terça-feira, 18 de junho de 2013

flecheira.libertária.299

vai passar... 
As manifestações de rua animadas pelo MPL (Movimento Passe Livre), e logo engrossada por uma multiplicidade de gentes e de forças, alvo de incontáveis comentários, exercícios opinativos e clamores por adesão acendem uma chama que pode se desdobrar em interessantes mudanças: as ruas da cidade não podem servir apenas aos carros e a polícia não é dona e/ou sua zeladora. Talvez algo esteja para acontecer contra os gemidos e alaridos por vida segura e ordeira: para além dos 20 centavos. Quem consegue ficar na cidade sem viver contrariado? 
violência 
Os murmúrios que ressoam a legitimidade das reivindicações e se queixam da violência e do vandalismo não são exclusivos de prefeitos, governadores e chefes de polícia. A legitimidade também é bradada entre os argumentos de vários integrantes do MPL, e de fato, nem todos que participam, participaram e participarão das manifestações são favoráveis às depredações. É preciso olhar para os alvos atingidos e abandonar a saída fácil que consiste em identificar certos jovens como arruaceiros infiltrados. Quebraram, especialmente, na terça-feira (11/6), entradas de bancos, vitrines shopping centers e postos policiais. Quebraram o que lhes é, era e será insuportável e ponto. Quebraram a manobra jornalística que pretendia confundir pacifismo com passividade. 
polícia é violência 
O movimento que organizou os atos contra o aumento da passagem de ônibus reivindica o direito à cidade, ao ir e vir liberal e pede, incansavelmente, por mais Estado. Este mix foi capaz de cutucar as posições mais conservadoras babando e berrando: vândalos, baderneiros, vagabundos. E exigiram que a polícia exercitasse seu dever de descer o cacete para protegê-las. Assim, a polícia se alimentou mais uma vez dos "motivos justos” para defender o patrimônio público, principalmente o privado, e defender a sociedade. Os tolinhos achavam e acham que o legítimo Estado Democrático de Direito dispensa a polícia e que só existem 
canalhas com fardas? 
classe média 
Certos intelectuais dizem que a classe média é quase nada. Os moderados e “neutros” comentaristas midiáticos salpicam suas “análises” sobre o movimento dos jovens nas ruas delatando-os como inconsequentes e radicais classes médias. A classe média serve para filosofar, pedir para bater e apanhar. No capitalismo democrático ou não, ela é a grande escudeira da burguesia e a utopia confortável dos miseráveis. Em suma, tenta-se desqualificar as manifestações atuais dizendo que se trata de um movimento animado por jovens de classe média que nunca pegaram ônibus. Comentários desse tipo, e a própria diversidade na composição do movimento, explicitam a mediana visão teórica e política dessa gente esclarecida e “neutra”. Por ora, o MPL insinuou a purulência nos partidos, sindicatos, intelectuais orgânicos, representações, lideranças, neoliberalismo, e no etc e tal. Quem esteve nas manifestações lá viu quase tudo que mostra a falência de antigas e repaginadas crenças políticas. O que está por vir são respostas ainda não formuladas. 
cadê? 
Antes do estouro em torno das manifestações contra o aumento da passagem, a Av. Paulista havia se tornado passarela de enfadonhas, morosas e ordeiras marchas. Enredados em financiamentos de ONGs internacionais, flertes e relações com partidos políticos do vira-vira governo, e escorados em lutas legalistas por direitos e punições, eles pouparam suas vidinhas e seus corpinhos. Suas omissões disseram quanto são negociantes de bandeiras específicas e reféns de suas particularidades. Escancararam seus limpinhos currais eleitorais de minorias numéricas e atestaram depender da grana que alimenta sua luta.minorias Mesmo reunindo estudantes secundaristas e universitários, transeuntes, ativistas, curiosos, gente a fim de se divertir e toda sorte de motivação que totalizou mais ou menos 20 mil pessoas, os preocupados