outro escrito de idos tempos... com data de 29. 06. 2000... nesse tempo eu ainda falava de sonhos...
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À beira do caminho deixamos todos aqueles
sonhos que para sempre perseguiremos... o sonho de ser alguma coisa/ de ser
alguém quando crescer, o sonho de ter uma letra mais bonita, de saber fazer
poesia, de conseguir escrever um texto com
introdução/desenvolvimento/conclusão, como nos ensinaram, incansavelmente,
nossas professoras de português; o sonho de conhecer um daqueles cientistas de
que nos falavam os professores... um daqueles que, no imaginário de nossa
infância, faziam o mundo acontecer porque renunciavam a tudo para passar o
tempo a decifrar os segredos do mundo!
Abandonamos
alguns sonhos para inventar outros, para podermos viver, para buscarmos a
promessa do encontro sempre adiado daquilo que possa nos sustentar...
esquecemos, um pouco, as misérias do mundo, porque estamos lidando com nossas
próprias misérias, isso se torna maior que a nossa capacidade de ver o mundo.
E
queremos ser humanos quando os humanos demonstram tudo o que pode vir de um
humano... queremos explicar porque as pessoas não podem ser feitas todas da
mesma fôrma ... queremos fazer
poesia quando o mundo cai e ficamos, ainda tentando segurar... e cantamos
alguma canção enquanto disfarçamos a alegria de ter encontrado alguma coisa que
procurávamos muito... nos apaixonamos pelas pessoas erradas... erradas? Ou
pelas pessoas certas e que nunca teremos coragem de assumir?
Inventamos
formas de poder/ inventamos formas de ver a vida, criamos recheio para a nossa
existência e, muitas vezes, esquecemos que há muitas outras existências a serem
recheadas!
Seguimos
formas assépticas de viver a vida... alimentação saudável e na hora certa...
mínimo de oito horas diárias de sono, com quarto arejado e cama confortável...
roupas confortáveis... banhos diários... exercícios físicos regulare ...
trabalhar num lugar que nos garanta as
condições, pelo menos mínimas, para o exercício profissional, com salário
regular e justo, com ambiente saudável e construtivo!
Somos
assépticos/ de uma assepsia burguesa surpreendente até que nos damos por
achados, em meio ao meio/ ao eixo de nosso trabalho asséptico, lidando com um
mundo completamente diferente do nosso, um mundo que a academia não nos avisou
que encontraríamos, um mundo de pessoas que não têm o que comer, nem hora, nem
dia para fazê-lo; um mundo de pessoas que não têm onde dormir, e quando têm...
não queremos nem imaginar como seja... e das roupas, nem se fale... muitas
vezes são roupas de marca, dessas marcadas por campanhas do agasalho realizadas
por pessoas que acham que amontoar seres humanos num ginásio seja um fato de
dar inveja; um mundo de pessoas que já não vêem diferença em estar ou não
banhado e que fazem exercícios físicos regulares porque andar é o mais comum
quando já não temos mais sonhos para deixar à beira do caminho; um mundo onde a
maioria das pessoas não têm trabalho e o nosso próprio trabalho é precário
diante a dimensão da precariedade do mundo daqueles que não têm trabalho.
E quando ainda queremos sonhar algum sonho,
nem que seja para deixar à beira do caminho, deparamo-nos com a crueza da vida
de cada um... como de uma senhora que, morando sozinha, fechada em sua casa,
já alucinando depois de passar vários dias sem comer, expelindo todos os
produtos que seu corpo ainda conseguia produzir, escamando a pele envelhecida e
desidratada, sem banho, com seus olhos remelentos, com sua urina ressequida em
sua roupa sem marca e suja... aquela senhora, que não estava conseguindo
articular suas idéias, pede um tempinho à mais para organizar seu pensamento e
diz que necessita de um companheiro ... não um companheiro para fazer “aquilo”,
mas para poder espantar a solidão, para poder acordar sedo, conversar e ter
alguém com quem pudesse “fazer planos”... já dizia alguém que morremos um
pouco quando perdemos a capacidade de sonhar... mas podemos viver um pouco se
tivermos lugar em nossos sonhos para aqueles que também ainda sonham... nem
que seja para fazer planos ou para encher nossos caminhos de sonhos que nos
levam a outros sonhos e à vida!
Maria! Disse q o escrito foi de tempos em que "ainda" falava de sonhos (ainda que estes fossem deixados à beira do caminho), pq não falar deles? Isto nos torna demasiadamente idealistas? Quais as perspectivas deste novo olhar a vida? Gostei do tema...
ResponderExcluirjá não sonho mais... o idealismo do sonho no mais das vezes, cega a possibilidade do movimento... não sonho, invento... não espero, faço acontecer... não olho muito pra frente, pq a vida está aqui... mas tb, se quiser sonhar, não me impeço de sonhar...
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