a hipocrisia do delator e uma decisão estulta
Cinco jovens são expulsos da residência estudantil do campus de Ciências Humanas da Unesp de Araraquara. A decisão promulgada pela congregação da universidade na última semana os acusa de atentar contra a moral e os bons costumes, sob a alegação do exercício de “sexo grupal”. A saúde da prática de vida livre é tornada pecado, violação e crime sob os olhos invejosos e ciumentos de um delator pentecostal. A alegria e o prazer descomedido tornam-se agressão e ofensa aos hipócritas do campus.
a estúltice da moral
Este acontecimento não diz respeito à conveniente separação burguesa entre público e privado e seus direitos correlatos. Pois é assim que também que se refazem as edificações criminais. Dentre elas, a distinção entre atentado violento ao pudor e atentado ao pudor. Quando o primeiro se refere à prática de sexo anal e o segundo à práticas sexuais e libidinosas que podem ir de um beijo descarado a um amasso descomedido e a uma trepada escandalosa fortuita ou escancarada. Deixemos a cretinice de lado e que corram livres as experimentações de corpos de cada um com cada um ou com quantos quiserem e forem afim. E isto também é algo muito distante da construção liberal do corpo como propriedade e do patrimônio como extensão de seu corpo enquanto primeiro bem privado. Pois isto apenas favorece aos defensores dos direitos universais como diluição de cada um em benefício de suas políticas de segurança e da defesa dos proprietários.
e viva o sexo solto!
E basta de polícia cotidiana sobre o sexo e estados alterados, na dissimulação hipócrita mal disfarçada do soturno de seus próprios desejos. Não existe sexo livre e seguro. E que viva o sexo solto! O resto é cópula moral adestrada.
o que importa?
Em todo filmete de polícia americano, a apologia à moral do castigo aparece embalada no “direito de permanecer calado”. Hoje em dia, para o acusado de terrorismo isso não vale, mesmo sendo cidadão estadunidense. Assim, ainda internado, o irmão tchetcheno-americano sobrevivente foi interrogado. Teria assumido a coautoria dos atentados e alegando ser um protesto contra as guerras do Iraque e do Afeganistão. Mas não importa. A “motivação política” tem sido buscada com insistência pelas autoridades, enquanto especialistas dizem que as bombas na panela de pressão eram sofisticadas demais para terem sido feitas sem ajuda de alguma rede terrorista internacional. Também não importa. “O que foi que aconteceu?” é a pergunta que autoridades políticas fazem para produzir inimigos e ativar práticas de governo. O direito da força legisla definindo o que foi que aconteceu e, a partir daí, põe em movimento controles, rastreamento e localização de pessoas, informações e imagens dentro e através das fronteiras nacionais.
o coro dos cansados
Na última semana, as marchas pela redução da maioridade penal se conectaram aos debates razoáveis promovidos pelas mídias e seus especialistas. Ex-governador, prefeitos, psicanalista com coluna semanal no jornal, promotores, psiquiatras, neurocientistas, advogados e tantos outros canalhas titulados falam de soluções e alternativas para engrossar o coro dos 93% que, segundo o Datafolha, são favoráveis à redução da maioridade penal para 16 anos. Uma horda volumosa que se escora em argumentos ditos inquestionáveis pela necessidade de atualizar a lei. Formam o coro dos cansados, que por preguiça se agarram na primeira solução-opinião que passa na porta.
eles querem trancar os jovens e jogar a chave fora
Uns falam em mexer na constituição, outros em aumentar o tempo de internação e facilitar a internação compulsória. Esta, utilizada como solução de jurisprudência para manter trancado, há dez anos, o jovem Roberto Aparecido Alves Cardoso, vulgo Champinha, que se encontra junto a mais seis jovens, na Unidade Experimental de Saúde, chamada também de limbo jurídico que deve ser regulamentado por uma revisão no ECA. O novo-velho argumento é que se eles podem votar e mudar de sexo antes dos 18 anos, podem ser presos. O debate frio e arrazoado não esconde a repulsa da sociedade e seu desejo de trancar e jogar a chave fora. Apenas reitera que a cultura do castigo tem nas crianças e nos jovens seus alvos privilegiados. Sua pregação da razão é invólucro de uma sociabilidade autoritária que destila sua hipocrisia atacando sempre os que julgam inferiores. A horda de linchadores avança, mas não sem a resistência de quem sabe que a vida é impossível sem a coragem de enfrentar o inesperado e o desconhecido, ainda que estes se apresentem tragicamente.
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