a constituição da internet
Em 2007, um intelectual, curador de festivais de música, diretor de uma licença colaborativa no Brasil e
que viria a ser um apresentador da MTV, anunciou em um artigo para um grande portal a necessidade
da criação de um Marco Civil da internet. Entre 2009 e 2010, a sociedade civil foi convocada a
participar, foram mais de 2000 comentários no site do projeto e alguns tuitaços reivindicando o Marco
Civil da Internet. Seus apoiadores: coletivos culturais, intelectuais de esquerda e novos
empreendedores. O Marco Civil pretende regulamentar a internet enquanto um exercício de cidadania.
Essa seria uma ferramenta também de articulação de movimentos sociais, de monitoramento de
bancos, transações financeiras e de participação no chamado e-Gov. O projeto prevê o monitoramento,
a quebra de sigilo e a entrega de registros de conexão a qualquer momento sob ordem judicial. Pouco
importa se o seu provedor promete que não armazena seus dados. Caso o provedor não o faça, basta
pedir ao serviço de acesso à internet. Os apoiadores, Anonymous ou não, querem a mesma coisa: em
nome da conexão de todos, o monitoramento de cada um.
idem
Os vazamentos de Edward Snowden referentes ao monitoramento de informações do planeta pelo
governo estadunidense impulsionaram o Marco Civil da Internet. Após declarações da presidente sobre
espionagem em sua correspondência e em sua empresa preferida, o projeto permanece em trâmite na
Câmara dos Deputados. Na briga pela aprovação do Marco Civil, continua a disputa de quem deve
realizar os monitoramentos de seus dados. Mais tuitaços, compartilhamentos em redes sociais e
flashmobs para que o projeto de lei seja aprovado. “É preciso que os dados de brasileiros fiquem no
Brasil”, declaram alguns intelectuais, ignorando que o tráfego de dados não existe sem servidores e
que estes, em boa parte, estão nos EUA. Portanto, com ou sem Marco Civil, a internet permanecerá
monitorada. Enquanto isso, novas empresas e jovens com suas startups faturam com a venda de
embaralhadores de IP.
pelo prazer e contra o Estado
Três meses depois de sancionar a lei que proíbe na Rússia a chamada “propaganda homossexual
diante de menores”, Vladimir Putin voltou a esbanjar sua sanha canalha contra a existência do prazer
entre homens e mulheres gays. Nesta semana, em entrevista concedida a uma emissora de televisão
russa, Putin defendeu a lei e o casamento heterossexual como estratégia política do Estado para
conter o “decréscimo populacional do país”. A promulgação da lei, o ataque da polícia e de grupos
fascistas contra a existência do prazer expõem, que mesmo com a denominada “abertura da União
Soviética”, a ubiquidade das agressões sobre os gays nunca cessou no território hoje chamado de
Rússia. E tal violência não é exclusiva do governo e de rançosas organizações de direita. Quem se
cala diante do bafio do Estado é conivente e fortalece o exercício de sua violência covarde.
vende-se degeneração pacificada
Na sociedade de controle interessam intervenções, estatais ou privadas, para restaurar áreas urbanas
degeneradas consideradas apartadas da cidade depois de passar por um processo de degradação. Há
pelo menos uma década, empreendedores da noite criam no centro de São Paulo cools enclaves para
a diversão e o entretenimento dos entediados da vida burguesa, que buscam experiências no
underground society para se sentirem mais modernos. Lugares de valor histórico para a cidade são
restaurados. Sanar a degradação também significa reintegrar aos fluxos econômicos o que deixou de
ser produtivo, resignificando a degeneração como wild side pacificado e pronto para ser consumido.
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