Entrevista com Edson Passetti, agosto de 2013.
Por Bruno Pontes
Bruno Pontes - Como você avalia o surgimento do Black Bloc nas manifestações de junho/julho?
Edson Passetti – Há muito tempo, desde as primeiras manifestações do movimento antiglobalização no Brasil, no começo do século, esta tática está presente, incialmente relacionada, talvez por falta de informações da imprensa, às práticas anarco-punks. Nas jornadas de junho em diante o black bloc ganhou visibilidade, não só por expressar a prática anarquista de aglutinar gente em torno do insuportável, mas por alertar e atrair jovens no interior do próprio movimento. A destacar neste acontecimento a redução dos saques a partir da efetiva atitude da tática black bloc.
BP – Você acha que o Black Bloc se insere de fato numa tradição anarquista?
Passetti – Sim. Como é sabido há muitos anarquismos. A tática black bloc faz parte desta atitude, e sem dúvida, teria encontrado respeito em Proudhon e Bakunin, dois marcos das práticas libertárias, que se caracterizam pelas ações em movimento, e não por teorias. Não se trata de juízo de valor (expresso fartamente na mídia oficial e alternativa), mas de uma realidade que demanda análises sobre ação direta.
BP – Você entende como vandalismo as ações do Black Bloc? Se não, o que diz às pessoas que consideram puramente vandalismo?
Passetti – Os anarquismos, desde o final do século XIX, foram associados aos terrorismos, esquecendo-se, propositalmente, do que lhe antecedeu, ou seja, o terrorismo de Estado. Os anarquistas, ora são estigmatizados terroristas, ora baderneiros, desordeiros, e, agora, vândalos. Aliás, esta palavra é interessante porque está associada às invasões que deram fim ao Império Romano. Portanto, diferentemente dos pejorativos anteriores relacionados à questão interna do Estado-Nação, ela se ajusta melhor à situação da chamada globalização. Neste sentido, houve um ar inteligente na designação pejorativa, primeiro por parte da imprensa, e, posteriormente, dos comentaristas acadêmicos.
BP – O que significa, na política brasileira, a entrada do tipo de ação praticada pelos Black Blocs?
Passetti – Veremos. Fazer prognósticos com base no passado remoto é fácil porque apenas reitera a exigência de mais segurança, polícia, ou melhor, acentuada militarização da polícia como ocorre em âmbito planetário, ainda que surjam no interior do movimento, e por fora dele, os pedidos de desmilitarização da polícia. Está em jogo a utopia da democracia capitalista que se pretende indestrutível. A tática black bloc não é recente entre nós, e se manifesta de diversas formas, podendo ou não constituir em uma associação própria.
BP – A maioria dos participantes dos Black Blocs parece ser da classe média. O que explica isso, uma vez que, pelos menos em tese, deveria haver mais pobres na luta contra a opressão estatal? Posso estar errado, claro.
Passetti – Destaco que esta prática foi importante para que jovens pauperizados e praticantes de saques encontrassem finalidades mais contundentes no interior do movimento. Mas isso também é um efeito deste momento. Os anarco-punks não eram e não são de classe média, ainda que pudesse haver simpatizantes entre eles. E continuam vivos! Todavia, hoje, com a divulgação do crescimento de uma nova classe média (baixa) pelos programas de governo essa definição também escorre do patamar cristalizado anteriormente que associava classe média aos indicadores de estudantes de nível médio e universitário.
BP – Em nota publicada no site do partido (link: http://www.pstu.org.br/node/19855), o PSTU afirma que as ações do Black Bloc são “completamente equivocadas”, pois não enfraquecem os grandes empresários, jogam a opinião pública contra as manifestações e dão motivo para a repressão policial. Além disso, o PSTU critica o Black Bloc por julgar que lhe falta um programa revolucionário. O que você pensa das críticas do PSTU?
Passetti – Prefiro não responder a esta questão diretamente. Trata-se de uma posição política com base na teoria da revolução marxista que justifica sua superioridade de consciência sobre o que não seja organizado pelo alto, por meio de intelectuais profetas. Penso que o movimento recente deva trazer alguma oxigenação neste bolor, que é também análogo ao mofo que reveste os comentários liberais. Aliás, por mais que estes difundam a participação institucional por meio da sociedade civil organizada, não conseguem explicar o que se passa durante o surpreendente que enuncia o insuportável. Um protesto iniciado com base na redução de tarifas de transportes coletivos (que é privado) levou às explicitações das forças na sociedade, incluindo as nacionalistas e as fascistas. Movimento é isso: explicitação das forças em luta na sociedade e seus desdobramentos, explicitando suas finalidades. O black bloc expôs a composição móvel de uma delas, e ganhou destaque, simplesmente, porque soube enunciar o insuportável diante das forças moderadas, reativas e congeladas.
