sábado, 6 de setembro de 2014

flecheira.libertária.353

futebol e cultura de paz 
Desde muito tempo o futebol é objeto da política. As grandes empresas que hoje governam o espetáculo buscam instrumentalizá-lo como via de promoção de condutas. Lê-se na entrada do Estádio Municipal de São Paulo a inscrição Cultura de Paz. Diversas equipes e jogadores tornam-se embaixadores de secretariados da ONU, como UNICEF, UNESCO e PNUD. FIFA e CBF, atrelados às organizações internacionais. Usam a peleja esportiva para edificar discursos sobre a tolerância, fair play e o combate ao racismo. A retórica de velhacos negociantes e serviçais de ditadores busca com isso consolidar sua benevolência complacente. Futebol é paixão! Não se mede, edifica ou racionaliza. 
a moral do rebanho 
Simultâneo à benevolência complacente e hipócrita de dirigentes, a turba das arquibancadas não se furta, no Brasil e no planeta, em urrar seus clamores de ódio belicoso e fascista. Quem assiste às partidas sabe dos incontáveis gritos de ódio, terror e extermínio por meio dos quais as torcidas se atacam mutuamente. Por vezes, esses gritos são submetidos à prova e resultam em derramamento de sangue. Só nas últimas semanas, dois episódios ganharam destaque: o assassinato de um torcedor do Palmeiras e os gritos de “macaco”, proferidos por torcedores do Grêmio contra o goleiro do Santos. A moral do rebanho é assim, afirma-se no extermínio e humilhação do outro. Como se diz por aí: “tolerância tem limites”. Eis tais limites expressos nos dois casos! Eis a expressão modorrenta, nos dois casos, da cultura da tolerância na qual se baseia a cultura de paz.futebol é diferença Não existe futebol sem adversários, discordâncias, diferenças, provocações e arroubos de emoção desproporcionais. Torcer não tem nada a ver com assumir uma identidade. Torcer é a condição para entrar na partida. No futebol, seja torcendo ou jogando, não há neutralidade. Não se trata de metáfora da vida ou da guerra. O futebol é a expressão de que a vida é combate honroso e, para isso, é preciso que haja adversários. Para que ambos sigam existindo. Não se completam 100 anos de história, lutas e glórias sem vitórias e derrotas. Essa é beleza trágica da peleja, o combate não tem fim. 
futebol é bola na rede 
Os gritos de ódio racistas contra negros, gays, mulheres, imigrantes ou mesmo contra a torcida do outro time, expõem o fascismo de quem os profere. Não têm nada a ver com a peleja em campo e não há tolerância que os façam cessar. Os torcedores que frequentam os estádios são os mesmos cidadãos que pedem mais polícia e segurança, que defendem a redução da maioridade penal, que governam suas vidinhas mornas segundo a moderação conservadora que lhes é característica. Basta lembrar que a torcedora do Grêmio, flagrada pelo monitoramento televisivo urrando expressões racistas, é funcionária da Brigada Militar do Rio Grande do Sul. A alegria do gol explode na cara do adversário, a tristeza da derrota se sente junto aos seus. Futebol é bola na rede, o resto é imputação de canalhas, negociantes e oportunistas. 
arco-íris embolorado 
Cidadãos de bem da comunidade LGBT têm feito pressão e campanha eleitoral para elegerem o presidenta que melhore a vida da comunidade, garantindo a criminalização da homofobia e a legalização do casamento gay em seus programas de governo. Obediente e participativa, a comunidade acredita que seu voto poderá assegurar que nunca mais apanharão ou morrerão por serem gays. Será?! Para se empoderarem e serem socialmente aceitos, dão continuidade ao Estado e suas intrínsecas violências, de polícias e tribunais. Crentes na promessa de segurança, entregam suas vidas e corpos, outrora escandalosos e perigosos, para o melhor governante. Casados e politicamente conscientes, tornam-se apenas mais algumas cifras em meio à maioria abúlica. 
o mofo do jornalista e do voto 
Apaniguado pela mídia a qual serve semanalmente, determinado escritor e jornalista embolorado, expert em polêmicas, declarou recentemente votar nulo, pois seu esporte favorito “é torcer contra” todos os partidos que disputam o pleito. Entretanto, o posicionamento mofado do jornalista, queridinho de novos e antigos velhacos, explicitou que o “voto nulo” não somente é propriedade de ressentidos como sua “torcida contra”, mas também faz parte do ritual eleitoral. Como alertaram os libertários, o voto expõe a covardia de quem abandonou a própria liberdade. É preciso abolir sua obrigatoriedade, ranço político do ditador Vargas que contamina os partidos e as ovacionadas coalizões. Todavia, é preciso ir mais adiante e indagar acerca da modorrenta continuidade dos rituais eleitorais. Sobre isso, tristes jornalistas, ressentidos, amantes da ordem, apaniguados por proprietários, se calam. 

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