quarta-feira, 10 de outubro de 2012

flecheira.libertária.269


balancinho eleitoral  
No final, rondando os 30% seguem os dois candidatos para o segundo turno das eleições de São Paulo, repetindo os índices regulares de eleições anteriores. Nas últimas duas semanas os ataques diretos ao candidato refugiado na sigla evangélica, minaram parcialmente as repercussões midiáticas do passado do candidato. A sempre oscilante parte do eleitorado reacionário de classe média baixa e circunvizinhança pendeu para os candidatos que ofereceram garantias  políticas mais seguras. O eleitorado reacionário que ronda os 35%, expressa um segmento duro e de disposição fascista. Mas em eleição o que importa é ser majoritário. E assim crescem os fascistas, os ilusionistas democratas, os senhores do pastorado, os vitoriosos de sempre.
dispositivos de exceção  
O rebanho comparece à votação. Porque deseja e porque faz da obrigação seu ato de liberdade. Amam a legislação de exceção que lhes impuseram como sua escolha. Quem não comparecer à votação sem justificar sua ausência sabe que isso pode lhe custar o emprego! Como derrubar esta fantasia? Estamos todos presos! 
eleições e controle eletrônico 
O sistema de identificação biométrico sempre esteve intimamente ligado ao controle nas prisões e à classificação de indivíduos considerados perigosos. Hoje, no Brasil, as mais altas tecnologias biométricas vêm sendo utilizadas em empresas, bancos, computadores pessoais e etc. Nas eleições de 2012, algumas cidades já adotaram a identificação biométrica eletrônica – acoplada à tecnologia da urna eletrônica – para garantir a  segurança e a transparência no processo eleitoral. Para além do fato do voto ser obrigatório no Brasil, seu caráter secreto também já não existe há algum tempo. Os amantes servis da democracia representativa acham graça nas  facilidades propiciadas pela tecnologia. Desse modo, aquele que é considerado um dos momentos mais emblemáticos da democracia representativa apenas escancara o que está presente no que há de mais ordinário em nosso cotidiano, o fato de que, cada vez mais, estamos todos presos. 
além do voto e da política 
Como contraposição à realização dos pleitos eleitorais em todo o país, certos grupos de São Paulo organizaram a “Semana do Não Vote”. Constituída por uma programação de debates, exibições de vídeos, festas e até um “churrascão da justificativa”, marcado para domingo à tarde numa praça da região central da  cidade, a Semana visou, segundo seus organizadores, explicitar a “descrença” com a democracia representativa e propor uma “alternativa política” baseada em práticas libertárias. O posicionamento em favor da abstenção destoou de velhas ladainhas em torno do voto nulo. Entretanto, a disposição inicial de embate com a obrigatoriedade do voto colmatou-se na propaganda da abstenção como mero protesto a reboque da organização de uma alternativa política. É preciso ir além do voto. Mas não basta. A política e as infindáveis reformas e profusões de alternativas que a sustentam também devem ser arruinadas. 
escrachando o voto 
O voto obrigatório foi instituído durante a ditadura civil-militar e permaneceu obrigatório mesmo depois de ter passado pela denominada “abertura política” nos anos 1980, e a chamada consolidação da democracia na última década do século XX. A obrigatoriedade do voto é o rescaldo apodrecido, em plena democracia, do que há de mais abominável na recente política brasileira. Por que não – em tempos que certos jovens corajosos escracham torturadores e serviçais da ditadura civil-militar – não abolirmos este senhor decrépito e autoritário denominado voto obrigatório? É preciso escrachar o que persiste de ranço da ditadura civil-militar no presente. Por que não? 
porque sim 
O argumento da ditadura civil-militar para justificar o voto obrigatório se baseou na ortopedia político-pedagógica que propunha educar o cidadão para votar, formatando sua consciência democrática. Anunciava que quando o cidadão já estivesse conscientizado, as eleições voltariam a ocorrer pelo voto facultativo. Essa tal pedagogia foi incorporada pelas lideranças políticas, seus intelectuais e militantes e se tornou mais um normalizador dispositivo de exceção na democracia. 
criança esperança 
No Rio de Janeiro, uma renomada escola particular instituiu para os alunos do ensino fundamental um exercício de processo eleitoral, no qual os alunos  votaram em chapas compostas por colegas para eleger “prefeitos” e “vereadores” de cada série. A diretora frisou não se tratar de uma simulação, pois os “programas políticos” elaborados pelos próprios candidatos e suas “equipes de assessores” de colegas serão implantados ou negociados com a direção visando sua efetivação. Um dos “candidatos” colocou no seu “programa” a demanda por dois professores em sala de aula para “controlar a bagunça”, enquanto uma “pequena eleitora” disse que iria fiscalizar para valer se as promessas seriam cumpridas. A diretora, orgulhosa, considera a proposta um sucesso na formação da cidadania em plena semana de eleições municipais. Assim, educa-se desde a mais tenra idade os futuros  cidadãos, talhados para serem  agentes de uma democracia a ser gerenciada com controles, procedimentos, obediência e adesão a um inevitável, único e desejável modelo político.

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