Entrevista publicada com cortes em Jornal O Povo, edição do dia 11 de agosto de 2013.
Edson Passetti – Há muito tempo, desde as primeiras manifestações do movimento antiglobalização no Brasil, no começo do século, esta tática está presente, incialmente relacionada, talvez por falta de informações da imprensa, às práticas anarco-punks. Nas jornadas de junho em diante o black bloc ganhou visibilidade, não só por expressar a prática anarquista de aglutinar gente em torno do insuportável, mas por alertar e atrair jovens no interior do próprio movimento. A destacar neste acontecimento a redução dos saques a partir da efetiva atitude da tática black bloc.
BP – Você acha que o Black Bloc se insere de fato numa tradição anarquista?
Passetti – Sim. Como é sabido há muitos anarquismos. A tática black bloc faz parte desta atitude, e sem dúvida, teria encontrado respeito em Proudhon e Bakunin, dois marcos das práticas libertárias, que se caracterizam pelas ações em movimento, e não por teorias. Não se trata de juízo de valor (expresso fartamente na mídia oficial e alternativa), mas de uma realidade que demanda análises sobre ação direta.
BP – Você entende como vandalismo as ações do Black Bloc? Se não, o que diz às pessoas que consideram puramente vandalismo?
Passetti – Os anarquismos, desde o final do século XIX, foram associados aos terrorismos, esquecendo-se, propositalmente, do que lhe antecedeu, ou seja, o terrorismo de Estado. Os anarquistas, ora são estigmatizados terroristas, ora baderneiros, desordeiros, e, agora, vândalos. Aliás, esta palavra é interessante porque está associada às invasões que deram fim ao Império Romano. Portanto, diferentemente dos pejorativos anteriores relacionados à questão interna do Estado-Nação, ela se ajusta melhor à situação da chamada globalização. Neste sentido, houve um ar inteligente na designação pejorativa, primeiro por parte da imprensa, e, posteriormente, dos comentaristas acadêmicos.
BP – O que significa, na política brasileira, a entrada do tipo de ação praticada pelos Black Blocs?
Passetti – Veremos. Fazer prognósticos com base no passado remoto é fácil porque apenas reitera a exigência de mais segurança, polícia, ou melhor, acentuada militarização da polícia como ocorre em âmbito planetário, ainda que surjam no interior do movimento, e por fora dele, os pedidos de desmilitarização da polícia. Está em jogo a utopia da democracia capitalista que se pretende indestrutível. A tática black bloc não é recente entre nós, e se manifesta de diversas formas, podendo ou não constituir em uma associação própria.
BP – A maioria dos participantes dos Black Blocs parece ser da classe média. O que explica isso, uma vez que, pelos menos em tese, deveria haver mais pobres na luta contra a opressão estatal? Posso estar errado, claro.
Passetti – Destaco que esta prática foi importante para que jovens pauperizados e praticantes de saques encontrassem finalidades mais contundentes no interior do movimento. Mas isso também é um efeito deste momento. Os anarco-punks não eram e não são de classe média, ainda que pudesse haver simpatizantes entre eles. E continuam vivos! Todavia, hoje, com a divulgação do crescimento de uma nova classe média (baixa) pelos programas de governo essa definição também escorre do patamar cristalizado anteriormente que associava classe média aos indicadores de estudantes de nível médio e universitário.
BP – Em nota publicada no site do partido (link: http://www.pstu.org.br/node/19855), o PSTU afirma que as ações do Black Bloc são “completamente equivocadas”, pois não enfraquecem os grandes empresários, jogam a opinião pública contra as manifestações e dão motivo para a repressão policial. Além disso, o PSTU critica o Black Bloc por julgar que lhe falta um programa revolucionário. O que você pensa das críticas do PSTU?
Passetti – Prefiro não responder a esta questão diretamente. Trata-se de uma posição política com base na teoria da revolução marxista que justifica sua superioridade de consciência sobre o que não seja organizado pelo alto, por meio de intelectuais profetas. Penso que o movimento recente deva trazer alguma oxigenação neste bolor, que é também análogo ao mofo que reveste os comentários liberais. Aliás, por mais que estes difundam a participação institucional por meio da sociedade civil organizada, não conseguem explicar o que se passa durante o surpreendente que enuncia o insuportável. Um protesto iniciado com base na redução de tarifas de transportes coletivos (que é privado) levou às explicitações das forças na sociedade, incluindo as nacionalistas e as fascistas. Movimento é isso: explicitação das forças em luta na sociedade e seus desdobramentos, explicitando suas finalidades. O black bloc expôs a composição móvel de uma delas, e ganhou destaque, simplesmente, porque soube enunciar o insuportável diante das forças moderadas, reativas e congeladas.
Entrevista publicada com cortes em Jornal O Povo, edição do dia 11 de agosto de 2013.
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