quem é o dono?
Na América Latina um grupo de e-mails coordenado por El Libertario, da Venezuela, existe há mais de 15
anos como fórum pelo qual circulam informações de diferentes grupos, associações, publicações, editoras e
jornais do continente. Por ele passam a diversidade das lutas, produções e experiências dos anarquistas
latino-americanos. Na última semana esse fórum foi excluído da rede A-Infos, com sede na Espanha, sob a
alegação de não corresponder aos “princípios” da dita rede, que alega ser classista e popular. Num momento
em que os amigos da Venezuela enfrentam extremas dificuldades financeiras e uma repressão cada vez mais
brutal do governo bolivariano, a conduta do A-Infos, expressa um exclusivismo nada libertário. Serão os
militantes da A-Infos os donos do verdadeiro anarquismo ou apenas crentes em sua forma correta e exclusiva
de praticá-lo e divulgá-lo? Como para o governo da Venezuela, o pastorado deve seguir o ideário do pastor.
anarquia em kobane
Kobane, norte da Síria, região de Rojava. A defesa intransigente curda contra as forças da ordem vai muito
além da ação do peshmerga — que é liderado pelo presidente do Curdistão iraquiano—, responsável pela
captura de Saddam Hussein e do líder da Al-Qaeda Hassan Ghul, informante principal para a Operation
Nepturne Spear que matou Osama Bin Laden. Seus militantes também são combatentes governamentais
contra o ISIS (Estado Islâmico —EI) e recebem apoio dos EUA. Entretanto, há dois anos uma revolução
aconteceu em Rojava. Os anarquistas da Ação Revolucionária Anarquista — Devrimci Anar ist Faaliyet, ou ş
DAF — introduziram relações horizontais, fomentam a proximidade entre etnias, combatem o islamismofundamentalista e compõe uma muralha humana contra o avanço do ISIS que provocou sua primeira grande
derrota. Trata-se de uma resistência à flor da pele contra o Estado turco, a dissimulação do governo da Síria
quanto ao EI, os interesses capitalistas, a contínua repressão aos curdos e ao ISIS. Mas acima de tudo, a
invenção de uma nova forma de vida que pode reverter o nostálgico e embolorado sonho nacionalista curdo.
10 anos... e as mortes continuam
Há dez anos a missionária Dorothy Stang foi assassinada por pistoleiros a mando de latifundiários no Pará. A
placa em sua memória colocada em 2009, encontra-se hoje crivada de balas para lembrar quem e como se
manda ali. Dorothy lutava pelos assentamentos Esperança e Virola-Jatobá, reconhecidos pela União após
sua morte. Mas as mortes não cessam na região. O Pará é o estado que concentra o maior número de
mortes motivadas por disputas de terra, além dos desmatamentos promovidos pelo agronegócio. Pouco
importa o resultado jurídico do processo sobre sua morte. Dez anos depois, lembrar a execução é não
esquecer que as commodities, orgulho da balança comercial brasileira, são papéis que chegam às bolsas de
valores do planeta lavados em sangue.
baderneiros?
No Paraná uma mobilização de professores, estudantes e funcionários públicos barrou o pacote de ajustes
que seria votado essa semana na câmara estadual dos deputados. Os manifestantes questionavam as
prioridades do ajuste, que cortava direitos trabalhistas de professores, como o terço de férias, mas não tocava
nos aumentos e benefícios de deputados, secretários e cargos comissionados. A única reposta do governo do
Paraná foi chamar os manifestantes de baderneiros e colocar a Tropa de Choque contra eles na entrada do
edifício da Assembleia Legislativa. Para o governo, a ordem das coisas deve ser mantida.
olha o ditador aí, gente!!!
Não é de hoje que sambas-enredo são vendidos e comprados no carnaval carioca. Esse ano, no entanto,
uma novidade. Uma famosa e vencedora escola de samba, que nos anos 1970 fez enredos enaltecendo a
ditadura civil-militar brasileira, recebeu uma encomenda: cantar as maravilhas da Guiné Equatorial. A
pequena ex-colônia espanhola na África é rica em petróleo e tem um dos povos mais miseráveis submetido a
um dos ditadores mais ricos do planeta e que é freguês de empreiteiras brasileiras agenciadas por ex-presidente.
Negócios à parte, esse ditador é fã do carnaval do Rio. Daí, a ideia de comprar um enredo por
alguns milhões de reais. Uma pechincha para alimentar seu ego revestido de cultura africana. Na
transmissão da TV, entre efeitos especiais, coreografias e mulheres siliconadas, a ditadura de lá, ecoando
autoritarismos daqui, acabou normalizada entre comentaristas simpáticos e reportagens espertas. Tudo isso
coroado por um samba-enredo que exaltou o negro guerreiro africano e a sua liberdade embalados pelo
exotismo colonizado e politicamente correto. Eis o negro africano vendido como o guerreiro por natureza e
vítima genérica adocicada pelo multiculturalismo. E, assim, o ditador virou, simplesmente, mais um
patrocinador, enquanto os passistas ricamente ornamentados declaravam seu orgulho à TV e ejaculavam na
passarela seu amor à obediência. Chora cavaco!
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