perdas e orações
O lamento e as orações é o que oferece a família de um perdedor radical que mata crianças e professores de outras famílias. É o que ela pode fazer permanecendo abismada, conservadora e imobilizada. Seu filho atira e mata a mãe, colecionadora de armas, antes de iniciar os disparos contra os outros que terminam em suicídio. Repetitiva notícia que estampa o terror cotidiano, o desespero mudo recorrente de cada perdedor radical que sai do anonimato, da insignificância e do fracasso como capital humano. É o lado recoberto pela religião no neoliberalismo, a face oculta revelada, o hálito do sobrevivente temporário. Outros virão. São efeitos das desesperadas buscas por seguranças fundadas no derradeiro ataque para extirpar seus males. Enfim, é somente uma maneira de sair da morte incógnita diária que te destina o conformismo e as convocações à participação. Outrora, foi uma provável criança escolarizada e educada para defender-se de fantasmas e ameaças estapafúrdias, crente na paz pela guerra.
outros...
Alguém na plataforma lotada de gente mal dormida, quase diariamente, atira-se diante do trem do metrô. Por instantes vira notícia local entre os que se atrasarão para chegar às suas ocupações. Não é mais notícia para a mídia; é a estatística do comum, a expressão da morte do nada extraordinário, do que atrapalha e atrasa o rotineiro ato de marcar o ponto na jornada de trabalho que te quer inteligente, inovador e moderado. Cada suicídio tem sua história de desistência ou fracasso. É tão somente a cara do que te exige e a máscara do emudecido ressentimento. Debaixo da máscara do rosto há o rosto da máscara.
e outros mais...
Há também os que diante da história de resistências atiram para acabar com práticas livres e democráticas. Pretendem exercitar o poder soberano investidos de boas intenções e competência competitiva. São salvadores dos procedimentos burocráticos; desprezam a história e as resistências que um dia, seguramente por oportunismo, nela se alojaram. Aninham-se sobre as asas da lei e da religião, exigindo a conduta uniforme e informe dos demais, revestida de pluralismo. Exigem dos outros que desçam aos genuflexórios e orem pela sua continuidade e o alegado sucesso de todos. São os esclarecidos deslizando pela cômoda e pavimentada via para seu sucesso e subserviência. São incapazes de renunciar a mandar. Também são perdedores radicais.
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