“Inspirados pelas aberturas propostas pelas estratégias de Redução
de Danos, fomos levados, neste texto, a repensar a clínica das drogas como
exigência para que esta última possa retomar seus encaminhamentos éticos, desviando-se
das posturas moralizantes, e fomente a adoção de políticas públicas de
tratamento, de modo que inclua estratégias de tratamento mais ousadas que
assegurem a pluralidade de modos de vida. Visa-se criar políticas fundadas em
discussões coletivas, sem exclusão do paciente, e apoiadas no respeito à
multiplicidade de pontos de vista. No lugar de preceitos universais pensar em
táticas locais, em vez de padronizações normalizadoras afirmar respostas
singularizantes e fazer com que a transmissão de conhecimentos fixos dê espaço
à experimentação (Rolnik, 1996). Foi essa vontade que nos convocou a propor
essa reflexão, na certeza de impregnar muitos interessados em renovar uma
prática clínica já há muito desgastada.
Muitas outras mudanças na clínica das drogas serão
observadas a partir da eleição dessa nova ótica. Aqui tratamos de algumas delas
certos de não esgotar a discussão, mas, ao contrário, deflagarseu início.
Sabemos que, se muitas vantagens foram apontadas, também precisamos estar
alertas para os muitos perigos que esta migração pode acarretar. Nosso objetivo
é deflagrar um movimento de problemtaização constante que não tome as
dificuldades encontradas no percurso como impasses intransponíveis e
desanimadores e sim como desafios a serem superados não só ao nível das
discussões acadêmico-científicas, mas também e, principalmente, no cotidiano de
nossas práticas. Enfim, afirmar a clínica como clínica de si mesmo, ou seja,
clínica da clínica, ato ininterrupto de traçar o mapa territorial de seus
impasses e desafios”.
(em: Territórios da clínica: redução de danos e os novos
percursos éticos para a clínica das drogas, Tedesco e Souza)
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