atiçando a memória
No Chile, em 11 de setembro de 1973, militares apoiados por civis e agentes estadunidenses promoveram um golpe, garantido na bala, e que transformou também um estádio de futebol em campo de concentração. Nove anos antes, a ditadura civil-militar brasileira foi pioneira nesta tecnologia, usando o estádio Caio Martins, em Niterói, para encarcerar quase duas mil pessoas. Hoje, as reminiscências do governo civil-militar em tempos de governança democrática fazem com que a resistência ao golpe seja atualizada nas ruas, com manifestações e bombazos. Mas a memória do golpe chileno não anima apenas as forças resistentes; muitos aproveitam a data para recordarem, saudosos, um tempo ordeiro para eles. Competem para serem agraciados com a honraria que leva o nome do “augusto ditador”, oferecida pelo Ministério da Defesa chileno.
a produção do terror
Em meio aos embates em torno da memória do golpe, uma bomba explodiu no metrô da Escuela da Armada, no dia 8 de setembro, ferindo mais de uma dezena de pessoas. Prontamente, o governo chileno da Concertación declarou que a bomba era “obra da direita”. Um cientista político cravou na mídia internacional que os responsáveis eram anarquistas. Das 29 explosões no país neste ano, algumas foram reivindicadas por militantes libertários e não produziram feridos. A utilização dessas notícias pelo governo objetiva a revisão das leis sobre terrorismo e o recrudescimento da repressão. Além disso, o governo mobilizou mais de 1600 policiais para obstruir as históricas manifestações de rua no dia 11 de setembro. Relacionar anarquistas a terroristas é a velha estratégia de Estado, sob qualquer regime, para garantir a continuidade do exercício de seu terror. o financiamento e as organizações de ditadura
Nos últimos dias, a Comissão Nacional da Verdade divulgou documentos que registram a delação, por parte de grandes empresas, de funcionários envolvidos com o movimento sindical, entre 1964 e 1985. São elas: Embraer,Petrobrás, Ford, General Motors, Brastemp, Toshiba, Kodak, Johnson, Volkswagen, Philips e muitas outras. Além de fornecer dados pessoais dos trabalhadores, as empresas contratavam funcionários com o intuito de identificar possíveis opositores. A divulgação destes documentos atesta o óbvio que se tentou escamotear ao longo de décadas: no Brasil, assim como em outros países da América do Sul, a ditadura foi civil-militar. Explicita-se assim que as empresas não colaboraram com a ditadura apenas com financiamentos, mas também como forças repressoras organizadas.
machos por caralho f.c.
Na última semana, um jogador da seleção brasileira foi cortado pela comissão técnica sob a alegação de “indisciplina”. Sob o efeito do corte, identificado por polêmicas espalhadas em redes sociais como o resultado de suposto flagra do relacionamento sexual entre jogadores na concentração e dos desdobramentos da punição por racismo ao Grêmio, o Corinthians divulgou manifestação “anti-homofóbica”. Convocou os “fiéis” a calar os gritos de “bicha” dirigidos aos adversários, temeroso de punição pelo Tribunal Esportivo. A sua torcida organizada há um ano julgou publicamente um jogador que postou fotos distribuindo beijos na boca entre amigos e entrou com ação judicial contra a existência das “gaivotas fiéis”, torcida gay do mesmo club. Sustentado pelo discurso da tolerância, a política dos machos f.c. segue adiante, condenando, com apoio do “bom senso”, o prazer entre os jogadores, confinando os corpos às concentrações e fazendo do triunfante futebol uma miséria maior do que o 7x1 ao som de hino, lágrimas e odores familiares.
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