Em Porto Alegre, cinquenta pessoas decidiram ir além da família nuclear. Nossa mais nova colunista começa a relatar a experiência
Por Katia Marko*, editora da coluna Outro Viver
Viver numa comunidade é viver em envolvimento,
importando-se com os outros –
com sua alegria, sua felicidade, sua vida.
Crie um cuidado pelos outros, envolva-se,
e o ego vai desaparecer por si só.
E quando o ego não é, o ser está livre,”
(Osho, A arte de Morrer)
importando-se com os outros –
com sua alegria, sua felicidade, sua vida.
Crie um cuidado pelos outros, envolva-se,
e o ego vai desaparecer por si só.
E quando o ego não é, o ser está livre,”
(Osho, A arte de Morrer)
Meu primeiro contato com as palavras do Osho foi em 1991. Lá se vão 21 anos. O livro A Semente de Mostarda alimentou a minha já latente inquietação juvenil. Outros autores subversivos entravam em minha vida pelas mãos de professores da faculdade de jornalismo. Uma certeza começava a se fortalecer em meu coração. A vida pode ser diferente. O sistema familiar nuclear não é a única opção.
Num outro canto da cidade iniciava uma alternativa que só vim a conhecer 10 anos depois. Um grupo de amigos e ex-clientes de terapia se reuniu em torno de Prem Milan e Paula Veeresha, terapeutas de Bioenergética e Primal, em meados dos anos 1980. Tendo embarcado juntos num processo de abertura emocional e de consciência, surgiu o sonho de viver juntos num espaço onde se pudesse explorar e aprofundar esta expansão – praticar uma forma de viver mais saudável, verdadeira e amorosa.
Justamente em 1991 o grupo uniu esforços e comprou um sítio no Cantagalo, na região metropolitana de Porto Alegre. Muito trabalho se seguiu para transformar os galinheiros e estábulos em salas de grupos e de estar coletivo, construindo banheiros e toda a infra-estrutura necessária. Desde o primeiro ano, grupos de terapia e Campos de Meditação traziam pessoas e recursos para o sítio sobreviver e crescer. Paralelo ao crescimento do sítio, surgia o Namastê, o Centro de terapia bioenergética e meditação em Porto Alegre.
O nome Osho Rachana chegou na década de 1990, trazido do Osho Meditation Resort, em Puna, Índia. Rachana significa Criação.
Ao longo dos anos, muitas pessoas passaram pela comunidade. Alguns moraram por um tempo, sempre em pequenas casas particulares, ainda numa forma de viver muito parecida com a convencional. Porém, em 2004, começou um novo movimento. Eu já fazia terapia no Namastê desde 2001. Nesta época participava da formação de terapeutas. O meu contato se deu após uma experiência familiar desastrosa. Recém-separada e com uma filha de seis anos, precisava de ajuda.
Então em 2004, a ideia de realmente criar uma comunidade começou a se concretizar. No início foram oito pessoas. Após dois meses, já eram vinte. Vários modelos de vida em comunidade foram vivenciados até chegar ao que é hoje. Acompanhei tudo, mas ainda sem coragem de encarar. Em uma nova relação, tive minha segunda filha em 2005. Mas a vontade de viver o sonho adormecido persistia. Foi quando em 2008 a existência colocou diante de mim a escolha. A casa em que morávamos foi solicitada pelo proprietário. Neste momento, não tive dúvidas. Apesar da resistência inicial do meu companheiro e da filha pré-adolescente, banquei até o fim. O caminhão com a mudança chegou na comunidade no dia 27 de agosto. De lá pra cá, muita coisa mudou…
Hoje vivem na Comunidade Osho Rachana quarenta adultos e dez crianças. Compartilhamos uma forma de conviver diferente, coletiva, com muita troca, terapia, meditação e amizade. Temos entre 0 e 60 anos. Somos terapeutas, engenheiros, jornalistas, servidores públicos, mães, pais, estudantes, brasileiros, estrangeiros, médicos, dentistas, artistas, buscadores, sonhadores e realizadores de nossas vidas. Como vivemos? Começo a contar na próxima.
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Katia Marko é jornalista, terapeuta bioenergética e uma pessoa em busca de si mesma.
Katia Marko é jornalista, terapeuta bioenergética e uma pessoa em busca de si mesma.
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