Preciso e minimalista, longa exibe pulso firme da diretora ao expor falência da justiça, referida apenas à letra fria da lei
Por Jean-Claude Bernardet, em seu blog
Vi na televisão uma entrevista com a juíza que assinou o alvará de soltura de Cadu, assassino confesso do cartunista Glauco e seu filho. Em liberdade, ele teria voltado a matar. A juíza disse que agiu de conformidade com a lei baseando-se em dois laudos que justificavam sua decisão. Tive a impressão que a juíza não tinha contato com a realidade mas só com a papelada.
É o que o filme de Caru Alves expressa com precisão. A narrativa trabalha duas séries: de um lado audiências em um juizado de menores em que são acusados adolescentes pobres. Eles são defendidos por uma advogada que assume a defensoria pública. A outra série é composta pelas relações dessa mesma advogada com um rapaz que acabamos descobrindo ser seu irmão. O contraponto entre as audiências (que lembram cenas de Juízo de Maria Augusta Ramos) e a intimidade dos irmãos salienta que a justiça não tem acesso às pessoas e se pauta pelo texto da lei e pelo que está escrito nos autos.
O escândalo irrompe quando a “delinquência”, “compreensível” e “normal” quando se manifesta em meios pobres e famílias estouradas, surge na classe média onde não faltam comida nem teto.
A narrativa é contida. Ela reduz personagens e temática ao essencial. Nenhuma palavra a mais do que o estritamente necessário. Esse minimalismo é harmonioso: construção da narrativa, diálogos, interpretação dos atores.
O minimalismo e a narrativa despojada não são do agrado do público maior. Fui a uma sessão no fim da tarde de domingo, éramos uns quinze.
De Menor marca a estreia de uma diretora de pulso firme.
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