mais do pior
Na semana que passou, foi aprovado no Congresso um projeto de lei que modifica a Lei de Drogas, de 2006. Dentre as alterações, está o aumento da pena mínima para tráfico (de 5 para 8 anos) e a autorização para a internação compulsória de usuários. No grotesco debate que antecedeu a votação, deputados mostraram pó de giz fazendo as vezes de crack, clamaram por mais punição e mais tratamento, lançaram loas ao futuro das crianças da nação. Enfim, avançou a atual articulação entre segurança e saúde, presente desde o início do proibicionismo, mas que agora se rearticula, envolvendo polícia, humanitarismo, punição e medicalização. Os militantes, organizados em marchas e congressos, ficaram com o sorriso amarelo... Tinham apostado alto nas pressões por uma revisão mais branda dessa lei. Os ouvidos da presidência e dos parlamentares, no entanto, continuam afinados com o controle e punição. O proibicionismo muda, mas não para longe dos castigos. Ele contempla e reacomoda progressismos, ou melhor, ele os captura e domestica. fuck for the fore$t
Criada no meio da década passada, a ONG ecológica Fuck for the Forest, conhecida por disseminar slogans como salvar o planeta é sexy ou porque não ter tesão por uma boa causa?, arregimentou nos últimos anos cerca de mil militantes. Sustentada pela colaboração financeira de simpatizantes, doações de fotos sensuais realizadas em áreas de preservação, a ONG que financia, inclusive, projetos ecológicos na América do Sul, reivindica a atenção para a sexualidade e a ecologia como nossa natureza como humanos. Não foi surpresa esta ONG ser celebrizada recentemente em documentário. Certos corpos nus tornam-se, pouco a pouco, carteirinhas de filiação a organizações profissionais de protestos alternativos. Ao que tudo indica, o Fuck for the Forest não vem acompanhado do gozo do Fuck Capitalism.
a solução
Em sua terceira edição, a Marcha das Vadias de São Paulo levou cerca de mil pessoas às ruas para “quebrar o silêncio” de mulheres violentadas. Neste ano, pela primeira vez, viu-se na marcha, para além dos seios nus, corpos pintados e cartazes bem humorados que as caracterizam, bandeiras partidárias e gente uniformizada. Aos poucos, os gritos de guerra que, ao seu modo, afirmam o gozo dessas garotas apartado das caquéticas reivindicações por segurança, deram lugar à ladainha partidária, identitária, à reclamação por mais direitos e muita punição. Foi distribuído um panfleto — “violência doméstica: manual de resistência da mulher” — que ensina às mulheres como se proteger: discar para o 180 (central de polícia especializada em atendimento à mulher). Assim é impossível produzir resistências, mas somente exercitar denúncias!
marchando, não importa o tom
No final da marcha, concentradas na bem policiada praça dos alternativos, elas bradaram palavras de ordem por seus representantes e novas penalizações. Afastado da algaravia, um pequeno grupo se formou em torno de um megafone a disposição de quem quisesse falar sobre o problema do estupro. Ouviu-se algumas histórias de pessoas que passaram por essas violências. O pequeno grupo propunha criar conversas em vez de repetir palavras de ordem. Entretanto, a conversa não aconteceu e o espaço ficou restrito à emissão de opiniões. E mais uma vez, o que poderia ter se tornado uma conversa foi reduzido a um mero guichê de reclamações.
sigla identitária ou uó do penacho colorido
A busca incessante por visibilidade levou o movimento homossexual a gerar e instituir siglas. Primeiro foi o GLS – gays, lésbicas e simpatizantes. Depois, travas e transex reivindicaram seu lugar, o simpatizante virou purpurina ou assumiu a posição de bissexual. A sigla passou a ser: GLBT – gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais. Insatisfeitas, as lésbicas reivindicaram que o L deveria inaugurar a sigla, agora, LGBT. Para incluir tudo, todas e todos, chegou uma nova alteração: LGBTQI – lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, queer, questionando, intersexo, afins e aliados. Ui! Tá bom ou achou pouco? Ainda não encontrou uma letra que te inclua?
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