quinta-feira, 13 de setembro de 2012

flecheira.libertária.263


é proibido fazer aglomeração? 
No dia 23 de agosto, última quinta-feira, a tropa de choque da polícia militar do Rio de Janeiro invadiu o campus Maracanã da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro). O motivo era dispersar uma aglomeração que se formava em direção à Radial Oeste para uma manifestação de rua em apoio à greve dos professores. Os cariocas dizem que o governo estadual não suporta aglomerações que não sejam para bajulá-lo ou realizar um evento esportivo. Quando a manifestação é de reivindicação, aplica o dispositivo da ditadura civil-militar, a Lei Falcão, para dissolver “aglomerações” e obter legitimidade à repressão. Ou, nos termos atuais, trata qualquer manifestação com o dispositivo UPP. A polícia invade, vez por outra, as universidades no país, enquanto o governo federal diz produzir os maiores investimentos em educação superior com REUNI para as estatais e PROUNI para as privadas. Hoje, a democracia burguesa responde aos insatisfeitos com tropa de choque, cuidados especiais e controles eletrônicos. Argumentam ser preciso garantir a segurança para a  produção intelectual regulada por índices de participação mensuráveis eletronicamente. Nada de polícia! Nem para cuidar, nem para bater. Nada de polícia! Nem de farda, nem com diploma de doutor. Polícia e universidade não devem se encontrar, nem pelo diálogo, nem pela porrada. 
a casa das torturas e mortes 
A prefeitura de Petrópolis (RJ) iniciou uma medida para tornar de “utilidade pública” a denominada “Casa da Morte”, lugar destinado a tortura e extermínio de pessoas resistentes ao Estado durante a ditadura civil-militar. Com a Anistia, em 1979, a Casa administrada pelo Centro de Informações do Exército (CIE) foi vendida pelo conivente proprietário. Um casal de classe média que se diz “apolítico” comprou a propriedade como refúgio para educar os filhos e reformou a casa. Isso posto, alegam que as reformas realizadas descaracterizam seu projeto inicial. “Passei a infância brincando de pega-pega e polícia e ladrão (...) O que vão fazer, pendurar um pau-de-arara na sala para mostrar como era a coisa?”, resmunga o herdeiro proprietário. Por toda a América do Sul, ditaduras civil-militares utilizaram “casas comuns” como Centros de Tortura.  Com o ocaso das ditaduras certas propriedades foram negociadas com famílias de classe média, setor que consentiu em silêncio ou por meio de apoios explícitos, com grande parte dos regimes militares no continente. 
basta! 
A denominada “Casa da Morte” deixou marcas indeléveis nos familiares, amigos e amores de quem foi preso, torturado e assassinado em seu interior. É preciso que todos saibam que esse endereço, essa casa incrustada no alto de um morro, serviu como base para que o Estado violentasse homens e mulheres em nome da chamada “Segurança Nacional”. Mas não só. É preciso também que se escancare no presente o apoio de proprietários às violências do Estado e à continuidade das torturas em plena democracia. A “Casa da Morte”, antes e depois, um lar de família, pode vir a se tornar mais um Museu ou Memorial das existências arruinadas pela ditadura civil-militar. Entretanto, para além do que será feito da propriedade, neste instante, casas, barracos, cantos escuros em fazendas pelo interior, ainda servem como lugares de respaldo e reprodução da tortura. E que não se ignore que estas violências são alimentadas pelo funcionamento da prisão, da polícia e do Estado. Por tudo aquilo que vibra, tudo aquilo que pulsa, é preciso dar um basta na tortura, seja nos espaços das prisões, ou nas propriedades particulares de coniventes, desonestos, emotivos e safados cidadãos moralistas. 
futebol, seguradora e os boçais 
O frequentador de estádios de futebol hoje é tratado como imbecil, um sujeito que assiste a sua incontível paixão pelo time ser transformada em devoção e resignação amorosa pela política de consumo de seguradoras e agências de publicidade. No sábado último, durante o jogo entre Palmeiras e Santos, antes do início da partida, uma ação de marketing fez adentrar ao campo figurantes com as camisas de Corinthians e São Paulo. Após vaias e xingamentos impublicáveis, descobre-se que a “ideia” era sugerir que para uma mudança de última hora da partida, que você pagou (e caro!) para assistir desconfortavelmente num chão de concreto, não há seguro, mas para todas as outras coisas você poderia contar com a maldita seguradora que patrocinava o jogo. Você que está ali para ver seu time e torcer para que ele ganhe fica com cara de palhaço esperando, como um boçal a hora de cantar o hino nacional. 
mais transtornos 
A atarefada vida cotidiana em grandes centros urbanos faz com que as pessoas se ocupem de compromissos dobrados e desdobrados. Corpos ligados quase 24 hs por dia afetam, segundo especialistas, a saúde e a produção. Eis que a inacabada lista de novos transtornos ganha mais um ítem: o jetlag social. Identificada por pesquisadores da Universidade de Munique, a “nova síndrome” provoca stress e fadiga, tal como os observados nos deslocamentos entre regiões com fusos horários diferentes, levando o “portador” a sentir sonolência durante o dia, agitação de noite, mal-humor e indisposição constantes. Para os especialistas, esta síndrome crônica afeta 70% da população mundial e produz problemas metabólicos e  cardiovasculares. O  jetlag social é mais um problema derivado do gerenciamento de fluxos produtivos de energias inteligentes, nos quais “cérebros saudáveis” são estimulados a nunca desligarem, mesmo que para isso se tornem dependentes de escritórios de Saúde Mental.  
eles crescem... 
Não é de hoje que intelectuais, pesquisadores, especialistas e autoridades,  consagrados na área da violação de direitos, buscam parâmetros adequados para uma nova política criminal. Fortalecem o discurso de  combate à impunidade e instrumentalizam os programas de segurança, investindo simultaneamente no que chamam de uma polícia melhor preparada e no melhor funcionamento das instituições e do Estado. Perpetuam e distendem o circuito auto-referido de notáveis e subalternos, ampliando  também seus adeptos, colaboradores e seguidores. Eles garantem seus empregos em universidades e institutos, abocanham cargos nas mais variadas instâncias e  em organismos internacionais. Dependendo da ocasião, fundam uma nova ONG.

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