às guerras, NÃO!
No rescaldo das ações em Paris, reivindicadas pelo Estado Islâmico e que culminaram com a morte
de mais de uma centena de pessoas, alguns anarquistas que vivem na França, integrantes do
Alternative Libertaire, apresentaram um texto singular que destoou das reivindicações de
movimentos organizados ligados à política. Consideraram abominável a chacina reivindicada pelo EI
e explicitaram a dissimulação das “declarações de guerra” professadas pelo atual presidente francês.
Os anarquistas mostraram que o sangue derramado pelas ruas da cidade é precisamente um dos
efeitos diretos das guerras na Líbia, no Mali, na Síria, conflitos que o governo produz e sustenta há
longo tempo. A atitude ferrenha e enérgica dos anarquistas atualizou um notável combate contra a
guerra e a sua sintaxe.
inventar vidas
O renhido antimilitarismo afirmado pelos anarquistas não se restringiu ao combate às retaliações do
governo francês e demais autoridades mundiais. Frente ao “estado de emergência”, os libertários
convidaram as pessoas a ocuparem as ruas em vez de deixá-las nas mãos do Estado. Afirmaram,
novamente, uma rara coragem, visto que o convite visou, sobretudo, impedir que o Estado, em nome
da sua segurança e apoiado por sedentos fascistas, massacre homens e mulheres identificados
como suspeitos. Em pleno século XXI, o não às guerras dos anarquistas segue com potente
vitalidade. Homens admiráveis afirmam: onde houver um funeral, cabe aos anarquistas inventarem a
vida.
livres da UE, USA, EI...
Há pouco mais de três anos, nas fronteiras entre a Síria e a Turquia, homens e mulheres anarquistas
resistem ao Estado Islâmico e ao governo de Assad, praticam a autogestão, convivem com o que
chamam de diversidade curda, reinventam costumes. Livres do EI e dos estímulos da UE e dos USA,
expõem que os principais envolvidos na “luta contra o terrorismo” não figuram nas manchetes de
grandes jornais e blogs de intelectuais alpinistas. E vejam só como são as coisas: os senhores do G-
20 se reúnem na Turquia, país cujo governo oportunista aliou-se ao EI para dizimar as experiências
em Kobane e em povoados ao norte da Síria. Os anarquistas resistem.
disputas pelo petróleo
Os atentados terroristas e a guerra ao terror parecem mais o jogo entre o herói e o vilão que se
alimentam mutuamente. O combustível para tal parece ser o bom e velho ouro negro, ponto de
interesse comum entre ambos os lados. Mas, diferente dos filmes enlatados, heróis e vilões mudam
de lado conforme a perspectiva da guerra. Anos antes do famoso september eleven, declarava-se
guerra contra o Iraque de olho no petróleo de Kuait. Algumas décadas mais tarde, escorados nos
atentados da Al-Qaeda, a coalizão liderada pelos Estados Unidos declarou uma inconsistente
“Guerra ao Terror” e aterrorizou o Iraque pela segunda vez, apoiou “insurgências” na Síria e na Líbia
e deixou, no lugar dos regimes autoritários, o caos.
espirais sem fim
Após o atentando em Paris, o presidente russo vai a público e diz ter provas de que as atividades do
EI são financiadas pela venda de petróleo e derivados a dezenas de empresários, muitos deles
integrantes de países que compõem o G20. No mesmo pronunciamento, conclama os EUA a juntar
forças (armadas) contra o EI. Em uma elipse perigosa, a cada ataque o ocidente se indigna e
promete retaliação quase que instantaneamente. Em seguida, brotam do chão outros homens
bombas para explodirem o cotidiano de alguma capital que simbolize a potência do ocidente. Depois,
outra retaliação violentamente desmedida e imediata que passa como rolo compressor por culturas,
estruturas e tantas outras vidas no território do oriente médio que pouco têm a ver com os soldados
do EI. E, como uma espiral sem fim, impulsiona-se atentados e retaliações sangrentas em razão
exponencial.
zero de conduta
Como resposta à chamada “reorganização escolar” imposta pelo governo do estado de São Paulo,
jovens secundaristas ocuparam dezenas de escolas paulistas. O governo respondeu como esperado
e enviou as chamadas tropas de choque para a porta de algumas unidades de ensino. Durante
quase uma semana, os estudantes experimentaram práticas que, para desespero de autoridades,
nenhum governo pode conter. “O Estado pode vir quente que a gente está fervendo”, cantaram em
frente a uma das escolas. Em outra, homenageada com o nome de um notório canalha celebrado
pela História como herói, estamparam: “Fora Fernão Dias bandeirante assassino”. Agora, resta saber
se os jovens vão se escolarizar em algum Movimento ou se farão como na sequência de “zero de
conduta”, filme do anarquista Jean Vigo, e, alegremente, escaparão rumo a outros espaços.
ora, horas
Uma cidade inteira riscada do mapa. O Rio Doce morto. Militantes, ONGs e pesquisadores falam em
ecocídio – termo sugerido por Murray Bookchin para descrever o novo totalitarismo capitalista, embora essa procedência anarquista seja omitida. Fala-se em responsabilização, embargo, multa,
reparação. Diante da produção de mais um “sujeito vitimado”, a linguagem jurídica é dominante. Não
há como reparar ou restaurar o que fez a principal atividade econômica do país, da colônia aos
nossos dias. A disputa judicial apenas formaliza o ridículo de pentecostais na cidade de Colatina
fazendo uma sessão de “descarrego” para curar o rio ou das vigílias e das preces, ali, aqui e acolá.
Trata-se de decidir como queremos viver! Como disse um simples homem do campo: tudo acabou
em duas horas de relógio.
ação direta
Os guerreiros krenak partiram para ação direta: bloquearam a ferrovia que liga os postos de
coleta de minério às usinas de pelotagem e ao Porto de Tubarão em Vitória.
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