fogos nas manifestações
A polícia atira para acertar seu alvo, e, não raras vezes, atinge jornalistas. Basta lembrar as jornadas de junho de 2013. O manifestante adoidado, como um componente ensandecido de torcidas uniformizadas, solta fogos de artifício a esmo e, supostamente, atinge quem não era seu alvo. Nas duas ocasiões os jornalistas se posicionaram. Na primeira, contra os excessos da polícia. Agora, depois do ocorrido nas manifestações de 5ª. feira, no Rio de Janeiro, de modo afobado e verborrágico, sugerem que a autoria da violência é dos vândalos, mais precisamente dos que aderiram à tática black bloc. Ressalva a ser feita com urgência: a tática black bloc tem alvos definidos, atua diretamente contra eles e se desconhece que sejam jornalistas e cinegrafistas.
fogo da mídia
Atribuir a alguns, arbitrariamente, o que não lhes cabe é também ferir a liberdade de expressão. O esforço midiático para disciplinar a massa nos protestos faz coro com a polícia e os governantes, que consideram a punição exemplar aos manifestantes black bloc um reforço à democracia e o meio para a pacificação. Se à imprensa livre cabe informar, que ela o faça amplamente. Porém, a chamada imprensa livre, antes de informar, precisa comunicar seu discurso ideológico. Quando ela se torna alvo involuntário ou escolhido (como nas ditaduras) é capaz de ultrapassar a defesa corporativa e é incapaz de extrapolar sua defesa à democracia liberal. Esta é a sua ambiguidade.
fogo das pessoas
Depois de manifestações públicas contundentes não faltam jornalistas alvejados e pessoas feridas. E, por vezes, não faltam cadáveres, nem arengas eloquentes. Há sempre a vítima preferencial sacrificada! Pode ser um estudante, um operário, um jornalista, jamais são os miseráveis do chamado lixo social. Vira notícia o que atinge as elites ou as ameacem. Ninguém em nome da ordem ou de qualquer contra-ordem deve alvejar quem trabalha para si ou como contratado de uma empresa. A conversa sobre a discordância se dispensa dos incitadores à polêmica e à violência. Somente o fogo de cada um incinerará a existência do monopólio da força física das armas e das ardilosas forças da razão.
fumaça do fogo
Os monitoramentos são eficazes. Localizam agentes e produzem confissões. No sábado, um manifestante depois de se ver situado nas redes, confessa. Argumenta sua inocência, sua conduta involuntária, reitera seu respeito e crença na polícia: caiu na rede é peixe! O delegado não se convence. Todos querem saber para quem ele passou o explosivo. Ele declara desconhecer o outro. A mídia comunica que ele foi orientado pelo black bloc e advogados. O delegado enfatiza sua co-autoria e declara que a punição será exemplar, de imediato apoiado pelas grandes mídias. Anuncia-se o início de um processo penal. É isso que a ordem precisa: formalizar uma acusação contra qualquer indivíduo acoplada à tática black bloc como organização do terror.
no pelourinho
Depois ter sido expulso do bairro onde morava com a família por milicianos sob a acusação de “furto”, um jovem passou a circular e viver pelas ruas do Flamengo, zona sul do Rio de Janeiro. No bairro de classe média, acusado novamente por outro “delito”, foi preso por uma tropa de cidadãos durante a madrugada e exposto com o corpo nu no meio de uma praça com o pescoço amarrado a um poste por uma trava de roda. Desde as favelas e os subúrbios até os bairros da zona sul, a obsessão por segurança explicita que vivemos numa época infestada de policiais, justiceiros e linchadores. As marcas no corpo do jovem preto, pobre, escancaram que é preciso combater a polícia para além da farda. É preciso também arruinar a violência e a miserável cantilena que clama por mais segurança.
pussy right?
Aconteceu em Nova Iorque o festival Bringing Human Rights Home, promovido pela Anistia Internacional em parceria com lendário bar de rock CBGB. Dentre as diversas bandinhas indie, e uma ou outra grande celebridade, Madonna subiu ao palco do evento para apresentar Nadia e Masha – as duas ex-pussy riots recém-libertadas da prisão. No palco, as jovens reclamaram uma “Rússia livre e sem Putin”, pediram atenção internacional à violação de direitos nas prisões russas e advogaram a soltura dos presos detidos pela manifestação contra Putin na Praça Bolotnaya em maio de 2012, que elas definem como “presos políticos”.
diplomaCIA
Os Estados Unidos ganharam o seu Snowden da vez. As ex-pussies estamparam a contrapartida diplomática no ambiente das denúncias internacionais sobre Direitos Humanos.
pussy riot!
Em carta aberta, as integrantes anônimas da Pussy Riot noticiaram a saída de Nadia e Masha do grupo. Contundentes, reafirmam a recusa ao mercado e a “institucionalização” de sua luta. A Pussy Riot só toca em lugares proibidos e não se vende. A Pussy Riot não aceita a “esterilização” de sua revolta e não está aberta para negociações e acordos. A Pussy Riot não faz política like a virgin. Diante da captura de Masha e Nadia, as pussies caminham livres por outras linhas de fuga.
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