com as formas e os preços do deslocamento na cidade formaram uma minoria potente. As matérias de jornal e de televisão pretendem opor os chamados transtornos causados pela vontade vigorosa dos manifestantes às supostas necessidades de trabalhadores serviçais e gente humilde assujeitada que “precisa ganhar a vida”. A democracia favorece os alertas de minorias que rompem com o silêncio, a modorra e a rotina. Espera-se que a maioria numérica, como sempre, siga ordeira trabalhando até morrer. Que os manifestantes não se iludam querendo despertar a consciência da população, porque o rebanho sempre esteve e está do lado da ordem e junto com a polícia! Que não se esqueçam que a qualquer momento suas lideranças serão chamadas a negociar com as autoridades ou chamarão as autoridades para negociar. 
coragem! 
As estimativas falaram de 5 mil pessoas no dia 11/6 e 20 mil pessoas no dia 13/6. A impressa divulgou que milhares de policiais estiveram envolvidos na repressão. Diante disso: abandonem as sinceridades hippies de entregar flores para policiais, e inventem novos desrespeitos e desprezos à instituição e à farda! Coragem! Porém, se você pensa que se trata de uma polícia despreparada e incapaz de agir numa democracia, não esqueça que a polícia serve para cuidar, vigiar, monitorar, espionar, reprimir, torturar e matar. Polícia é polícia! Viver livre nas ruas da cidade não depende de polícia preparada, mas de sua abolição! 
polícia e seus itinerários 
A polícia é inaceitável. A polícia é um dos abomináveis em nossa existência. Diante dela, cotidianamente, há o passe reto, o pare quieto, as mãos para trás, os corpos imóveis no chão, a revista, as subordinações e os subornos, as detenções e os espancamentos, os tiros mortais e morais, os corpos perfurados, as asfixias, os choques, a pimenta que destempera, a tortura, a prisão. Co-ti-di-a-na-men-te... 
viva!
A polícia não é um efeito colateral do cuidado, da prevenção, da proteção e da segurança. Ela é a expressão e tradução literal das práticas de governo, dissimuladas até mesmo como “arma de efeito moral”. Diante da perenidade de sua existência em cada um, jamais haverá livres passagens. Um viva de saúde aos jovens que foram para cima da polícia, que bateram nela de frente, que destroçaram suas casinhas denominadas de postos comunitários, que dela se esquivaram e não foram pegos e os que se mobilizaram para soltar tantos outros. 
17 de junho 
100 mil nas ruas de São Paulo, sem violências policial: resultado de acordo do MPL com as autoridades. Itinerários cumpridos sob a vigilância da polícia e de cada um sobre todos. Compareceram apartidários, partidários e antipartidários. Por todos os lados cartazes contra corrupção, hashtags, bandeiras do Brasil vestindo os corpos, tudo em favor de um Brasil melhor. Máscaras do Anonymous sobre os rostos, caras pintadas, narizes de palhaços. Depois de concentrados rumaram por três trajetos diferentes. Tudo acabou em paz! Exceto pela invasão do Palácio do Governo!!!!! 
17 de junho no brasil 
Reprise do 13 de junho em São Paulo com seus particulares eventos repressivos... 
depois de 17 de junho no brasil 
Reprise de São Paulo? 
o que virá? 
O MPL pressionou os governos estadual e municipal e contou com o Ministério Público que propôs suspender o aumento de 20 centavos por 45 dias. As autoridades executivas rejeitaram. Novas negociações serão agendadas com pauta única: revogação do aumento da tarifa. Entre palavras de ordem exigindo transparência e fim da corrupção, postagens em blogs, tweeter, instagram e facebook, certa simpatia pela polícia, a reiterada ausência de lideranças e uma anunciada ampliação das reivindicações para as áreas de saúde e educação, tudo marcha para uma solução ordeira até um novo inesperado. Enquanto isso resta nos ouvidos o som vigoroso do VAI TOMAR NO CU: Haddad, Alckmin, Dilma, Datena, Jabor, helicópteros... 

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