domingo, 10 de junho de 2012

corversação contra um tempo conservador 1: LEI ANTIFUMO.


ole a lei é o mecanismo que assegura ao estado a ordem das coisas separando devidamente os cronópios dos famas; os viciados dos não viciados;  os ajustados dos desajustados. Na sociedade de controle os mecanismos para o cumprimento da lei são: a perseguição / a prisão / a extorsão / a violência / a morte. A sociedade de controle codifica / veta / enclausura. Na mesma medida a sociedade de controle,  através dos atos secretos, garante os seus ‘paraísos artificiais’, os seus bordeis privados, os seus vícios insólitos: a compulsão, a cafetinagem. Tudo à custa do dinheiro público. A sociedade de controle, tal como os nazistas, em nome da eugenia, do sangue puro, da grande saúde, persegue os fumantes, vigia, patrulha, enquadra, criando uma histeria coletiva, propagando ideologicamente o ódio contra o fumo, contra a pessoa por trás da fumaça. A sociedade de controle agora proíbe o cigarro, depois será o livro, o riso, a poesia. Fahrenheit 451 e 1984 são curiosos diagnósticos desse avanço fascista. A lei, na sociedade de controle, é uma máquina déspota que atravessa a carne, fere e não cessa de ferir. 
Nilson Oliveira, editor da revista Polichinello 
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Em meio a um trânsito motorizado infernal, na Av. Dr. Arnaldo, somos surpreendidos por um grande painel luminoso que marca o nº de dias, horas e minutos que  São Paulo respira melhor. Por todos os lugares cartazes de é proibido fumar. Pior, a PUC/SP polui o seu campus com faixas e painéis estampado:  apague o desrespeito. Tradução do slogam: uma vontade moral que governa os corpos impondo modelos de saúde e de vida segundo curvas de normalidade medidas por dados estatísticos e por pesquisas científicas, em sua 
maioria, testadas em ratos! Que signo de poder emite a palavra de ordem desrespeito? Ora, respeito e desrespeito são modos de ser da maioria — os mortos—vivos que incapazes de auscultar a vida e produzir seus próprios valores, só querem viver conforme valores e modelos que lhes são impostos. O que eles aspiram?  Serem governados. Ouse afirmar sua singularidade, sem consideração e temor diante da opinião da maioria. Desprezamos as  virtudes que estão relacionadas com o respeito e com o respeitado, em suma: tudo que tem a ver com a “virtude do rebanho”.  
Silvana Tótora, Chefe do Departamento de Política 
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Há alguns anos atrás escrevi um texto: “Cuidado, os higienistas estão voltando!” Era uma referência à recepção das  idéias, programas e projetos em torno do  tolerância zero de Nova York. Aquele higienismo contemporâneo produziu um mimetismo nos trópicos:  demodê lá, ele tem detonado novas estratégias para reconduzir ao nascimento da idéia de polícia: a polícia médica. No Rio de Janeiro, cenário rebelde através dos séculos, o museu das grandes novidades veio com tudo: massacre nas favelas, truculência enaltecida, extermínio profilático ... Agora a lei  antifumo foi aprovada, uninar na rua quase vira crime hediondo e o carnaval de rua que havia voltado com centenas de manifestações livres e divertidas começa a ser “ordenado”. O fim da boate  Help é um ataque às meninas da Atlântica. O bafômetro ronda à noite e todo o dia uma nova legislação ataca a convivência sexual. A vida íntima, pessoal, singular está na mira. O bom das cidades é ser espaço de encontros imprevisíveis, de diferenças, lugar de desassossegos e transbordamentos, aventura existencial. Chega de polícia! 
Vera Malaguti, Instituto carioca de criminologia, UFF 

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