domingo, 10 de junho de 2012

flecheira.libertária.248 - nu-sol


comissão da verdade: agora vai? 
Menos do que punir ou rever a lei da anistia, a  Comissão da Verdade deverá situar os efeitos desastrosos que o capitalismo provoca em cada um quando lança mão de regimes ditatoriais para progredir em seu desenvolvimento. Não está em questão um julgamento, mas somente a exposição dos efeitos sobre os envolvidos (torturadores e torturados). Pode ser que daí em diante ninguém mais se assuste com a corajosa atitude dos jovens que produzem escrachos e tampouco com a constatação que se tortura diariamente em delegacias; que polícia e tortura formam um casamento indissolúvel; que toda pessoa livre tem o dever de impedir que qualquer autoridade meta mão no corpo de qualquer um; que nada se esgotará nos resultados da  Comissão da Verdade e que muitas outras verdades libertárias devem ser pronunciadas, sem o consentimento do Estado.
e para onde vai? 
Trata-se da coragem em pronunciar verdades e não de produzir mais um negócio político. Se toda criança e jovem deve saber o que se fez com os corajosos resistentes às ditaduras, é tempo também deles saberem que não há democracia sem dispositivos de exceção (dentre eles o voto obrigatório). Precisamos limpar o terreno deste “imbróglio” chamado segurança em nome da liberdade neoliberal e da obsessão dos cidadãos medianos pela punição como garantia de sobrevida. Até quando os tolerantes governantes e seu respectivo rebanho sustentarão a  necessidade da prisão para jovens? Dizem que entramos na era da cultura de paz, mas ainda tratam a paz como gestão do negócio político fundado na cultura do castigo. Nisso não há paradoxo, somente  capturas de revoltas, gerando novas institucionalizações do medo.  
verdades 
Lançado na mesma semana em que foram nomeados os integrantes da Comissão da Verdade, um livro sobre a história recente do Brasil – contendo algumas páginas com depoimentos de homens abomináveis que dedicaram suas sobrevivências às práticas de tortura e assassinato, em nome da segurança e do Estado – trouxe à tona alguns dos destinos reservados aos corpos de homens e mulheres resistentes à ditadura civil-militar. Os depoimentos revelam a existência desde propriedades rurais de torturadores, que serviram como cemitério dos chamados “desaparecidos”, até uma usina de cana-de-açúcar localizada ao norte do estado do Rio de Janeiro, onde foram incinerados mais de uma dezena de cadáveres. Aos poucos, são expostas as violências inomináveis perpetradas pelo Estado. Aos poucos caem as máscaras dos timoratos que defendiam em editoriais a argumentação de uma suposta brandura da ditadura civil-militar no Brasil. Aos poucos, para além das negociações políticas, irrompem verdades que escancaram a covardia e a violência do governo.
para mães e filhos 
Nos anos 1970 e início dos 1980, o governo argentino roubou as crianças filhas de militantes que resistiam à ditadura. Em entrevista concedida essa  semana, o ditador Jorge Videla justificou tal roubo como uma “solução humanitária”. No Brasil, muitas mulheres foram sistematicamente violentadas ainda grávidas por homens abjetos como Coronel Ustra, Delegado Calandra, entre outros canalhas. Algumas, torturadas diante de seus próprios filhos. Todavia, se na Argentina as ações de escraches organizadas pelos filhos dos “desaparecidos” expuseram homens desprezíveis como Jorge Magnaco, responsável pelos partos no interior da Escola de Mecanica da Armada, e que perdeu o emprego e a casa em que morava depois de terem sido revelados os serviços que prestara a ditadura, no Brasil, a maior parte da população desconhece quem torturou em nome da segurança e do Estado. É preciso, assim como ocorreu pelas ruas de Buenos Aires, expor por aqui o endereço e em que estão empregados hoje estes homens covardes que dedicaram suas vidas a derramar o sangue de mães, filhos, irmãos e amigos destemidos.
dia das mães, dia dos pais
No último domingo – dia dedicado à celebração das mães em todo o Brasil – mulheres desceram a rua Augusta em direção ao Largo do Arouche levantando a bandeira com o arco-íris e bradando com megafones contra as violências sofridas por seus filhos gays. Diante do ato, organizado por mães e a LGBT, cabe conclamar um novo protesto para adiante. A data propícia? O dia dos pais! Por que não convidá-los a deixar de lado a barriga, a cerveja morna, os programas de auditório? Por que não convidá-los a também descerem rumo ao Arouche entre purpurinas, plumas, beijos, amassos e faixas com reclames? Por que não incluí-los nessa dança em família? Talvez com essa festa no dia dos pais, certos gays decidam abdicar de uma vez por todas ao casamento, à união legal e ao direito do macho hetero. 

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