o que não quer calar
Há quase um mês, um pai de seis filhos é mais outro “desaparecido”. Foi sequestrado por policiais militares na maior favela do Rio de Janeiro e levado para o interior de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Em meio aos recentes protestos na cidade, moradores da Rocinha caminharam rumo à casa do governador, passando pelo túnel Zuzu Angel, nome da mãe de outro “desaparecido” nas garras dos policiais da ditadura civil-militar. Em todos os cantos do país ecoa a pergunta: “cadê o Amarildo?”. Permanece outra questão: o destino de Amarildo é palha dos protestos de junho, ou indica que certos jovens não cessarão de indagar onde estará este e os outros inúmeros corpos que o Estado sistematicamente assassina por quebradas, vielas, favelas?
pelos ossos
Passado um mês do “desaparecimento” de Amarildo, alguns advogados entraram na justiça com o pedido de “morte presumida” visando adquirir a certidão de óbito necessária para garantir o pagamento de pensão pelo Estado à família. Diante do pedido, autoridades defenderam o projeto das UPPs, argumentando que o “caso Amarildo” representava um episódio isolado no interior das comunidades pacificadas. Rompendo o silêncio conivente com tais violências, a mulher de Amarildo, do mesmo modo que muitas mulheres que tiveram seus companheiros “desaparecidos” durante a ditadura civil-militar, não se calou e exigiu mais do que a declaração de “morte presumida”: eu quero os ossos para enterrar o meu marido. O discurso dos crápulas agora condena a mulher e Amarildo como traficantes e, com isso, justifica a execução: prática comum tanto à polícia quanto ao tráfico.
presos!
Novas estatísticas afirmam que a segunda causa que leva à prisão de jovens nas penitenciárias chamadas “instituições socioeducativas” são atividades relacionadas ao tráfico de drogas. Com isso, os jovens criminalizados equiparam-se aos adultos criminalizados, para os quais o tráfico já era a segunda maior via de acesso à condenação e reclusão, atrás apenas dos “crimes contra o patrimônio”. O mesmo estudo sustenta que a maioria dos jovens “reincide” no crime que o levou à primeira “internação”. A nova lei brasileira sobre drogas, de 2006, coincide no tempo com a reforma das instituições prisionais para jovens. A lei prometeu inovar tratando o uso de drogas como “questão de saúde pública” e as reformas das FEBEMs no Brasil afora insistiram no aprimoramento da educação para jovens denominados infratores. Não houve e não há coincidência, visa-se acintosamente associar jovens à adultos no comércio ilegal de drogas. Com isso permanece inalterado o tráfico e se fortalece a prisão para jovens no país.
operação segurança
As explosões de carros-bomba no Iraque após o fim do Ramadã intensificaram a busca por terroristas no país. Os Estados Unidos, que jamais perderiam a chance de participar dessa aventura, lançaram uma recompensa ao estilo velho-oeste de 10 milhões de dólares por informações que contribuam para “matar ou capturar” terroristas no Iraque. A busca estadunidense pela segurança internacional é construída pela identificação e eliminação dos perigosos, os potenciais criminosos. Se nos tempos do “wanted dead or alive” terceirizava-se a captura para os matadores por recompensa, hoje a busca é por informações que produzam o terrorista, cabendo ao Estado exterminá-lo.
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