dê um rolê!
Incendeiam-se ônibus nas periferias, diariamente. Sabe-se lá o porquê. Matam-se pessoas nas periferias, diariamente. Sabe-se o porquê. Matam-se nas prisões, nos engarrafamentos, nos lares, mata-se a torto e a direito. Desesperados, amedrontados, esmagados, suados, cansados eles tentam entrar nos ônibus e metrôs, revitalizar os encarceramentos. Agridem-se uns aos outros. Em sua grande maioria, sequer passam perto das manifestações contundentes. Eles querem ir para casa, comer a comidinha requentada, dormir e voltar a trabalhar como decentes cidadãos e serviçais aspirantes aos bens de consumo. Em vez de darem um rolê, preferem fazer garbosos rolezinhos. Da genealogia do rolê: “E só tô beijando o rosto de quem dá valor/ Pra quem vale mais o gosto do que cem mil réis”.
qual morte?
Essa semana a imprensa explorou ao máximo o que chamaram de primeira morte em manifestações, em uma clara tentativa de desqualificar a tática black bloc. Nada se falou sobre as outras nove mortes provocadas pela ação da polícia. Entre elas a de uma gari em Natal, dois jovens em Belo Horizonte e o jovem Douglas executado pela polícia na periferia de São Paulo. Explicita-se a seletividade punitiva da imprensa. Para seus comentaristas, repórteres e âncoras, há vidas e vidas; há quem pode matar e quem deve morrer. Qualquer morte deve ser repudiada para quem se interessa pela vida e a afirmação da liberdade.
a velha estratégia
Há muito se sabe das dificuldades que o governo venezuelano cria para os libertários. Na última semana eclodiram manifestações de rua em Caracas, com dura repressão policial. Sem julgar a espontaneidade das mobilizações de rua, sabe-se que a chamada nova esquerda latino-americana aplica uma velha estratégia: quem fala contra o "verdadeiro governo popular" é um conspirador de direita. O governo venezuelano afirma isso com aval da UNASUL. Confirma-se o que sempre afirmaram os libertários: onde há Estado, seja nomeado de esquerda ou direita, as liberdades estão ameaçadas. E em nome da sua própria defesa, o Estado segue adiante, sustentado por suas violências.
da velhice de certos jovens!
Universidades por todo Brasil iniciam o ano letivo. Alguns estudantes, para “recepcionar” os calouros preparam o trote. Enfermarias lotadas, meninos e meninas amarrados uns aos outros, presos a postes. Cenas terríveis. Oprimidos?! Não. São jovens obedientes que aguardam exercer seu poder de “veterano” no próximo ano. São esses mesmos estudantes que se submeteram ao trote que estarão à caça de outros jovens calouros para perpetuar essa podre relação que lhes parece empolgante. Esse exercício de humilhação e tortura é a prática dos futuros jornalistas, economistas, engenheiros, médicos, advogados, juízes, etc... O trote explicita que muitos jovens ingressam já envelhecidos nas universidades, ávidos por castigos e punições. Quem não consente com esta prática simplesmente não se deixa ser tocado. E ponto.
capte-me I
Nos EUA, 23 estados praticam a pena de morte. Há duas décadas, mais especificamente desde 1982, o método adotado consiste em injeção letal. Os burocratas sensíveis e humanistas comemoraram a incorporação do meio menos truculento. Já faz um bom tempo que escassearam as drogas utilizadas para composição da injeção, desde que a Europa passou a negar sua venda aos EUA. Problema? Nenhum. Cada estado, a sua maneira, passou a obtê-la sob a mesma lógica que alimenta o tráfico. E deu, ao mesmo tempo, espaço de suporte a futuras legalizações e regulamentações que deixam incólume o rentável negócio indissociável do lícito e do ilícito, resguardando e assegurando a vida da paleta de variações do proibicionismo, da prisão e das penas capitais e alternativas.
capte-me II
Enquanto a regulamentação não vem, de forma complementar, um centro de detenção em Phoenix, no Arizona, exibe uma câmara de gás para as execuções. Em Wyoming e Missouri há uma avalanche de propostas para recuperação de métodos de execução abandonados, dentre eles o fuzilamento. Na Virgínia um projeto de lei aprovado pela câmara sanciona o uso da cadeira elétrica, e aguarda a decisão do Senado para convertê-lo em lei. ... Etc, etc, etc. E as hidras regulamentadoras não param de exercer sua prática abominável em torno dos caputs e dos data vênia. Os defensores dos direitos humanos bradam contra a pena de morte. Mas é preciso ir além e notar que a distinção que se faz entre pena capital e pena venial, tem seu início mais baixo na ideia da pena fixada na cabeça de cada um e na obstinação pela dívida infindável irmanada ao perdão que não desgruda do corpo. O resto é conversa mole pra boi dormir no matadouro.
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