentos que, segundo a reportagem, estavam “perdidos” até agora, no mesmo prédio em que hoje funciona o Memorial da Resistência, explicitam o óbvio ululante: o funcionamento da ditadura civil-militar dependia da ampla participação de grande parte da sociedade. Além de militares, os livros identificam a presença assídua de funcionários de empresas privadas e outros “civis” no prédio em que pessoas eram presas, torturadas e mortas durante a ditadura. Da mesma maneira que estes documentos foram “esquecidos”, muitos dos nomes citados neles seguem levando uma vida normal e contam com a colaboração dos que não se lembram e que tampouco se lembre de onde estiveram durante os chamados “anos de chumbo”. O esquecimento é conveniente somente aos poderosos e aos covardes.
em altamira
A polícia de Altamira, cidade próxima ao empreendimento de Belo Monte, tem realizado operações em prostíbulos da região em busca de mulheres que estejam sendo exploradas sexualmente. Estas mulheres são levadas a centros de assistência social e postas sob a tutela do Estado. Desse modo se regulamenta e normaliza a situação nos arredores da usina. Alguns associam as irregularidades na prostituição aos mais de 20 mil trabalhadores pobres empregados na construção do grande empreendimento, ignorando que a exploração de mulheres e meninas por grandes latifundiários, agroboys e seus capangas – mesmo com a implementação de delegacias da mulher – sempre foi corriqueira na região. A notícia, que incita aplausos à justiça no Xingu, ignora também a violência contra mulheres indígenas e ribeirinhas as quais, coincidentemente, lutam de maneira incessante contra a construção da usina. Os aplausos efusivos servem para recobrir o berro das mulheres que seguem violentadas diariamente nas mãos de machos proprietários. Machos que sustentam seus negócios, amparados pelo próprio exercício da Justiça.
enredados
Em Brasília, na última semana, foi criada a denominada “Rede Sustentabilidade”. Mesmo utilizando o modelo de contribuição pela internet como o adotado pelo Partido Verde e visando, segundo seus próprios idealizadores, romper com a ‘lógica dos partidos’, uma das lideranças da Rede – apontada como presidenciável nas próximas eleições – argumentou que a nova organização não se posicionará nos moldes considerados usuais. Nem direita. Nem esquerda. Estamos à frente, concluiu. Não é de hoje que a palavra sustentabilidade, travestida de roupagem avançadinha, sustenta a política, esse velho negócio. Dessa maneira, não mais sob o nome de Partido, certos jovens se entregarão ao que se apresenta como o que está mais à frente, porém, pouco a pouco, acabarão enredados lado a lado.
perigosas estrelas cadentes
O meteoro que explodiu no céu da cidade russa de Chelyabinsk não é o primeiro e nem último a cair sobre a Terra. Enquanto astrônomos e agências espaciais preocupavam-se com a proximidade da passagem do asteróide 2012DA14, gravações amadoras, imediatamente compartilhadas pela Internet, registraram a queda supersônica do meteoro com potência de 30 bombas atômicas. O espetáculo natural trouxe espanto, temor, janelas de vidro quebradas e muitos feridos. Trouxe também a questão da vulnerabilidade planetária agora em relação aos pequenos fragmentos de asteróides, as estrelas cadentes. A NASA conseguiu mapear nos últimos 15 anos mais de 95% dos grandes asteróides ou cometas que cruzam a órbita terrestre e poderiam destruir todo o planeta. Porém, desconhece-se 99% dos asteróides menores que o 2012DA14, as estrelas cadentes, cujo impacto poderia devastar áreas metropolitanas inteiras.
investimentos candentes
Estrelas cadentes são consideradas sinais de bons presságios, mas agora elas também são tomadas como ameaça à segurança. Autoridades russas sugerem reunir cientistas para a construção de um sistema de mísseis para desviar asteróides. Um deputado federal estadunidense articula-se para também propor um programa para defender o planeta de corpos celestes. Não são apenas os governos que estão preocupados com a segurança planetária. Empreendedores do Vale do Silício já doaram dinheiro para a Fundação B612 (nome do asteróide habitado pelo Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry) colocar em órbita um telescópio espacial para caçar ameaças cadentes. Há ainda as empresas Planetary Resourses, fundada em 2012, e a recém-criada Deep Space Industries que anunciaram a intenção de explorar minérios de asteróides próximos à Terra, o que além de eliminar os perigos cadentes traria divisas extraterrestres para engordar o PIB mundial. Se para alguns estas empreitadas espaciais privadas eram vistas como ficção científica, elas acabaram de encontrar o instante candente para receberem de investidores o selo de melhor e mais seguro negócio do planeta, em nome da segurança e da salvação.
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