inspire a generation
Final de Olímpiada. Em alguns cantos, como no aro da cesta de basquete, lia-se inspire a generation, palavra de ordem da Wildfowl & Wetlands Trust (WWT). As transmissões televisivas e os seus anunciantes não cansaram de divulgar a importância da família tradicional, adicionada de sempre honestos agradecimentos religiosos pelos atletas brasileiros. Ficaram as esperanças para o Rio de Janeiro. Ficaram as surpresas de sempre: desta vez foi o boxe, com seus lutadores proletários, reforçadores da família e das religiões. Sem surpresa! A novidade mesmo veio com as recomendações para o futuro que queremos do desenvolvimento sustentável, que se modula pelos refinamentos e restaurações de instituições tradicionais e do patriotismo antes de tudo. Como a WWT, milhares de agências esforçam-se para educar as crianças e ajustá-las ao meio ambiente, como fórmula moral para a green economy.
vida como jogo
Na vida como nos jogos enfatizam que devem existir somente adversários. Estes sempre serão a fonte dos jogos, como sublinhou, desde o início das Olimpíadas modernas, o barão de Coubertin. Na vida, ao contrário, há inimigos, por mais que se tente com sustentabilidades, ou não, fazer crer que eles deixaram de existir. Tratar a vida como jogo de adversários é revestir de equilíbrio e dignidade as assimetrias.
os mascates da miséria, mais uma vez...
A última edição de “pesquisa-survey” aplicada regularmente há cerca de uma década junto a adultos e acrescida dos resultados relativos ao ano de 2010 conclui: “quem é vítima de punições quando criança tem maior chance de se tornar uma vítima na idade adulta”. Balizados pelo velho discurso da vitimologia, repaginada pelo rentável conceito de vulnerabilidade, e vinculados a núcleo de pesquisa, estes pesquisadores deliberadamente omitem e pretendem destorcer, o óbvio. É preciso eleger a vítima sem arranhar a continuidade do consenso sobre o uso da força contra crianças e o domínio do corpo mais forte fisicamente justificado pela moral para o êxito circunstancial da reforma das mesmas instituições. O conceito de vítima e de vitimização não se confunde com a noção de violentados. Pequena e abissal diferença que, destemida e sem concessões afronta o insuportável: a continuidade do regime dos castigos da qual também se nutrem os mascates da miséria e dos direitos.
pureza
Pesquisa realizada pela polícia paulista constatou que mais da metade dos comprimidos de ecstasy confiscados no estado tem de tudo, menos ecstasy. O MDMA, princípio ativo dessa droga, aparece pouco, ladeado por outras tantas substâncias como anfetaminas, metanfetaminas, cafeína e até anestésico de cavalo: a maioria delas com venda legal no país. Para os policiais, a identificação desses componentes pode aumentar a capacidade de rastrear e prender fornecedores e traficantes. Para os profissionais da saúde pública, a descoberta evidencia o perigo do consumo do pseudo-ecstasy nas baladas noite afora. Para uns, mais oportunidades de apreensões; para outros, maiores preocupações com a saúde de ‘jovens desavisados’.
mal à saúde!
A constatação dessa ‘pesquisa’ é uma velha novidade. Cocaína, LSD, heroína e até maconha são cotidianamente adulterados para render mais para quem vende. Na ilegalidade, quem dá as cartas é o traficante; e quem consome não tem ideia do que compra e usa. Por isso, muito das overdoses e demais problemas derivados do uso de drogas acontece por conta das misturas de outras drogas ou da irregularidade nas concentrações reais da substância desejada. Há cem anos, a proibição das drogas se justifica como medida para salvar a saúde das pessoas; mas não há nada mais prejudicial à saúde de quem consome do que a proibição.
lote de legalização
No atual reformismo que virou moda entre especialistas em drogas, tornou-se usual recriminar a proibição pelos males à saúde dos consumidores. Então, a recomendação geral é legalizar, transferindo o controle da produção e venda de drogas para o Estado ou para o mercado. A legalização estatizante ou liberal operaria, no entanto, um deslocamento: o consumidor deixaria de ser achacado por traficantes e polícias e passaria a ser controlado, dependente e monitorado pelo Estado e por empresas. Essas propostas angariam partidários porque fazem antever a potencialização do controle e governo sobre os usuários ou porque anunciam ótimos negócios futuros. Por isso, a legalização entra nos papos moderninhos e socialmente responsáveis de acadêmicos e da mídia.
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