sábado, 22 de março de 2014

Mulheres africanas - A rede invisível, de Carlos Nascimbeni

Documentário brasileiro tenta retratar a condição da mulher africana nos dias de hoje.


Gérson Trajano
Divulgação

A África é desconhecida para a maioria dos brasileiros. Sobre as mulheres africanas então, nada ou pouca coisas sabemos. Elas são mais de 500 milhões, espalhadas em 54 países que possuem uma grande diversidade étnica, cultural, social e política.
 
Seduzido pela proposta da produtora pernambucana Monica Monteiro, que já desenvolveu projetos para emissoras de TV de Moçambique, o cineasta Carlos Nascimbeni, diretor de O Menino da Porteira (2009), assumiu o desafio de viajar pela África e produzir um  documentário sobre as mulheres africanas.
 
Batizado de Mulheres Africanas – A rede invisível, tem como eixo central os depoimentos de cinco personalidades femininas. A moçambicana Graça Machel, que foi esposa de Samora Machel e Nelson Mandela, a liberiana Leymah Gbowee, prêmio Nobel da Paz em 2011, a sul-africana Nadine Gordiner, ganhadora do Nobel de Literatura em 1991, a tanzaniana Mama Sara Mari, empresária de sucesso no ramo de placas de automóveis, e Luisa Diogo, ex-primeira ministra de Moçambique no período de 2004 a 2010.
 
O longa-metragem destaca também o trabalho de mulheres anônimas e a sua forma de enfrentar as mazelas da vida e do continente. A atriz Zezé Motta empresta sua voz que conduz o espectador durante a projeção. O documentário foi exibido esse ano no ciclo Direitos Humanos, em uma sessão dedicada ao Dia Internacional da Mulher.
 
O tema do documentário é pertinente, as entrevistadas têm o que dizer, mas o filme não pontua o que seria a mulher africana hoje. Empaca em dados já conhecidos como a exploração da mulher, sua importância na economia familiar e do continente e a violência contra o gênero.
 
Além disso, o simples fato de apresentar distintas mulheres na sua luta diária não caracteriza uma rede invisível. O conceito de rede deve-se a situações interligadas e o documentário mostra acontecimentos de forma individualizada.
 
Mulheres africanas – O filme começa mostrando uma mulher, acordando antes do sol nascer.  Com o filho de quatro meses nas costas, ela retira água de um poço puxando o balde com as próprias mãos. Em seguida, ainda com os filhos nas costas, mas agora com uma enxada nas mãos, capina uma plantação de milho.
 
Minutos depois, em um inglês fluente, ouvimos Mama Sara Mari, que fala da economia na Tanzânia e qual foi a sua estratégia para ser uma empresária bem sucedida no negócio de placas de automóveis.
 
De todos os relatos, o mais interessantes é a história contada pela ex-primeira ministra de Moçambique, Luisa Diogo, que retrata com simplicidade e humor a influência da mulher na sociedade africana.
 
Nascida na província do Tete, extremo noroeste do país, ela conta que, em uma aldeia, um ancião ouvia regulamente os problemas dos seus moradores e proponha soluções. O que ele não podia resolver imediatamente, afirmava: "vou dormir sobre o seu problema, amanhã eu lhe respondo".
 
Ao final da sessão, ele ia conversar com sua mulher. Contava-lhe os casos que tinha resolvido e os que não havia dado solução. Ela então, solucionava a questão. No dia seguinte, o morador voltada e o ancião dizia-lhe o que fazer.
 
Certa vez, o ancião recebeu sua sobrinha em consulta. Ela já sabia como o seu avô solucionava as questões mais difíceis. Para o seu caso o ancião respondeu: "vou dormir sobre o seu problema e amanhã eu lhe respondo." Foi quando ela lhe disse: "vovô, vá chamar a vovó, eu sei que é ela quem resolve os problemas mais difíceis da aldeia."

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